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Um lugar de encontros, causos e muitas histórias

Por décadas o Largo Paulo Zimmermann fez parte da rotina dos moradores bem no coração de Pomerode

Ele faz parte das memórias de muitos pomerodenses. Construído bem no coração de Pomerode, o Chapéu de Farinhas fez, por muito tempo, parte do dia a dia dos moradores da cidade.

O que poucos sabem é que a saudosa construção histórica foi inaugurada com o nome de Largo Paulo Zimmermann. De acordo com a historiadora e responsável pelo Museu Pomerano, Roseli Zimmer, a inauguração do coreto aconteceu no dia 06 de setembro de 1958, quando Pomerode ainda era distrito do município de Blumenau. “Essa informação conseguimos confirmar consultando alguns livros e alguns recortes de jornal no idioma alemão, e isso foi uma surpresa muito interessante para nós.”

O Largo Paulo Zimmermann tinha três bancos e ficava bem no meio do cruzamento das principais ruas de Pomerode, na época Distrito de Rio do Testo.  “Ele estava localizado na Rua Paulo Zimmermann, no entroncamento com a Rua XV de Novembro e a Rua Luiz Abry, bem no coração e no centro ‘nervoso’ da cidade”, conta a historiadora.

Na época, a Intendência do então Distrito de Rio do Testo estava localizada na esquina à direita do coreto. “Eu acredito que tenha sido uma benfeitoria feita pelo município de Blumenau para Pomerode, que ainda pertencia à cidade vizinha. Creio que isso tenha sido uma prática comum do poder municipal da época, de colocar alguma benfeitoria nos seus distritos e a gente não encontra com o nome de ‘praça’ para o coreto e sim de ‘Largo’”, afirma Roseli.

Originalmente, o coreto foi construído com o intuito de ser um palanque para discursos políticos e também para ser palco de apresentações culturais. “Então, quando acontecia um desfile de 7 de Setembro, era colocada uma escada e ali em cima as autoridades se posicionavam para assistir ao desfile, que era visto de cima pra baixo. Na hora do comício político, era ali que as pessoas se reuniam para discutir”, relembra.

Da época de infância, o empresário Silvio Schroeder se recorda que o Largo Paulo Zimmermann era muito usado para discursos políticos. “Eu lembro que o Evilásio Vieira, ou Lasinho, foi eleito senador e obteve muitos votos aqui em Pomerode. Numa noite após a eleição, ele veio agradecer os votos e fizeram uma espécie de comício em cima daquela estrutura.”

Por um período, a estrutura também serviu como ponto de ônibus. Era o Largo Paulo Zimmermann o local preferido para aguardar a abertura da bilheteria do antigo Cine Mogk. Silvio conhecia a estrutura como palanque e era um ponto de encontro muito popular para os moradores da cidade.

“Então nós dizíamos, ‘vamos lá no palanque’. Ele era ponto de encontro principalmente porque ficava bem em frente ao cinema. Então, quando o pessoal esperava o filme começar, se concentrava lá e depois era só atravessar a rua. Nos sábados à noite, aquilo era lotado, porque não tinha muitas atrações na cidade naquela época, então a gurizada se encontrava lá.”

Já no dia a dia do pequeno distrito, o palanque coreto, era costumeiramente usado pelos moradores para jogar conversa fora, esperar uma chuva passageira ir embora. “Muitos também se reuniam nos bancos para jogar conversa fora. O Largo Paulo Zimmermann foi, sem dúvidas, um local muito importante e que envolveu muito as pessoas”, ressalta Roseli.

Um Largo que virou o Chapéu de Farinhas

Tão famosa quanto a sua estrutura, também se tornou seu nome. Não se sabe ao certo quem batizou o Largo Paulo Zimmermann de Chapéu de Farinhas. “Isso é uma oportunidade bastante válida, muitas vezes precisamos recorrer à memória das pessoas para comprovar que o fato realmente existiu”, afirma Roseli.

Wilfried Schroeder, pai de Silvio, não se recorda ao certo quando o Largo Paulo Zimmermann foi inaugurado, mas ele já conheceu a estrutura como Chapéu de Farinhas. “Não acompanhei a construção dele, quando vim para cá já estava ali.”

