Mais do que um cartão postal de Pomerode, a Igreja da Paz é um marco na história da cidade e na expressão da fé evangélico-luterana dos imigrantes que aqui chegaram.

Conforme abordado na Edição 01 desse caderno, durante a colonização do Vale do Rio do Testo, iniciada por volta de 1863, os imigrantes também trouxeram seus costumes e a crença na palavra de Deus. Com os hinários e bíblias, vindos da velha pátria, eles se reuniam para a leitura das prédicas e a celebração em comunidade.
Foi no ano de 1884 que iniciou a construção da primeira Igreja Luterana de Pomerode, bem no centro do povoado. A Igreja da Paz, atual sede da Paróquia Apóstolo João, foi inaugurada em 1º de novembro de 1885, mas ainda sem torre.
“O objetivo desse Templo era para que o povo de Deus tivesse um lugar comum de reuniões para as suas celebrações de batismos, sacramentos, para a reunião do culto, da vivência em comunidade. Um espaço de comunhão uns com os outros e para a celebração de casamentos, confirmações de fé e, também, como na época não havia casas mortuárias, alguns sepultamentos faziam-se da casa para a igreja e depois para o cemitério, por isso, esse também era um lugar de despedida”, explica o pastor Tulio C. Jansen, que está à frente da Paróquia Evangélica de Confissão Luterana Apóstolo João juntamente com o pastor Daniel Kreidlow.
A resposta para essa pergunta vem do membro da comunidade e profundo conhecedor da história de Pomerode, Roland Ehlert, de 88 anos. Ele se lembra das muitas histórias contadas pelo pai, Hermann Ehlert, que foi presidente da comunidade e se dedicou a ela por muito tempo.
“Durante o governo imperial, as torres só eram permitidas para as igrejas católicas. Na época, o catolicismo era a religião oficial do Brasil (ainda não havia separação entre Igreja e Estado). Quando começou a República, logo construíram a torre”, conta.
A estrutura de 35 metros de altura, sem considerar o galo de metal que inicialmente ornava o topo, foi concluída no ano de 1900, já com o país sob o regime republicano. Mais tarde, o enfeite do topo foi substituído por uma cruz metálica fixada sobre um globo, também metálico, de um metro de diâmetro.

Pastor Tulio chama a atenção para o fato das torres terem importância fundamental, uma vez que nelas ficam instalados os sinos, que comunicam, informam, orientam a passagem do tempo, apresentam o lamento da comunidade em ocasiões fúnebres e assim por diante. “O som de um sino não vai longe caso ele não esteja no alto”, elucida.
Ele destaca ainda a questão artística que envolve a construção de torres nas igrejas luteranas. “Dessa forma, têm o formato de uma mão fechada, mas cujo dedo indicador aponta para cima, para o céu, para o Deus soberano, criador do céu e da terra.”
A jornada dos sinos
Outro capítulo marcante da história da Igreja da Paz diz respeito aos sinos que ressoam no Centro de Pomerode há 122 anos. Conforme consta no livro “Cor: Verde”, de autoria de Gisela Liesenberg (esposa do Pastor Liesenberg) e Schwester Anita Guenther, com o peso de cerca de uma tonelada e fundidos em aço, os sinos vieram da cidade alemã de Bochum.

Foram trazidos de Itajaí até Pomerode em três carroças puxadas por cavalos, ao longo da margem esquerda do Rio do Testo. Os recursos correspondentes a 20.000 marcos (moeda da época) para construção da torre e a aquisição dos sinos foram levantados com os próprios membros da Comunidade.
“Segundo narrou o senhor Emil Volkmann, testemunha ocular dos fatos, na carroça da frente veio o sino maior e os dois menores nas carroças que vinham logo atrás. Os sinos estavam enfeitados com flores. No mesmo ano, eles foram instalados onde ainda hoje se encontram. Conta-se também que, quando as carroças passaram pela escola de Testo Central Alto, o professor Karl Rahn levou seus alunos à beira do caminho para entoarem hinos de saudações e louvor”, escreveram as autoras na página 21. A mensagem impressa nos sinos é: “Amai os irmãos” (1 Pedro 2:17).
A inauguração da torre com os sinos aconteceu na ensolarada manhã do dia 25 de fevereiro de 1900. No livro, está nomeado ainda o pedreiro responsável pela obra: Harnisch, ele ateve-se à planta de Krohberger. Coube ao Pastor Runte a missão de fazer uma oração durante o batismo dos sinos.
“Na mesma hora, foram soltos, irrefletidamente, foguetes diante da igreja. Relatou-se que, em consequência disso, cavalos de 100 carroças ficaram assustados sem, no entanto, causar prejuízos, mas perturbando desagradavelmente o ofício”, registra a página 22 de Cor: Verde.

