Há alguns que querem se tornar médicos, advogados ou dentistas e, outros, decidem ir para uma profissão não tão convencional e ainda pouco evidenciada e valorizada. O pomerodense Fhilipe Gislon, de 26 anos, decidiu já na infância o que queria ser: artista. “Não tenho memória de ter alguma dúvida sobre o que queria fazer, desde criança sempre fui apaixonado por isso. Eu não sei onde foi que isso começou, mas acho que nasceu comigo”, conta.
Atualmente, ele dá vida a uma personagem chamada “Tanda Lodi”, uma pomerodense muito conhecida nas redes sociais e que já passou por diversas cidades para fazer brotar a alegria e muitos sorrisos. No entanto, poucos conhecem o esforço profissional do artista que está por trás dessa figura “alemoa”.
Para alcançar seus sonhos, Fhilipe iniciou nas aulas de teatro na Escola Curt Brandes, onde estudava. Posteriormente, ingressou em um grupo amador de Pomerode, a chamada “Cia. de Teatro a vida é uma peça”. Além disso, para poder iniciar no Grupo de Dança e Teatro da Duque de Caxias, precisou pedir transferência entre escolas. “Mudei para poder participar do grupo e, com isso, comecei a exercer a atividade teatral de maneira amadora. Mesmo sendo criança, pré-adolescente ou adolescente, nunca deixei de estar no palco ou envolvido com esse tipo de coisa”, relembra.
Durante o Ensino Médio, estudava de manhã na Escola José Bonifácio e, de meio-dia, seguia para Blumenau, onde fazia aulas de teatro à tarde e à noite. Fez cursos na Cia. Carona, no Teatro Carlos Gomes, e na JP Talentos, curso que durou dois anos. Quando se formou, já era ator profissional.
Após isso, trabalhou por dois anos no Beto Carrero, onde foi parte do elenco do Castelo do Terror. “Eu era um dos monstros e ficava lá dentro assustando as pessoas”, destaca. Nesses anos, ele também realizou cursos de pequena duração e oficinas com temas específicos. Quando saiu de lá, foi para Curitiba para iniciar em um curso técnico na Cena Hum, academia de artes cênicas.
Pouco tempo na capital do Paraná se passou até que foi chamado em 2015 para participar de um espetáculo da Broadway, com produção de Claudia Raia, em São Paulo. “Fazer o musical do Chaplin também foi um grande aprendizado, mais do que qualquer tipo de curso. Estando inserido no mercado você aprende realmente a ser um profissional e como lidar com outras pessoas.” Depois, ainda fez outros trabalhos, como “60 Década de Arromba Doc. Musical” e a série “Pequenos Grandes Talentos”, que foi ao ar durante três meses na NSC TV, além de formar uma banda pop nomeada “Tazo”.
Foto: Divulgação
Todo o caminho trilhado por Fhilipe foi marcado por muitos estudos, desde quando era criança até conquistar papeis em grandes espetáculos e produções. “Acredito que a atividade teatral que exercíamos nos grupos de Pomerode já era um tipo de aprendizado. Teatro é uma coisa muito prática, então aprendemos muito fazendo”, salienta.
Ao longo dos anos, foi se aperfeiçoando e ganhando diversas experiências no mundo artístico. Quando ainda trabalhava no Beto Carrero, conheceu o Rizzih, que era de Itajaí. Com a diferença cultural, os dois brincavam de misturar essas características, a parte peixeira muito forte e a descendência alemã. Depois de um tempo, o amigo deu vida a Déte Peixeira e tornou disso um negócio. Enquanto Fhilipe estava em São Paulo focado no musical, Rizzih o chamou para fazerem um vídeo juntos, com o objetivo de misturarem as duas culturas. “Eu estava em SP e disse para irmos a Pomerode e tirarmos do papel a ideia do vídeo para ver como a Tanda Lodi seria existindo”, explica.
A partir desse momento, Fhilipe precisou construir a personagem, definir a aparência física, quem seria ela, onde morava, quem era a família dela e quem são os filhos, quantos anos ela teria, entre outras informações. “E deu muito certo! Combinamos de fazer um vídeo sempre que nos encontrássemos, porque para o Rizzih era um negócio, mas para mim era uma brincadeira no começo, claro que eu levava muito a sério sempre, porque esse é meu trabalho.”
No decorrer das produções, mais detalhes se formaram sobre a figura. Hoje, para ele, a Tanda Lodi é a representação de várias pessoas existentes em Pomerode. “Acho que por isso é um sucesso, por conta dela ser uma pomerodense típica e todo mundo conhece”, destaca. Com o sucesso crescente das duas personagens, fizeram diversas turnês da Déte e Lodi, levando alegria e emoção a quem assistia os espetáculos.
E você acha que alguém se sente ofendido pela atuação da personagem? Muito pelo contrário. Fhilipe explica que sempre que está caracterizado de Tanda Lodi, muita gente pede para tirar foto e demonstra essa identificação com o povo da sua cidade natal. “Ela é simpática e querida e, quando as pessoas vêm ela assim tão simples e acessível, eles pensam ‘ela é alguém como eu’ e isso é muito legal, porque somos assim e a Tanda Lodi é do nosso povo.”
Em relação à necessidade de sair de sua cidade natal, admite que sempre soube que teria que tomar essa decisão, pois não havia estrutura e incentivo suficientes. Por exemplo, quando iniciou no mundo da arte, ainda não havia o teatro na cidade. Por isso, a solução encontrada era fazer espetáculos no Clube Pomerode, em que alugavam o local, distribuíam cadeiras por todo o salão e se apresentavam no palco, ou em oportunidades de comemorações da escola ou mesmo nos desfiles da Festa Pomerana. “Eu sempre soube que não era em Pomerode que eu ia conseguir fazer minha carreira”, esclarece.
Mesmo tendo que se despedir anos atrás, Fhilipe voltou para a cidade mais alemã do Brasil e lotou o teatro quatro vezes com o espetáculo da Tanda Lodi. Para ele, isso é motivo de orgulho, pois “estive nesse palco na inauguração do teatro e o vi crescer. Era um grande desejo meu quando morava na cidade e lembro o quanto foi especial para mim quando foi construído”.
Para ele, o mais gratificante é poder levar a arte para lugares inimagináveis. “Tem moradores de Pomerode que nem imaginariam ter o contato com esse tipo de arte. O que eu gosto é de imaginar que as pessoas sentem o que eu sentia quando eu via teatro, era mágico e envolvente. Saber que eu estava lá um dia vendo os artistas no palco e hoje eu sou o artista no palco fazendo e levando essa sensação para as pessoas na plateia, principalmente em Pomerode, é o meu maior prazer” finaliza.