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Memórias da Família Radünz (Raduenz)

Por Genemir Raduenz, Edson Klemann, Johan Ditmar Strelow e Cláudio Werling

Foto: Acervo Wally Koch
Registro feito em frente a casa do imigrante Wilhelm Radünz na rua dos Atiradores (Testo Central Alto). Na imagem no centro está o filho mais novo do imigrante Karl Radünz (mais alto de chapéu) e sentada ao centro sua terceira esposa Bertha Borchardt (nascida Erdmann). No entorno do casal estão filhos e enteados.

Ao desbravar a história de uma família, nos remetemos e nos conectamos com vários costumes que influenciam toda uma comunidade. O comportamento de um núcleo familiar reflete a cultura predominante daquela sociedade. Muitas famílias vivem num senso comum, e ao nos aprofundarmos sobre a trajetória dos imigrantes Radünz (Raduenz), reafirmamos a perseverança dos desbravadores, revelamos detalhes de como viviam e o legado que deixaram. Primeiramente, cabe esclarecer o aspecto na variação da escrita do sobrenome Radünz e Raduenz. Durante as guerras mundiais, descendentes germânicos na região do Vale do Itajaí sofreram relevante perseguição. A língua, a escrita e os costumes foram reprimidos e sobrenomes que continham “trema” evidenciavam a origem germânica.


Acervo Genemir Raduenz/Caroline EMILIE Augustine nasceu em 1874, casou em primeiras núpcias com HERMANN Karl Wilhelm Maass e em segunda com KARL Behling. É filha do imigrante Wilhelm Radünz.

Desta forma, registros de sobrenomes com trema feitos em cartório durante esse período, passaram a ser realizados sem o trema, se acrescentando a letra “e”, ou seja, Radünz passou para a grafia Raduenz. Nem todos os cartórios seguiam essa recomendação, por isso, atualmente os descendentes Radünz e Raduenz possuem a mesma origem. Isso ocorreu com vários sobrenomes, como Krüger/Krueger, Müller/Mueller, Lüdke/Luedke e Lüders/Lueders. Neste artigo utilizaremos a forma Radünz, considerada original. Existem registros dos Radünz em várias regiões da antiga Pomerânia, desde a capital Stettin até vários condados (Kreis) como Belgard, Regenwalde, Dramburg, Neustettin e Naugard. Os Radünz na Pomerânia, assim como vários outros imigrantes, predominantemente trabalhavam nas terras dos poderosos senhores feudais Bismarck.


Acervo Genemir Raduenz/Antiga propriedade da família Radünz localizada em frente a empresa Kyly. Na foto estão da esquerda para direita: Mario Raduenz, Wilhelm Radünz, Adela Radünz Fischer, criança e Gerhard Fischer.

Estes mantinham o domínio sobre as vilas de Külz, Jarchlin e Kniephof, ou seja, eram três vilas integradas sob o mesmo comando. O patriarca Radünz (1795 – 1864) se chamava Christian Friedrich Jacob, e por volta de 1850 laborava como diarista no pátio feudal de Kniephof. Da matriarca não há registros. Tiveram nove filhos, os quais se casaram e foram para diferentes vilas. Muitos pais e filhos jamais se encontrariam novamente, esse era um processo que ocorria com a maioria dos Pomeranos. Outra curiosidade é que os Pomeranos tinham três nomes próprios nos registros de batismo.


Acervo Genemir Raduenz/Bodas de prata do casal Wilhelm Radünz e Selma Klemann Radünz. Da esquerda para direita primeira fila: Adela que casou com Gerhardt Fischer, Irmgard que casou com Albrecht Lümke, o casal no centro, e na extrema direita Victor Radünz que casou com Ingeborg Rusch. Nos fundos da esquerda para direita: Alex que casou com Selly Maass, Mausi que casou com Erich Reinke e Jenny casada com Adolfo Siewerdt.

A explicação é de que os pais concediam aos filhos os nomes dos padrinhos/madrinhas. Observa-se que nos registros antigos de batismos da família Radünz na Pomerânia, existem vários sobrenomes entre os padrinhos: Hein, Borchardt, Zastrow, Braatz, Lüdke, Lümke, Erdmann, Weege, Kickhöfer, Viergutz, Küehl, Flemming, Schwartz, entre outros. São evidências de que os camponeses viviam em comunidade e várias famílias tinham uma relação próxima. O trabalho no campo era duro e sem perspectiva, muitos se motivaram a buscar novas terras. Dos nove filhos do patriarca Radünz, quatro vieram ao Brasil em 1866, destes, três no mesmo veleiro denominado Najade: FRIEDERIKE Luise Ernestine Radünz e seu marido KARL Friedrich Wilhelm Lüdke; Johanne WILHELMINE Louise Radünz com seu marido Johann FRIEDRICH Ferdinand Hein e Friedrich WILHELM Radünz com a esposa JOHANNE Caroline Lümke. Estes três irmãos Radünz ocuparam terras no bairro de Testo Central Alto em Pomerode e até hoje temos moradores Hein, Lüdke e Radünz nesta região. O quarto filho que veio ao Brasil, AUGUST Friedrich Ferdinand Radünz e sua esposa EMILIE Johanna Auguste Maass Radünz, chegaram posteriormente entre os anos de 1873/1875 (não há clareza do veleiro), mas também se instalaram em Testo Central Alto.


Acervo Carmen Fanny Langer Cecatto/Propriedade de Bertha Radünz que casou com Hermann Langer. Ficava localizada em Testo Salto no morro da Karsten. Bertha era filha do imigrante Johann AUGUST Wilhelm Radünz, o qual era casado com Marie Karsten, essa por sua vez filha do fundador da cia Karsten.

