Deveria ser mais uma quinta-feira rotineira para André Janke, de 37 anos, mais conhecido como Kiko. Antes de sair de casa, assim como ocorria todas as manhãs, tomou café com a companheira e se despediu dela com beijo e as palavras: “te amo e até a noite.”
Cerca de cinco minutos mais tarde ele passava pelo Km 05 da SC-421, no trecho conhecido pelos pomerodenses como “Curva do Tiedt”, quando um acidente interrompeu a possibilidade de um novo café da manhã ao lado de seu amor e transformou o “até a noite” em uma eterna saudade.
A colisão frontal aconteceu por volta das 7h do dia 05 de setembro. Kiko sofreu ferimentos gravíssimos e chegou a ser encaminhado ao hospital, mas não resistiu. A motorista do outro veículo envolvido também ficou gravemente ferida e segue internada.
Uma curva, muitos perigos
O trecho em que Kiko perdeu a vida já registrou quatro acidentes de grande porte somente em 2024 (conforme números da Polícia Militar Rodoviária Estadual). Três deles resultaram em vítimas gravemente feridas.
Apenas um dia após o acidente fatal envolvendo o morador de Pomerode, no dia 06 de setembro, uma carreta que transportava arroz tombou depois que o motorista perdeu o controle da direção no mesmo local.
O veículo de carga atingiu um poste deixando algumas ruas das localidades de Testo Central e Ribeirão Herdt sem energia. Inicialmente também havia sido registrado um pequeno vazamento de diesel, controlado pelas equipes de resgate. Felizmente, nessa ocasião, não houve feridos.
Mas não é de hoje que os acidentes naquele trecho impactam a cidade, seja pelos transtornos ou pelas perdas irreparáveis. Em 28 de outubro de 2023 uma jovem de apenas 17 anos, identificada como Beatriz de Oliveira Pacheco, morreu após uma colisão envolvendo dois veículos. Naquela ocasião, outras cinco pessoas ficaram feridas.
A repetição de tragédias no local fez com que a população e a sociedade civil organizada se mobilizassem em uma campanha que pretende cobrar soluções para aumentar a segurança no local.
Em curto prazo, uma carta que será entregue ao governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, pede que o trecho seja amplamente sinalizado, além de ter algum instrumento redutor de velocidade implantado. Já como uma ação de médio prazo, a solicitação é para que seja corrigida a inclinação da pista naquele trecho, apontada como uma das principais responsáveis pelos acidentes.
Fazem parte dessa mobilização entidades como Acip, CDL, Bombeiros Voluntários de Pomerode, Prefeitura, Grupo Escoteiro, Resh, voluntários, empresários e veículos de imprensa da cidade, incluindo o Jornal Testo Notícias. Siga, divulgue e compartilhe a página @campanhasc421.
Homenagens em meio à saudade
Naira Erna Vierbrantz Medeiros, companheira de Kiko, conta que os dois se conheceram a pouco mais de cinco anos. “Ele era uma pessoa incrível, parceiro em tudo e muito amoroso. Tinha um cuidado extremo por mim e eu por ele, pois muito além de sermos companheiros éramos muito amigos.”
Ela conta que no dia do acidente tudo transcorria normalmente. “Como em todas as manhãs nesses mais de cinco anos, tomávamos café juntos. Antes de sair, ele me abraçava, dava um beijo e dizia: eu te amo e até a noite. Nesse dia não foi diferente.”
Naira recebeu a notícia do acidente através de um grupo que a família mantém em um aplicativo de mensagens. Segundo ela, um sobrinho passava pelo local e viu que Kiko havia sofrido o acidente. “Não quis acreditar, precisei ir ver pessoalmente, pois fazia apenas cinco minutos que ele havia saído de casa.”
No local, Naira soube que Kiko estava consciente e muito agitado, mas foi apenas no hospital que foi informada da real gravidade do quadro. “O desespero foi muito grande em saber que ele corria risco de morte pelos graves traumas.”
Infelizmente Kiko não resistiu e faleceu no dia seguinte. Naira havia ido até em casa para tomar um banho rápido, mas não houve tempo para voltar. “Eu soube pela minha cunhada que estava lá na hora, esperando ele ser transferido para uma vaga de UTI. Nesse trajeto de mudança ele não resistiu”, lamenta profundamente.
Como tudo ainda é extremamente recente, Naira ainda está lidando com todos os sentimentos e lembranças. “Perdi um amor, um amigo, um companheiro. Ainda não acredito em nada disso, penso que ele vai chegar buzinando e dizendo: ‘amor vô ali jogar uma bocha, em meia hora estou de volta’.”
A perda de Kiko foi muito sentida não apenas pela família e amigos, mas também pelos colegas de trabalho e por toda a cidade. Aureci Gelsleichter, último chefe do Kiko, ressaltou que ele ensinou muito a todos. “Um funcionário dedicado que se relacionou muito bem com os colegas de trabalho e com os clientes, sempre de bem com a vida. O Montanha, como era chamado na empresa, fará muita falta, mas nos deixou belas lembranças!”
A visão de quem socorre as vítimas dos acidentes
O bombeiro voluntário Carlos Eduardo Demuth relata que todas as ocorrências atendidas na “Curva do Tiedt” acabam marcando aqueles que lutam para socorrer os feridos. “É difícil passar exatamente uma ocorrência que tem um destaque, porque todas elas têm uma dinâmica diferente”, explica.
O local representa ainda um desafio para os socorristas. “O que mais nos preocupa quando atendemos uma ocorrência naquele trecho, é a segurança do local. É uma curva bem acentuada, onde você tem pouco espaço de resgate. Então essa é uma dificuldade enorme que a gente tem”, revela.
A equipe do Testo Notícias se solidariza com a família, amigos e colegas de André Janke. Assim também, desejamos nossos mais sinceros sentimentos aos familiares e amigos de todas as vítimas de acidentes ocorridos naquele local.
