Confira a primeira parte no link: https://goo.gl/86junT
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Para o Dr. Ivan Seibel, o uso de vestido de noiva branco naquela época, representava um sério problema com a limpeza. Um vestuário branco era pouco prático e até um futuro processo de tingimento com uma cor mais escura estava praticamente inacessível para a absoluta maioria das mulheres da época. Ao contrário, os de cores mais escuros mais facilmente podiam ser lavados e mantidos apresentáveis. Há outras fontes na literatura que citam o véu branco como o verdadeiro símbolo do casamento. Neste aspecto pode ser lembrado um fato no mínimo curioso e que até a década de 1950 era bastante comum nas comunidades pomeranas do interior do Espirito Santo: o véu branco representava a pureza da noiva, ou seja, da noiva virgem prestes a entrar no casamento sem ter sido “tocada” por um homem. Alguém de um “passado nebuloso” entrar de véu e grinalda brancos na igreja constituía uma desonestidade. E se acontecesse disto ser descoberto depois do casamento tinham que fazer penitência (Buse machen). Normalmente a noiva se enfeitava com uma fita verde na cintura e uma grinalda de murta, costume trazido da Pomerânia e cultivado também no Brasil. A fita verde na cintura simbolizava a fertilidade e uma reverência ao deus Triglaw, da floresta, que o povo pomerano cultuava nos santuários dos povoados de Sttetin e Wollin, antes da chegada do cristianismo no ano 1000, pelos missionários dinamarqueses. Para o advogado Jairo Scholl Costa o casamento pomerano ainda tem componentes da tradição wende-pomerana da era pagã. Segundo a pesquisadora Angelina Wittmann, no catolicismo romano a cor preta também ganhou notoriedade no modo de vestir feminino, na Espanha do Século 16. O preto estampava vestidos sóbrios e longos registrados em pinturas, onde quase sempre elas tinham a bíblia nas mãos. Wittmann afirma que a adoção do vestido de noiva branco é muito recente. Foi utilizado pela primeira vez em 1840 (dez anos antes dos primeiros pomeranos chegarem ao Vale do Itajaí), quando a Rainha Victória da Inglaterra se casou com seu primo – o Príncipe Albert. Este vestido chamou muita atenção, sendo copiado pelas noivas em todo mundo, tornando-se tendência. Já em 1854 (A Colônia Blumenau tinha quatro anos de fundação), o Papa Pio IX proclamou que as noivas deveriam demonstrar através do traje branco, a Imaculada Concepção assim como Maria a Imaculada. Essa fala papal, estabeleceu para a noiva do Romantismo um padrão católico e cristão que se estende até os dias atuais. Passando a ser o símbolo da pureza sexual e do ideal virginal proposto pelo Cristianismo. Diferente do atual “pretinho básico” que é somente uma peça casual no guarda roupa das mulheres, o vestido preto era uma peça valiosa para as pomeranas, utilizado apenas em ocasiões especiais. O vestido preto simbolizava muito mais do que uma festa de casamento, como o atual vestido branco que lembra o conto de fadas da Cinderela. A noiva pomerana passaria a utilizar o vestido de casamento nos principais ciclos da vida após o casamento: a maternidade, pois eram abotoados na frente para amamentação, Natal, Pentecostes, Páscoa, batizados, enterro de familiares e mais recentemente para registros fotográficos. Ao retirar o vestido preto de seu armário, a mulher pomerana se recordava dos principais eventos que marcaram sua vida. Esta peça adquiriu um grande valor sentimental, que o vestido de noiva branco dificilmente irá alcançar.
Imagens
Foto: Acervo família Krüger
Casamento de um dos filhos do Imigrante Pomerano Borchardt na cidade de São Lourenço do Sul (RS). A noiva com seu vestido preto.Foto: http://pomeranosnoesifes.blogspot.com.br/2015/08/
Simulação de casamento de Pomeranos no Espírito Santo. Note a noiva de preto com sua fita verde na cintura e a grinalda de murta.Foto: http://www.belgard.org/Ortsgesch/Kluetzkow.htm
Casamento na Pomerânia já com o uso do branco pela noiva. Casaram Ewald Rahn e Grete Ewald na vila de Klützkow no Kreis de Belgard.Foto: https://br.pinterest.com
Albertina Krüger e seus filhos na Pomerânia (Schivelbein) em 1916. Note a predominância do preto para as vestimentas de toda a família.