Sem corpo mole, o dia desses dois irmãos começa antes do nascer do sol

Força de vontade: Marcos se esforça todos os dias dando o seu melhor no trabalho.
Há 10 anos a mesma rotina e, o que mais permanece, é o comprometimento com a responsabilidade de honrar o trabalho.
São quatro horas da manhã, o dia ainda não amanheceu e já tem cheiro de café passado no terreno onde moram os irmãos Marcos e Magrit Mohr. Cada um em sua casa, junto da família, se preparam para mais um dia de muito trabalho. Os dois seguem juntos para o local diariamente. Marcos tem 39 anos, é casado e pai de família. Magrit, mais nova, com 38 anos de idade, também casada e é mãe.
Michele utech/
Eles têm algo em comum além do sangue, ambos trabalham na mesma profissão na Usina de Reciclagem do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), em Pomerode.
Tudo começou com o patriarca da família, Mário Mohr que já trabalhava na usina quando ocorria o recebimento do lixo orgânico. Em seguida, no ano de 2005, Marcos também ingressou na profissão ao lado de seu pai, no caminhão. “Eu estava sem serviço. Meu pai disse que iria falar com o chefe dele e conseguir uma vaga para mim, e conseguiu”, explica Magrit, recordando o início das atividades na usina, no ano de 2008. No ano seguinte, o Samae passou a receber apenas os reciclados e foi nesta fase que Marcos, Magrit e Mário fizeram concurso público para garantirem suas vagas.
O começo não foi fácil. “No início ainda recebíamos lixo orgânico aqui, então era mais complicado, pois o lixo chegava todo misturado e junto dele tinha muito bichos mortos”, relembra Magrit.
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Os anos foram passando e os irmãos se depararam com uma grande mudança na rotina profissional e, principalmente, uma grande perda em suas vidas. O grande incentivador e também chefe da família, Mário faleceu em casa enquanto dormia abraçado com a esposa e a neta, filha de Magrit.
Mário teve um infarto fulminante, deixando de forma precoce a família e o trabalho, onde sempre foi referência para todos. “Meu pai e eu trabalhávamos juntos no caminhão. Ele desempenhou as atividades até o dia que antecedeu a sua morte. Ele faleceu no dia da sua folga, pois a minha mãe faria uma cirurgia e ele estava lá para cuidar dela”, comenta Marcos.
“Quando eu retornei ao trabalho após a morte de meu pai e me deparei com o caminhão subindo pela primeira vez na usina, eu chorei muito, pois sentia que ele apareceria a qualquer momento atrás do caminhão, mas ele não estava mais lá. Trabalhávamos sempre juntos, éramos três e a partir daquele dia, éramos apenas dois. Agora depois de todos esses anos, estamos acostumados sem ele aqui. Mas a saudade ainda é grande”, relembra Magrit, com lágrimas nos olhos.
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Os irmãos são muito queridos por todos os colegas de trabalho por demonstrarem sempre muita disposição e exibirem um grande sorriso no rosto. “O dia aqui passa muito rápido. Eu gosto muito do que faço e não me vejo fazendo outra coisa”, revela Marcos.
Diariamente são desafiados por muitas situações. Infelizmente, mesmo que o objetivo seja receber apenas o lixo reciclado, algumas pessoas ainda não têm a consciência de fazer a seleção correta dos resíduos. Além de encontrarem fraldas, comida e até animais mortos dentro dos sacos, Marcos e Magrit passam por situações ainda mais sérias. “Eu já me espetei três vezes em seringas que foram usadas e descartadas no lixo reciclado”, comenta Magrit. Seu irmão Marcos também passou por essa situação uma vez. “É muito ruim, pois precisamos passar por vários procedimentos e acompanhamento médico, tomar coquetéis de medicamento, sendo que isso poderia ser evitado”, diz Marcos.
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Aqui não tem desculpa: os irmãos Mohr trabalham de segunda à sexta-feira, das 5h da manhã até às 14h, e quando questionados sobre qual é a receita para essa disposição em acordar cedo todos os dias, sem faltas ou reclamações da vida, eles têm uma resposta firme. “Pensamos na nossa família. É daqui que tiramos nosso sustento e buscamos dar uma vida melhor para nossos filhos”, diz Marcos, empoderado. Magrit, sua irmã, concorda e finaliza. “Meu pai sempre nos ensinou a honrar e respeitar o trabalho. Se temos uma responsabilidade, precisamos cumprir ela. Quero dar uma vida digna e um bom futuro para a minha filha, é nisso que penso todos os dias”.
Imagens
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Dedicação: Magrit trabalhando na coleta da esteira.Foto: Michele utech Foto: Michele utech
Força de vontade: Marcos se esforça todos os dias dando o seu melhor no trabalho.Foto: Michele utech Foto: Michele utech Foto: Michele utech Foto: Michele utech