
Foto de Wilhelm Butzke aos 97 anos de idade
As precárias condições de trabalho, a busca pela própria terra e as constantes guerras motivaram muitos Pomeranos a imigrar para várias partes do mundo, mesmo que isso significasse não saber o que encontrariam do outro lado do oceano. Geralmente imigravam várias famílias da mesma vila, era uma forma de encorajar essa difícil decisão de partir e de minimizar a solidão que sentiriam tão distante da terra mãe.
Wilhelm Butzke em 1940 aos 97 anos de idade fez um relato detalhado e precioso sobre como era a vida na Pomerânia e seus passos quando chegou aqui no Brasil. O relato foi publicado em 1961 no livro Unsere Väter (Nossos pais) pelo pastor Max Heinrich Flos. A narrativa nos faz viajar no tempo e permite que tenhamos uma ideia das dificuldades e da esperança que o povo Pomerano cultivava na época da imigração.
“Meus amados pais eram trabalhadores rurais em Wusterbarth sob o comando do arrendador de terras Villnow. Eu nasci em Wusterbarth, comarca de Belgard na Pomerânia em 30 de abril de 1843. Dos seis aos 14 anos frequentei a escola e meu mestre era o professor Jahn. Fui confirmado pelo pastor Tischler. Dos 17 aos 20 anos trabalhei como criado-mor com quatro cavalos. Com 20 anos me apresentei para a inspeção militar, passei e fui incorporado na infantaria do 6º regimento da Pomerânia, Nº49 do 2º exército Pomerano. Em primeiro de novembro de 1863 tive que me apresentarem Schivelbein e Pommersch Stargard foi o meu quartel, onde fui instruído para meu serviço militar….”.
Sr. Butzke traz detalhes sobre as guerras os quais não abordaremos, assim seguimos seu relato do retorno para sua casa.
“… Ao todo, fiquei no exército por três anos e quatro meses, durante esse tempo não recebi castigo pois tive um bom comportamento. Em 22 de dezembro de 1866, dei baixa e em 23 de dezembro às 03h da madrugada cheguei em minha aldeia natal, Wursterbarth. A alegria dos meus amados pais foi grande. O arrendador Villnow logo me deu serviço como cocheiro, conduzi a carruagem até o dia que imigrei. No Brasil, em Blumenau já haviam conhecidos da nossa aldeia que tinham imigrado, eles escreviam que no Brasil por pouco dinheiro se conseguia 100 morgos de terra com mata virgem, essas cartas me atraíram. No dia 06 de abril do ano de 1869 deixei a Pomerânia/Alemanha com mais 06 famílias. Meu primeiro matrimônio eu tinha contraído com Friederike Kannenberg no dia 15 de novembro de 1867 na igreja de Wusterbarth, pastor Tischler nos deu as bênçãos.
Em Hamburgo fomos embarcados no navio Humboldt e o nome do capitão era Plump. No mês de junho chegamos ao porto que antigamente se chamava Barra. Por meio de canoa fomos até Blumenau, e de Blumenau até Indaial nossa mudança foi levada de carroça. Em Indaial fui informado que em Cedro havia terra boa. Dietlein Krambeck levou o meu baú até a colônia. Escolhi o lote nº20, onde edifiquei um rancho com palmitos e nele morrei durante três anos. Não me agradei do lote e como o nº 17 ainda não estava ocupado, mudei para lá e estou nele até hoje.
Na Pomerânia/Alemanha passei por fadigas e penas, no entanto, esse começo na mata para mim e para os outros colonos foi o mais penoso. Os alimentos eram escassos, muitas vezes passamos fome. Também tínhamos que estar dia e noite em alerta, os bugres selvagens nos circundavam. Também o tigre nos visitava e em toda a colônia causava muitos estragos. Numa noite de chuva forte o tigre me abateu uma novilha de dois anos, arrancando-lhe os nervos da goela, também dois bons cachorros ele me comeu. Já haviam crianças em idade escolar, Johann Lemke convocou uma reunião e fundamos a escola. Eu, Ferdinand Zumach e Carlos Jahnke fomos eleitos a primeira diretoria. Trabalhamos em equipe, quando a madeira estava pronta o carpinteiro Lahsan a armou e assim a escola foi erguida. Os bancos escolares foram feitos por Julius Vogel e Carl Bewiahn. O primeiro professor foi Julius Scheidemantel que lecionou durante anos na escola. Era um professor justo e honesto, hoje descansa no cemitério de Timbó. Nosso amado Deus o tenha como salvo. Nova reunião foi marcada para a construção da igreja, eu fui eleito primeiro presidente. Junto com August Klug e Friedrich Klug eu a edifiquei. Derrubamos a madeira em nosso mato, o carpinteiro Gustmann armou e levantou a madeira. O serviço de pedreiro foi feito pelo Sr. Froelich. A igreja é a que hoje temos. Os bancos da igreja foram feitos por Julius Vogel e Carl Bewiahn. Também trabalhei como feitor do Dr. Blumenau na construção de estradas e também como inspetor de quarteirão estive em exercício por mais de 20 anos. Em Cedro no dia 21 de março de 1875 minha amada esposa, esperando um bebê, veio a falecer. Aqui no mato naquele tempo não havia recursos. Nem carroças não existiam, Frederico Donner levou a falecida com canoa pelo rio Cedro até Timbó, ela descansa no cemitério de Timbó. Ela me deixou três filhos fortes que ainda estão vivos e casados. Fiquei viúvo durante cinco meses e em 29 de agosto de 1875 contraí meu segundo matrimônio com Auguste Lemke. Para casar fomos de cavalo até Badenfurt. Na igreja de Badenfurt recebemos a bênção pelo Pastor Hesse. Meu segundo matrimônio foi feliz. Festejamos juntos as bodas de prata, de ouro e de diamante. Minha segunda esposa faleceu em 28 de agosto de 1938, alcançando a idade de 88 anos…”
Wilhelm Butzke faleceu em 25 de agosto de 1941 na avançada idade de 98 anos e foi sepultado no cemitério Luterano de Timbó. Seus descendentes eram na ocasião dez filhos, 70 netos, 143 bisnetos e um bis-bisneto. Cabe ainda destacar que na região do Vale Europeu como, por exemplo, em Pomerode, há muitas famílias com o sobrenome Butzke.
Imagens
Foto: Divulgação
Foto de Wilhelm Butzke aos 97 anos de idadeFoto: Divulgação
A aldeia de Wusterbarth fazia parte do Kreis de BelgardFoto: Divulgação
Igreja de WusterbarthFoto: Divulgação
Arredores da casa do arrendador (Gutshof) em WusterbarthFoto: Divulgação
Primeiros imigrantes na colônia Blumenau