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Na educação, as bases para manter cultura e história

Manutenção da língua alemã para a preservação da cultura e da história de Pomerode

Ranice Dulce Trapp é professora desde 2002 e, assim como nas famílias de muitos dos seus alunos, foi em casa que aprendeu as primeiras palavras do alemão. “Acho que foi o acaso que me fez voltar para a sala de aula e também um empurrãozinho da minha oma. Quando éramos pequenas ela sempre lia passagens da Bíblia e do hinário em alemão”, relembra.

Quando Ranice foi prestar vestibular, a primeira opção passou longe da primeira e da segunda tentativa. “Prestei vestibular para outros cursos, mas acabei não passando. Na terceira vez, quando cheguei à Furb, tive a certeza que me inscreveria em letras/alemão.”

Paixão e respeito pela cultura e o idioma que fizeram com que a professora fosse uma das grandes responsáveis por desenvolver o projeto do Ensino Bilíngue em Pomerode. A proposta surgiu para dar ainda mais espaço nas salas de aula à forte ligação que Pomerode tem com a cultura e a língua alemã.

Para Ranice, o maior desafio como professora de língua alemã sempre foi esse, o de mostrar para pais e alunos a importância da manutenção do idioma. “Em sala de aula temos alunos que já tiveram contato com o alemão em casa e aqueles que nunca ouviram o idioma sendo falado, e precisamos tornar a aula acessível e importante para os dois. Outro fator fundamental é conquistar a parceria dos pais, sem ela não fazemos nada.”

Verdadeira apaixonada pela missão de ensinar, Ranice afirma que ser professora para ela é algo verdadeiramente importante. “Porque eu sei que posso ser a diferença na vida do meu aluno, e isso é algo muito impactante. Como professora, sou um exemplo, indiferentemente se estou na escola ou na universidade, se estou atuando como professora ou no dia a dia. Somos vistos sempre como um exemplo, somos referência e isso é algo muito bom, porque acabo influenciando as pessoas positivamente”, garante.

Metodologia e muito aprendizado

É comum ainda vermos em Pomerode muitos moradores conversando em alemão, seja com seus familiares, amigos, vizinhos ou mesmo dentro dos comércios. Essa tradição, no entanto, costuma ser ativa entre os mais velhos, já que jovens não têm tanto contato com a língua como era antigamente.

Uma realidade que começou a mudar em 2008. “A intenção, na época, era implantar salas de ensino bilíngue (língua portuguesa/língua alemã) concomitante com o ensino regular no município. Para nossa surpresa, quando realizamos uma reunião com os pais para apresentar o projeto, todos queriam matricular seus filhos no novo formato”, relembra a  professora que atualmente também é diretora de Educação Básica da Secretaria de Educação e Formação Empreendedora de Pomerode.

O ensino bilíngue foi primeiramente implantado na E.B.M. Olavo Bilac, em Testo Central. O projeto tinha a proposta de começar, de forma gradativa, a partir das séries iniciais, para que as crianças já tivessem a alfabetização nas duas línguas. “Com a aceitação positiva dos pais, já iniciamos com duas turmas na escola Olavo Bilac.”

Um ano depois, viu-se a necessidade de expandir o projeto novamente. Dessa vez, a escola escolhida foi a EBM Dr. Amadeu da Luz. “Ela foi escolhida pela sua localização, no outro extremo da cidade e pela forte influência histórica da Rota do Enxaimel”, explica Ranice.

Em 2018 foi implantado também na EEBM Profª Noemi Vieira de Campos Schroeder. “Muitos alunos já foram beneficiados com o projeto, sem contar que as crianças têm o ensino bilíngue desde a educação infantil até o nono ano nas três escolas, algo que nos enche de orgulho.”

Durante todos os anos que se passaram, a iniciativa evoluiu, ganhou respeito por meio de parcerias e se consolidou como uma forte referência do ensino bilíngue público e de qualidade. “O projeto já serviu de inspiração para outras cidades, que vieram em busca de conhecimento e de como foi todo o processo de implantação em Pomerode.”

E da sala de aula, ganhou também o respeito e a admiração das famílias, que voltaram a valorizar o idioma que aprenderam de pais e avós. Um ganho no aprendizado que, segundo Ranice, reflete também na manutenção de aspectos da cultura, história e tradição do município.

