Com um largo sorriso no rosto e a certeza de que mudou a vida de muitos alunos ao longo da carreira, Wilson Hafemann, de 59 anos, encerra suas atividades como professor. Depois de 37 anos de profissão, ele olha para trás e entende que fez precisamente aquilo que nasceu para fazer. “Ser professor é muito mais que um trabalho, é um chamado, uma bênção. Contudo, é também uma grande responsabilidade. O professor deixa um legado, de aprendizagem, de filosofia de vida, de exemplo. Com isso tudo, cada aluno leva para sua vida uma parte dessa entrega e dedicação”, declara.
Contudo, engana-se quem pensa que Wilson nunca ficou indeciso quanto à escolha da carreira a seguir, porque, segundo ele, sempre há dúvidas quando se é jovem. Mesmo assim, o gosto pela matemática surgiu com a observação de que a exatidão e a coerência são perfeitas. “Na matemática, se prova que dois mais dois são quatro e pronto. Com essa percepção, ingressei no curso”, lembra. Sobre a decisão de se tornar professor, conta ter recebido apoio da família. “Eles sempre apoiaram nossas escolhas, tanto as minhas quanto as do meu irmão, o saudoso Gordo do X do Gordo. Meu pai sempre dizia: ‘você que sabe!’.”
Como estudava na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, iniciou a carreira em 1985 dando aulas de substituição na Escola Municipal João Gonçalves Pinheiro, localizada na mesma cidade.
“A sensação de entrar em sala pela primeira vez, como em qualquer estreia, é de ansiedade e nervosismo, mas principalmente de satisfação em poder dar início à realização de um sonho. Quando entrei naquele ambiente para dar minhas primeiras aulas, percebi o brilho nos olhos das crianças e logo notei que era isso que me faria feliz”, reflete. No ano seguinte, foi contratado como estagiário e de lá, foi indicado por um colega para trabalhar no Colégio Solar do Chapeuzinho Vermelho, em São José, Grande Florianópolis, onde trabalhou com turmas finais do Ensino Fundamental e também com o Ensino Médio.
Em 1987, retornou para Pomerode, pois soube que havia vagas abertas em escolas da cidade. “Iniciei no José Bonifácio, Olavo Bilac e Amadeu da Luz. No JB, naquele ano, foi implantado o Ensino Médio e, para auxiliar nesse processo, lecionei Matemática, Física e Química. Foi muito rico para minha aprendizagem, uma vez que precisei me preparar e estudar bastante para dar conta dessa demanda.” Em 1989, saiu da Olavo e da Amadeu e, em 1990, se despediu do JB para ingressar na Escola Prudente de Morais, em que ficou por um ano, e no Colégio Sinodal Doutor Blumenau, em que também foi coordenador e permaneceu até 2022.
O ofício de formar seres humanos
Wilson acredita que o caminho para se tornar professor passa por diversas experiências, como a convivência com diferentes ideologias, perspectivas e fé em busca de um mundo cada vez melhor, e também pelas etapas de muito estudo, preparação de aulas e criação de projetos. “Mas passa, principalmente, pela gratificação de participar da realização e do sucesso dos alunos”, declara.
Por isso, durante os 37 anos trabalhando como professor, passou por momentos inesquecíveis que ficarão para sempre na memória. “Enquanto se atua em sala de aula, a relação com as crianças e adolescentes é algo muito especial. O abraço, a alegria de um bom resultado, as saídas, viagens, as conquistas dos alunos, e assim por diante. Levo muitas lembranças maravilhosas disso tudo.”
Mesmo assim, desafios sempre existirão, a diferença é como lidar com eles. Para Wilson, são os obstáculos que o movem. “Passei pela era da avaliação escrita no quadro, do tempo do mimeógrafo a álcool e cheguei à era dos aplicativos e informações instantâneas on-line. Cada nova etapa é um novo desafio e isso foi gratificante.”
Hoje, a experiência o acompanha, mas foi com o tempo, com os pequenos aprendizados do dia a dia, que cresceu profissionalmente. “Na lida de professor, muitas vezes, ao invés de ensinar, a gente aprende, principalmente a questão de compreender o potencial de cada pessoa, o ritmo de aprendizagem, a forma de ser de cada um. E, sobretudo, a importância de um relacionamento saudável, carinhoso, com todos que nos cercam”, pondera.
O fim de um ciclo
Quando Wilson se aposentou, em 2016, optou por deixar a função de coordenador e diminuir a carga horária de aulas. O objetivo era poder se dedicar a outros empreendimentos que, de certa forma, também contribuíram na decisão de encerrar o tempo como professor.
A partir disso, começou a pensar mais na decisão de parar. Observou as demandas, as necessidades e as prioridades e, quando tudo isso começou a ocasionar desconforto, julgou que o momento havia chegado. “Foi extremamente difícil, é uma vida de 32 anos de dedicação ao lar em que desejei estar desde os primeiros tempos de faculdade. Mas um dia chega a hora e, por mais doloroso que seja, torna-se necessário optar por seguir novos rumos. Contudo, enquanto puder, sempre farei parte do Colégio Doutor Blumenau, agora como voluntário”, expõe.
A despedida, então, ocorreu no dia 29 de abril. Diante disso, ele afirma que ficou muito emocionado ao perceber que tudo o que fez, mesmo que considerando ser simplesmente sua atividade e função, foi e é extremamente reconhecido. “Os comentários que tenho visto e ouvido me deixam com a grata satisfação de dever cumprido. É uma mistura de alegria, satisfação e emoção.”
Sobre os 37 anos de trabalho como professor, ele faz um agradecimento especial às inúmeras pessoas que o acompanharam durante o percurso: “São muitas lembranças e saudades. Contudo, no receio de não poder enumerar todos, gostaria que cada um que esteve comigo, que me auxiliou e que confiou no meu trabalho se sinta abraçado e receba meu muito obrigado. Sobretudo, além da enorme gratidão pelos meus familiares, agradeço a Deus por todas as bênçãos nessa trajetória.”