Filho de Emma Hein Daugs e Emilio Daugs, Reinholdo Carlos João Daugs nasceu em Jaraguá do Sul no dia 07 de outubro de 1932, junto com a sua irmã gêmea Elfi. A mãe morreu logo após o parto dos filhos caçulas. “Eu não a conheci porque quando eu nasci, ela morreu. Meus pais moravam em Jaraguá do Sul, lá eles tinham um terreno grande e não sei quantos mil pés de café, é o que sempre me contavam.”
Foi a mãe, no leito de morte quem escolheu os nomes para os gêmeos. Reinholdo, na verdade, deveria se chamar Reinhold, um nome alemão. Como sua pronúncia era difícil, sua escrita acabou sendo aportuguesada.
Além de Elfi e Reinholdo, recém-nascidos, Emma e Emilio tiveram outros sete filhos: Frida, Lenda, Alma. Hilda, Eli, Wille e Alberto. Além de Reinholdo e Elfi, Eli e Wille também eram gêmeos. “Nós não nos conhecemos quando éramos crianças, porque eles foram criados em Jaraguá e eu para as bandas de Blumenau.”
Profundamente abalado pela perda da esposa, Emilio não sabia como cuidar dos seus filhos sozinho. Frida, a mais velha, tinha apenas 12 anos na época. Ele era engenheiro e viaja muito a trabalho, para acompanhar obras do governo federal.


Em uma atitude desesperada, o patriarca entregou seus filhos para famílias adotivas. Apenas os mais velhos ficaram sobre a sua tutela. Reinholdo foi separado de sua irmã gêmea logo após o falecimento de Emma.
Logo o paradeiro de Elfi se tornou incerto, uns dizem que ela morreu ainda pequena devido a um trauma causado por uma queda, outros que foi acometida por uma doença infantil. “O que eu sei é o que me contaram, mas nunca tive certeza sobre isso.”
O recomeço com uma nova família
Foi uma prima de Emma, Emilie Scheiwe quem ficou com a guarda de Reinholdo. Na época ela morava no Distrito do Rio do Testo (atual Pomerode). Emilie e o marido, Carlos Scheiwe, foram buscar o pequeno de carroça em uma viagem que durou algumas horas até Jaraguá do Sul. “A ‘Motta’ Scheiwe foi me buscar no cemitério, depois do velório da minha mãe.”
O casal Scheiwe já tinha uma filha, Adele, de 12 anos, que se tornou a grande ajudante da mãe nos cuidados do seu novo irmãozinho. Depois, a família cresceu com a chegada de Berta, Frida, Ana, Alida, Hilda, Alberto, Hermann e Udo. Os Scheiwe se dedicavam à agricultura e à criação de animais.
Apesar do amor dos pais e irmãos adotivos, muitos eram os comentários maldosos e as fofocas sobre o Reinholdo ser criado longe da família biológica. “Eu não podia reclamar de nada porque eu não era ninguém. Mesmo sendo criado com muito amor pelos meus pais, sabia que não era daquela família.”
Daugs viu seu pai de sangue, Emilio Daugs, poucas vezes em sua infância. Em uma dessas raras visitas, Emilio levou seu filho, então com sete anos, para conhecer parte dos irmãos. São poucas as lembranças e o carinho de Reinholdo por ele, já que faleceu em 1945. “Ele me deixou uma pequena herança, mas não fiquei com ela, entreguei aos meus pais por tudo que tinham feito por mim.”
Ainda muito pequeno, Reinholdo teve sua mão esmagada em um triste incidente com uma máquina de moer milho. Do acidente, restaram algumas sequelas como a dificuldade de fechar os dedos da mão esquerda. “A engrenagem amassou, eu tinha três anos quando isso aconteceu. Ela passou por cima e quebrou tudo, queriam cortar o dedo fora por causa disso. O ‘Velho Jung’ queria arrumar isso tudo, mas depois eu queria fazê-la flexível novamente, mas não consegui mais todos os movimentos.”
Memórias de criança
Apesar das limitações, elas nunca foram empecilho para que Daugs pudesse operar ferramentas e máquinas e também de se transformar em um habilidoso artesão. Reinholdo começou a frequentar a escola em 1939, mesmo ano em que a Segunda Guerra Mundial foi iniciada.
Antes do início do conflito mundial (1939 – 1945), a Campanha de Nacionalização foi iniciada pelo Governo Brasileiro em 10 de novembro de 1937. Policiais e militares invadiam as casas e confiscavam tudo o que não estava publicado em português como livros, quadros e outros itens. Nos cemitérios não se faziam mais inscrições em alemão nas lápides.
Nas escolas, os professores que não conseguiam se expressar e ensinar no vernáculo nacional foram exonerados e substituídos por educadores vindos de outras cidades catarinenses. Clubes de caça e tiro foram fechados. Pessoas que eram pegas falando a língua alemã ou o pomerano também eram presas. “A época da guerra era muito difícil.”
Daugs ainda era criança, mas se recorda de um dia em que ele e o irmão Udo estavam capinando uma plantação de milho quando viram dois homens se aproximarem do rancho onde estava a sua mãe. Eles quase não falavam a língua portuguesa e não entendiam o que foi dito a ela. Apenas presenciaram ela ser levada algemada pelos soldados. “Nós éramos crianças, não sabíamos o que fazer. No escondemos no meio do milharal e depois corremos para casa para contar o que aconteceu.”
A Frau Scheiwe só foi solta à noite, com a ajuda de um primo que era fluente nos dois idiomas e conseguiu desfazer o mal entendido com as autoridades. Emilie foi confundida com outra mulher de origem alemã que era procurada. Porém, só foi solta com o compromisso de não mais falar o alemão em público. “Todos eram proibidos na época de falar alemão ou ter qualquer coisa no idioma.”
Infância, ensinamentos e trabalho
Reinholdo estudou até os 13 anos, e assim como muitas crianças da época, precisou repetir de ano para reaprender os ensinamentos em língua portuguesa. Já na adolescência foi pego pela diretora falando em alemão com um amigo no pátio da escola. Uma infração que lhe rendeu a expulsão da escola. “Eu gostava muito de estudar, apesar das dificuldades sempre fui um bom aluno e as professoras gostavam de mim.”
Além de ajudar nas plantações e criações da família, Reinholdo também passou a ajudar a mãe nos trabalhos como parteira. Colecionava também algumas experiências como jardineiro e cortador de pedra. “Com seis anos também já era ajudante de caminhão do Weege e do Passold. Quando fazíamos viagens longas, eles amarravam o dinheiro na minha barriga para os ladrões não acharem.”