A história contada de geração para geração é que o apelido famoso se deve a um homem chamado Afonso Farinhas, que trabalhava na Porcelana Schmidt e que também era fiscal de Obras e Tributos da Intendência do Rio do Testo. “Afonso Farinhas sempre andava de chapéu, era o fiscal de Obras da Intendência do Rio do Testo, que estava localizada bem próximo ao Chapéu de Farinhas”, expõe Roseli.

Há quem diga também que nunca era vistos sem a companhia de um dos seus queridos chapéus. Logo, os moradores fizeram a alusão do Largo ao senhor Farinhas, transformando-o em Chapéu de Farinhas. “Não há registros oficiais do porquê a comunidade associou o local ao costume de Afonso, mas o apelido ficou mais famoso que o nome oficial”, assegura a historiadora.

Fotos: Arquivo Restaurante Schroeder / Arquivo Museu Pomerano / Acervo Departamento de Cultura de Pomerode

O fim trágico para o famoso ponto de encontro de Pomerode

O fim do Chapéu de Farinhas aconteceu mesmo no dia em que dois caminhões, um carregado com leite e outro com tijolos, se envolveram em um acidente bem próximo ao coreto, na década de 1980. “Não encontramos documentos que comprovam a data oficial em que Largo Paulo Zimmermann precisou ser derrubado, mas recorremos às memórias das pessoas para recordar o fato”, alega Roseli.

Testemunhas oculares do fato, Wilfried e Silvio, pai e filho, acompanharam tudo da janela do estabelecimento comercial da família, o Restaurante Schroeder. “Eu estava no primeiro ou segundo ano da faculdade. O meu quarto de estudos era bem na esquina do prédio e minha escrivaninha ficava de frente para a rua por causa da iluminação. Daí eu estava sentado lá estudando e escutei o barulho, gente gritando e vi a cena”, conta Silvio.

Um dos caminhões, desgovernado, acabou se chocando contra a estrutura, acertando os pilares do Largo Paulo Zimmermann. “Justamente naquela hora tinha algumas pessoas enfeitando o coreto para o Natal. Quando o caminhão bateu, eles pularam em cima do veículo. Isso eu lembro como se fosse hoje, aqueles bules de leite rolavam pela estrada”, declara Wilfried.

“O engraçado é que os funcionários da prefeitura, que estavam montando o presépio em cima daquela estrutura, não se feriram. Mas depois que o caminhão atingiu o pilar, entortou a estrutura e eles pareciam formiguinhas pulando em cima do caminhão de tijolos para depois descer para a rua”, complementa Silvio.

A única vítima do acidente, segundo Silvio, foi uma senhora que caminhava em frente ao Restaurante Kath, que foi atingida por um dos bules de leite que rolou pela rua. “Eu lembro até hoje da mulher sentada lá pedindo ajuda e o sangue correndo na calçada.”

Coube ao então prefeito da época a tarefa de demolir o que sobrou do coreto, deixando apenas a saudade para aqueles que o Chapéu de Farinhas fazia parte da rotina.

No Largo, um palco para a música

Era também no Largo Paulo Zimmermann, o Chapéu de Farinhas, que Juvenal Ferreira da Silva costuma tocar o seu violão. “Eu não cheguei a presenciar, mas o saudoso Juvenal era um exímio tocador de violão. Os mais antigos dizem que ele tocava muito bem e que costumava sentar naqueles bancos para dedilhar o violão e o pessoal sentava em volta e ficava ouvindo”, afirma Silvio.

O tacógrafo foi um combatente na Segunda Guerra Mundial. E como muitos ex-soldados de guerra, sofria de sérios distúrbios emocionais, sequelas dos traumas sofridos durante o combate. Ele chegou a Pomerode depois do término da guerra.

Juvenal era negro e em uma cidade com a maioria de descendentes de alemães, ficou conhecido como o “Preto Juvenal”. Era considerado por muitos pomerodenses como um homem bom, gentil e muito educado. “O Juvenal, naquela época, era a única pessoa negra que vivia em Pomerode. Parece que sofreu alguma coisa durante a guerra e não estava muito ‘bem de cabeça’. Mas quem se dava muito bem com ele era muito gente boa”, expõe Wilfried.