Em 1949, a estrutura da Igreja da Paz passou por ampla reforma e ampliação. Nas vésperas da comemoração dos seus 130 anos, o telhado foi lavado e selado com produto especial. Toda a parte externa recebeu nova pintura e também foi realizada manutenção nos equipamentos dos sinos. Todas as benfeitorias foram custeadas através dos recursos da própria Comunidade do Centro.
Pastores que exerceram suas funções em Pomerode até meados da década de 1950
- Pastor Rudolph Oswald Hesse (vindo de Blumenau), de agosto de 1857 a novembro de 1879;
- Pastor Johann Anton Heinrich Sandreczki (vindo de Blumenau), de 1879 a 1883;
- Pastor Heinrich Runte (vindo de Badenfurt), de janeiro de 1884 até o início de 1910;
- Pastor Johannes Bürger (primeiro pastor residente em Pomerode), de 02/10/1910 a 31/05/1914;
- Período de vacância, de 01/06/1914 a 31/12/1916, quando a Comunidade foi atendida pelo pastor Heinrich Radlach, de Badenfurt;
- Pastor Fritz Liebholt, de 01/01/1917 a 30/04/1920;
- Pastor em. Wilhelm Gottfried Lange, de 01/05/1920 a 31/10/1923;
- Pastor Adolf Langbein, de 01/12/1923 a 30/09/1926;
- Pastor Rudolf Friedendorff, de 01/12/1926 a março de 1931;
- Período de vacância de março a maio de 1931;
- Pastor Johannes Blümel, 31/05/1931 a 30/05/1932;
- Pastor Kurt Friege, junho de 1932 a fevereiro de 1939;
- Período de vacância de março de 1939 até o fim de 1942, quando a comunidade foi atendida pelo Pastor Werner Karl Friedrich Andresen, de Badenfurt;
- Período de vacância nos anos de 1943 e 1944. A comunidade foi atendida pelo estudante de teologia Edgar Liesenberg, vindo de Blumenau;
- Período de vacância nos anos de 1945 e 1946. A comunidade foi novamente atendida pelo Pastor Werner Karl Friedrich Andresen, de Badenfurt;
- Pastor Gustav Schuttkus, do início de 1947 a maio de 1954;
- Pastor Edgar Liesenberg, de maio de 1954 a setembro de 1980.

Uma igreja abraçada pela comunidade
Ao longo de quase 137 anos, a Igreja da Paz sempre contou com a dedicação e o amor da comunidade. Muitos foram os homens e mulheres que ajudaram na construção desse legado. Um deles é Lorenço Frahm, de 87 anos. “Durante muitos sábados e domingos, cedi meu tempo à Igreja. Quando tinha casamento ou culto, a gente puxava o sino só na corda. Eu pedalava uns 16 quilômetros só para puxar o sino”, relembra.
Mais tarde, se tornou membro da diretoria, ocupando vários cargos ao longo dos anos, dentre eles, presidente. O último papel desempenhado por Frahm foi o de conselheiro. “Faz um ano que entreguei meu cargo, acho que tem muita gente jovem que pode assumir daqui por diante”, afirma.
São várias as lembranças dos momentos passados dentro da Igreja da Paz, um deles faz com que os olhos fiquem marejados e o coração cheio de gratidão. Sentado ao lado de Roland Ehlert, conta que o colega foi o responsável por celebrar seu casamento. Na época, o Pastor Liesenberg teve um compromisso e não pôde permanecer em Pomerode, pediu então a Ehlert que assumisse a cerimônia.
“Quando chegamos ao pátio, tinha um homem olhando para fora, vi que era ele. Roland então nos contou o que havia acontecido e perguntou se eu aceitaria que ele realizasse o casamento, caso contrário, chamaria o pastor de Blumenau. Mas eu aceitei. Por que eu estou falando isso agora? Isso que ele fez está durando 56 anos, do nosso casamento, é uma alegria. E eu nunca vou esquecer-me dele.”
São estes e outros momentos que transformam a Igreja da Paz em um símbolo da cidade, que já impactou milhares de pessoas através das gerações.