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Eles não são vilões

Mesmo sem transmitir a doença, macacos são encontrados mortos com suspeita de marcas de tiros

Foto: Divulgação/Dive
Transmissão: o vírus da Febre Amarela depende do inseto, que inclusive transmite para seus descendentes.

Com a confirmação do primeiro óbito por Febre Amarela em humano em Santa Catarina pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) no dia 02 de março, a doença voltou a ser motivo de preocupação entre os catarinenses. A morte foi registrada em Balneário Camboriú.

O homem de 42 anos começou a apresentar os sintomas da doença no dia 27 de fevereiro. Ele procurou atendimento médico no dia 2 de março, quando foi a óbito.

O Local Provável de Infecção (LPI) ainda está em investigação pela área técnica, já que o paciente transitava entre Camboriú e Balneário Camboriú. O paciente não tinha registro de vacina no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI).

Outro casos em humanos

Outros seis casos humanos de febre amarela já foram confirmados no estado neste ano: Pomerode (2), Indaial, São Bento do Sul, Blumenau e Jaraguá do Sul. A SES destaca que todos os casos até agora são de homens jovens e sem registro de vacina.

Destaque para a vacinação

Por conta do cenário atual de Santa Catarina, a SES destaca a importância da vacinação contra a Febre Amarela, única forma de prevenir a doença, e reforça, mais uma vez, a importância da vacinação contra a doença, única forma de prevenção. Todos os moradores de Santa Catarina com mais de nove meses devem ser imunizados. A vacina é gratuita e está disponível nos postos de saúde.

Só temos febre amarela no ambiente silvestre

Em ambiente silvestre, os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes transmitem o vírus, e os macacos são os principais hospedeiros. Os casos humanos ocorrem quando uma pessoa não vacinada entra em contato ou mora próximo às matas e é picada por um mosquito contaminado. No ciclo urbano, o vírus é transmitido ao homem pelos mosquitos Aedes aegypti. O Brasil não registra Febre Amarela urbana desde 1942.

Arquivo/Secretaria de Desenvolvimento Rural/

Macacos

Com relação aos macacos, o Estado contabiliza 11 primatas mortos pela doença: Blumenau (3), Gaspar, Indaial, Pomerode (2), Timbó, Jaraguá do Sul, São Bento do Sul (2). Outras 122 epizootias continuam em investigação para determinar a causa do óbito.

Primatas são vítimas

No Vale do Itajaí, os pesquisadores do Projeto Bugio têm demonstrado grande preocupação com a queda brusca das populações de macacos em todas as cidades da região. De acordo com Júlio Cesar de Souza Jr., professor e médico veterinário do Centro de Pesquisas Biológicas de Indaial e do Projeto Bugio da Universidade Regional de Blumenau (Furb), existem localidades onde os animais não são mais avistados ou escutados. “Há locais onde moradores têm visto os animais morrerem gradativamente, pelo registro da diminuição do número de animais nos grupos, ou ainda pelo encontro de carcaças. Existem ainda locais onde o vírus não circulou”, afirma.

Segundo o pesquisador, o mapeamento feito pelo Projeto Bugio ocorre por meio do monitoramento de informações de óbitos e ou doentes, feito pelas Vigilâncias Epidemiológicas dos municípios da região e da Polícia Militar Ambiental. “Muitas das ocorrências entram primeiro pelo Projeto, visto que a população já o conhece. Somos solicitados em casos em que os animais estão doentes. Estamos atendendo os doentes in loco, ou os encaminhamos ao Hospital Escola Veterinário da Furb”, explica.

Além das mortes dos macacos pela Febre Amarela, a preocupação dos pesquisadores tem crescido também com o aumento dos casos de animais encontrados mortos por meio da ação do homem, com suspeita de perfurações por balas, como em registros feitos em Pomerode, no mês de fevereiro. “Os macacos são vítimas. Nenhum primata transmite a Febre Amarela a humanos e não humanos. O vírus depende do inseto, que inclusive transmite para seus descendentes. As larvas que eclodem dos ovos já nascem infectadas e transmitem no primeiro repasto sanguíneo”, ressalta.