Era famoso por sua cordialidade e as músicas que cantava pelas ruas da cidade, sempre acompanhado pelo violão. De acordo com Wilfried, Juvenal não tinha hora para tocar. “Ele tinha bicicletas, não sei quantas, às vezes vinha pedalando e, às vezes, carregando a bicicleta nas costas.”

Quando Juvenal morreu, já estava cego e as causas da sua morte são controversas.

O balcão mais tradicional de Pomerode

Sem dúvidas, na esquina mais charmosa de Pomerode está também o balcão mais tradicional da cidade. Não é à toa que o Restaurante Schroeder ganhou, ano após ano, década após década, o reconhecimento e o respeito de turistas e moradores da cidade.

“A minha vida inteira passei aqui dentro desse prédio. Quando nasci, meu pai morava na Rua 1º de Maio e aí quando meu avô alugou isso aqui precisava de ajuda e trouxe meus pais, eu vim de carona, tinha de dois a três anos. E desde lá estou aqui, inclusive tenho um bloco fiscal, com as segundas vias, que comprova que aos 12 anos já ajudava no caixa”, relembra Silvio.

Do antigo Restaurante Alvin, ao Hotel Brasil e o atual e saudoso Schroeder, o imóvel foi construído entre 1940 e 1941. Com mais de 50 anos de história, o estabelecimento foi adquirido por Bruno Fritzke, sogro de Wilfried Schroeder. Foi Wilfried quem, cinco anos depois, assumiu os negócios, alterando o nome para Restaurante Schroeder, ou simplesmente Schroeder, como é conhecido até hoje. “Eu já trabalhava aqui desde 1963. Na época, o restaurante pertencia ao meu sogro e eu era empregado da Porcelana Schmidt, também trabalhava aqui nas minhas horas de folga”, conta Wilfried.

No início, a família morava nos quartos do hotel que ficava em cima do restaurante e tinha uma rotina que começava às 6h30min, mas sem hora certa para acabar. O restaurante servia café da manhã, almoço e jantar. Já o hotel possuía uma campainha que servia para avisar dos hóspedes que chegavam nos mais variados horários.

De acordo com Wilfried, foi no dia 1º de maio de 1970 que oficialmente o estabelecimento comercial passou a se chamar Restaurante Schroeder, mantendo o mesmo CNPJ e as características que são reconhecidas até hoje.

Na esquina mais conhecida de Pomerode, o negócio da família cresceu e viu a cidade crescer. As ruas mudaram, junto com as pessoas e os meios de transporte. “Aqui do lado, onde hoje é a confeitaria, funcionava a Celesc. Mais à frente, funcionava a Farmácia do Sr. Laemmel. O outro prédio era ocupado pelo Restaurante Kath e, nos fundos, do outro lado tinha o cinema, era tudo diferente.”

O próprio Restaurante Schroeder mudou. O estabelecimento passou por reformas e o hotel foi transferido para um novo local, mais amplo e moderno. Mas uma coisa que nunca mudou foi o jeito de atender. “Procuramos manter o nosso cardápio da maneira como era antigamente. Por exemplo, o pão com ovo e sardinha que se tornou o mais gostoso”, afirma Silvio.

O Restaurante Schroeder sempre foi um empreendimento familiar. Hoje, são três gerações que juntas dividem as tarefas e a administração do negócio, sem contar as pessoas que foram chegando e somando. “Tanto tempo nas mãos da família me deixa muito feliz porque eu e minha esposa trabalhamos bastante e conseguimos muitas coisas”, garante o patriarca da família Schroeder.

Com muita cordialidade e simpatia a família construiu a fama de um dos restaurantes mais tradicionais de Pomerode. E o famoso balcão virou um ponto de encontro para conversa, piadas e, claro, algumas fofocas. “Trabalhar com a família é a melhor coisa que tem. Tem o filho e o neto, se tudo der certo o bisneto também ficará aqui”, diz Wilfried. “É bom trabalhar com a família, porque cada um tem suas ideias e palpites, no fim a gente chega num consenso e todos saem ganhando. Na dificuldade ou na alegria, estamos sempre juntos”, complementa Silvio.

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