“É através da língua que mantemos muitos dos traços trazidos pelos imigrantes, pomeranos e alemães, e que se perpetuam pela representatividade e preservação da nossa cultura. É importante reforçar que se não mantivermos a língua, de nada adiantará mantermos a cultura”, ressalta.

Em casa e na escola

Algumas famílias conseguiram manter a tradição através dos filhos e netos, exemplo da família Maas. Ewaldo Maas, de 85 anos, teve como sua primeira língua o Platt, depois a família foi incorporando também o alemão que era muito falado na época. “Eu aprendi o português na escola, era difícil, mas tínhamos que nos acostumar. Mesmo assim, logo que saíamos da escola já voltávamos a falar o alemão”, explica.

Por crescer falando alemão, foi mais que natural que ensinasse o idioma para o filho, Elton Maas, agora com 45 anos. “Minha primeira língua foi o alemão. Como todos em casa e na vizinhança falavam, não tinha como fugir disso”, lembra. Assim como o pai, ele aprendeu o português quando iniciou no jardim de infância. “Na aula, as professoras também falavam alemão, então foi fácil para fazer essa transição, e, depois, tivemos aula de alemão na escola e evoluímos os padrões.”

E com a terceira geração da família não foi diferente. Os filhos de Elton, Monique e Maximilian, de 10 anos, também tiveram como primeira língua o alemão. Porém, diferente do pai e avô, o processo deles foi um pouco diferente.

Após iniciarem na creche e aprenderem o português, os gêmeos deixaram de lado o alemão e focaram no novo idioma que estavam iniciando. Quando começaram no ensino bilíngue, ofertado na rede pública de Pomerode, reaprenderam a língua mantida pelas gerações da família. “Para nós, não foi tão difícil aprender o português e, hoje em dia, estamos reaprendendo o alemão. Algumas palavras não lembrávamos, mas agora reaprendemos”, destaca Max, com é chamado.

Os irmãos são alunos da EBM Dr. Amadeu da Luz, em Testo Alto, segunda instituição de ensino de Pomerode a receber o ensino bilíngue. As turmas recebem aulas dinâmicas para que os alunos possam interagir com aspectos do novo idioma.

E, segundo a Ranice, os ensinamentos são repassados através de quatro disciplinas: Deutsch (estudo da língua), Mathematik (estudo da matemática e dos números), Sachunterricht (estudo do meio – ciências, história e geografia) e Kunst (artes). “Percebemos que os ganhos desses alunos no que está relacionado ao aprendizado são enormes.”

Para o patriarca da família, é uma alegria ver os netos aprenderem o idioma que utilizou durante boa parte da vida e que ainda utiliza. “Agora, quero ensinar algumas palavras em Platt para eles”, relata Ewaldo. “Eu espero que eles continuem nessa linha, falando alemão, daí vão para o inglês, espanhol, francês, chinês… Que se desenvolvam cada vez mais, porque o mundo só ficou menor, então temos que saber trabalhar com essas oportunidades”, complementa o pai dos gêmeos.

Por fim, Elton deixa um recado especial: “Natürlich machen wir uns stolz auf unsere Sprache und von wo wir herstammen. Unsere Familie hällt die Deutsche Kultur bei, und natürlich machen wir uns stolz dass unsere Kindern das weiter machen würden“. (Tradução: Sem dúvidas, temos orgulho da nossa língua e de onde viemos. Nossa família mantém viva a cultura alemã e, é claro, que estamos orgulhosos de que nossos filhos continuem a fazê-lo).  

Intercâmbio Internacional

Não é apenas no Brasil que o projeto do ensino bilíngue de Pomerode desperta atenção, pelo mundo a fora há interessados em entender como a iniciativa foi implementada e continua gerando frutos.

Uma dessas oportunidades ocorreu em agosto, quando a professora Ranice participou da Conferência internacional de Professores de Alemão. Um evento que reuniu docentes da língua alemã de todo o mundo. “Esse foi um momento muito importante para apresentarmos o que o projeto já conquistou em Pomerode. Tive também a oportunidade de conhecer o que é feito pelo mundo por meio de iniciativas que permitem a disseminação da língua alemã, não apenas o que possuem imigração”, ressalta.

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