Dr. Júlio Cézar esclarece ainda que a doença foi introduzida no Brasil por humanos, que trouxeram consigo mosquitos, os quais se adaptaram no Brasil e, em seguida, iniciaram a dispersão do vírus para os macacos americanos. “A Febre Amarela pode ser transmitida por fêmeas de mosquitos Aedes, Sabethes e Haemagogus para os primatas durante a ingestão de sangue. O que temos hoje é a Febre Amarela silvestre onde mosquitos (Sabethes e Haemagogus) que vivem dentro ou na borda de matas podem transmitir a doença. Já a forma urbana, transmitida por Aedes aegypti, não há registro no país desde 1942”, comenta.

Arquivo/Secretaria de Desenvolvimento Rural/

O pesquisador comenta ainda que não registros de surtos da doença tão evidentes na região e até em Santa Catarina como o que tem ocorrido agora. “O mais próximo foi no Rio Grande do Sul em 2009. Ainda não sabemos qual será o impacto na região para os macacos, porque não temos registros do impacto do último surto, que ocorreu na década de 1930, que possam servir como base. E também não sabemos quantos ciclos da doença haverá. Se for como na região Sudeste pelo menos mais dois ciclos de amplificação podem ocorrer. Fato que levou à extinção local da espécie em algumas regiões”.

A equipe do Projeto Bugio reforça também que espécie já é considerada ameaçada de extinção na categoria vulnerável e deve ser classificada como em perigo na próxima avaliação. “Os bugios prestam serviços ecológicos importantes como a dispersão de sementes de muitas espécies vegetais, assim como a predação de muitas plantas por seu comportamento folívoro. O desaparecimento destes animais compromete ainda a vigilância da circulação do vírus por atuarem como sentinelas, ou seja, morrendo quando infectados, e indicando a necessidade de vacinação ou outro tipo de proteção para as pessoas que não podem tomar a vacina. Além disso, estes animais são endêmicos da mata atlântica. O bugio é um animal muito carismático e que faz parte do cotidiano das pessoas da nossa região, possuindo um valor cultural e de identidade muito importante no Sul do Brasil”, complementa.

A orientação para os moradores que encontrarem macacos doentes ou mortos é para que acionem a Vigilância Epidemiológica do município. “Não manipulem os animais e prendam cães que possam atacá-los”.

Sobre o Projeto Bugio

É um estudo científico que procura conservar a subespécie Alouatta guariba clamitans (Cabrera, 1940) (Primates: Atelidae), o bugio ruivo. Os estudos para melhor conhecimento desta espécie tiveram início em ambiente natural em 1991 no Morro Geisler, em Indaial, uma área de 40 ha de Floresta Ombrófila localizada no perímetro urbano do município e que possuí ligação com o Parque Nacional da Serra do Itajaí.

Esta atividade gerou subsídios para manutenção de bugios em cativeiro e viabilizou a implantação de um criadouro científico, oficializado pelo IBAMA em 1995, onde os dados científicos coletados a campo são aplicados a fim de incrementar o bem-estar dos animais cativos. O criadouro já recebeu mais de uma centena de animais e conta no momento com 46 indivíduos.

A sensibilização e conscientização da população local e regional quanto a questões ambientais iniciou-se já em 1992, com a participação em feiras e exposições como a Festa do Colono, a Festa anual de emancipação do município e Semana do Meio Ambiente de Indaial, assim como em palestras em escolas do município. O treinamento de estudantes e profissionais para desenvolverem atividades na área de primatologia sempre foi uma meta do Centro de Pesquisas Biológicas de Indaial (CEPESBI) e Observatório de Primatas do Morro Geisler, criado em março de 1992 e mantido por meio de um convênio entre a Prefeitura Municipal de Indaial e a Fundação Universidade Regional de Blumenau (Furb).

Desde sua fundação, o Centro tem realizado atividades de pesquisa, educação ambiental e integração da comunidade local com estudantes universitários e pesquisadores. 

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