Avançando sobre a história dos pomeranos Radünz, vamos nos focar nos imigrantes Johann Friedrich WILHELM Radünz e sua esposa JOHANNE Caroline Lümke (ambos adotaram somente os nomes de Wilhelm e Johanne, algo comum na época, ou seja, dos três nomes próprios de batismo, somente um era adotado no cotidiano). Wilhelm Radünz, que havia sido pastor de ovelhas na Pomerânia, imigrou para o Brasil em 1866 com os filhos Johann AUGUST Wilhelm e Friedrich ALBERT Ludwig (nascidos na Pomerânia respectivamente em 1863 e 1864). Ao chegar na colônia Blumenau, deixou sua família no “barracão dos imigrantes” e foi em busca de um lote de terra. Subiu o Rio do Testo mata adentro e tinha um objetivo, o lote de terra deveria possuir um riacho para que pudesse instalar um moinho. Encontrou o que procurava em Testo Central Alto, um riacho que corta o vale e desagua no Rio do Testo (localizado na Rua dos Atiradores – ao lado da Cerâmica Klemann/Lach).


Acervo família Konell/Família de Johann HERMANN Wilhelm e Emilie MARIE Wilhelmine Lüdtke. Hermann é filho do imigrante Wilhelm Radünz e se instalou em Testo Alto. Neste registro de 1911, Hermann já havia falecido e no centro da foto está Marie rodeada de seus filhos.

Neste local, decidiu instalar seu acampamento, voltou para o Stadplatz Blumenau e adquiriu três lotes de terra desmembrados pelo engenheiro Emil Odebrecht (lotes 102b, 103 e 104). Para um jovem imigrante de 26 anos, adquirir três lotes de terra era uma ousadia. Wilhelm represou o riacho e instalou um moinho na região, iniciando de forma pioneira o beneficiamento de grãos. O imigrante Radünz também se tornou mestre de obras na abertura de estradas (Arbeitsmeister von Strassenbau) e boa parte da Rua dos Atiradores, que foi a primeira ligação entre Blumenau e Joinvile, foi coordenada pelo imigrante Radünz. Com o aumento da chegada de imigrantes na região, principalmente entre 1868 e 1875, Radünz começou a fazer uma viagem semanal com sua carroça e quatro cavalos para o Stadplatz Blumenau, de onde trazia principalmente sal, açúcar e querosene. Como já tinha um moinho, logo formou um pequeno comércio no entorno de sua residência que ficava “na beira da estrada” e próximo ao riacho/moinho.


Emilia Kreitlow/Registro das bodas de ouro de FERDINAND Karl Radünz e WILHELMINE Siewert. Ele era filho do imigrante Wilhelm Radünz. O casal ocupou terras em Benedito Novo.

Wilhelm Radünz também foi um dos fundadores de duas escolas na região, a Escola Alemã de Testo Central (Olavo Bilac) em 1870 e a Escola de Testo Central Alto (Noemi Vieira de Campos Schroeder) em 1887. Posteriormente, seu neto que também tinha o nome de Wilhelm Radünz também concedeu um terreno para a implantação da Escola Rodrigues Alves (atualmente um centro de educação infantil) na Rua Ribeirão Herdt, e ainda foi um dos fundadores da Sociedade Desportiva e Recreativa Rio do Testo (Clube Pomerode) em 1922.


Acervo Valéria Schubert/Família de Willy Fischer e Frieda Radünz. Ela é neta do imigrante Wilhelm Radünz e filha de Karl Radünz. Foto: acervo Valéria Schubert

Os imigrantes Wilhelm e Johanna Radünz tiveram mais cinco filhos no Brasil: Johann HERMANN Wilhelm (nasceu em 1868, casou com Emilie MARIE Wilhelmine Lüdtke e foram morar em Testo Alto); Johann FERDINAND Karl (nasceu em 1870, casou com WILHELMINE Siewert e se instalou em Benedito Novo); Wilhelmina BERTHA Caroline (nasceu em 1871 e casou com JULIUS Wilhelm Hermann Maass e permaneceram na região central de Pomerode); Caroline EMILIE Augustine (nasceu em 1874, casou em primeiras núpcias com HERMANN Karl Wilhelm Maass e em segunda núpcias com Karl Behling – permaneceram na região de Testo Central Alto) e August KARL Wilhelm (nasceu em 1878, casou com a primeira esposa ANNA Augusta Ottielge Viergutz, em segunda núpcias com BERTHA Viergutz e em terceira núpcias com BERTHA Borchardt – nascida Erdmann – também permaneceram na região de Testo Central Alto). O imigrante aqui encontrou grandes desafios, mas munido do espírito empreendedor, superou as dificuldades iniciais que muitas vezes pareciam intransponíveis. A determinação e resiliência, bem como a compreensão de que para a Pomerânia não voltariam mais, fez com que acreditassem que aqui na “terra nova” era o lugar onde as próximas gerações iriam construir suas vidas.


Maiko Borchardt/Casa feudal de Kniephof na antiga Pomerânia. Nestas terras o patriarca Christian Friedrich Jacob Radünz trabalhava como diarista e faleceu no ano de 1864 tendo como causa de óbito uma queda.


Michel Gustmann/Igreja na vila de Külz no Kreis de Naugard na antiga Pomerânia. Nesta igreja foram batizados em 1863 e 1864 os dois filhos do imigrante Johann WILHELM Friedrich Radünz que vieram com os pais ao Brasil em 1866.


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