Foi um vizinho chamado Abílio Nascimento que ensinou Daugs, com apenas 12 anos, a usar pólvora e dinamite para explodir as pedras. O resultado do trabalho dos mestres de cantaria, que é a arte/técnica de transformar pedras em outros objetos, era aplicado em muros, casas e nas ruas. “Aquele era um serviço muito duro.”
Como operador de projetor no cinema local, Reinholdo teve a oportunidade de se aproximar da cultura e da arte. Era do jovem a missão de substituir os rolos de filme durante as exibições sem que os expectadores percebessem. “Aprendi muito naquela época.”
Uma nova cidade e os ensinamentos de um grande ofício
Ao completar 18 anos, Reinholdo decidiu se alistar no serviço militar. Porém, não foi aceito devido à deficiência que tinha nos dedos da mão esquerda. Com a negativa, Daugs foi para Mafra para fazer um estágio como aprendiz em uma estofaria. “Eu ganhei a dispensa por causa da minha mão, então decidi ir pra Mafra, mas lá era tudo muito diferente.”

Foi na Estofaria Weber, fábrica de Emílio que era cunhado de Reinholdo, que o jovem deu os seus primeiros passos naquele que seria o seu ofício para a vida toda. Na época, os aprendizes não eram remunerados, apenas ganhavam a comida e o lugar para dormir. “A gente ganhava a comida e o lugar para ficar, depois tratava de se dedicar para aprender tudo o que era repassado, já que os pais não tinham dinheiro para nos pagar o ensinamento de uma boa profissão.”
O diploma de estofador chegou quando Daugs completou 21 anos. Logo depois seguiu para a área de estofamento automotivo. Seu primeiro emprego foi em uma empresa chamada Autorenovadora, também localizada em Mafra. “Eles diziam que eu era o melhor funcionário e todos elogiavam meu trabalho.”
Em 1956 Reinholdo mudou-se para Jaraguá do Sul para atuar na Autorenovadora Manke. Aos poucos foi guardando dinheiro, comprou seus primeiros lotes de terra, que depois foram trocados por uma moto. A primeira viagem foi até São Paulo, na casa da irmã de criação, Adele, e do esposo. “As viagens naquela época eram verdadeiras aventuras. As estradas não eram como hoje e o trajeto sempre demorava muito.”
O retorno para Pomerode e o trabalho como único estofador do município
Em 1961, decidiu voltar para Pomerode, que recém tinha se emancipado de Blumenau, para abrir a primeira estofaria da cidade. “Eu era o único estofador em Pomerode, reformava móveis, sofás, camas e assentos de veículos.”

Foi nessa mesma época que Reinholdo conheceu Ursula Selke, aquela que seria o maior da sua vida toda. Ele tinha 29 anos e ela 25 quando se cruzaram em um dos saudosos e famosos bailes de chope do Clube Pomerode. “Os namoros naquela época eram muito diferentes. Mas nós sabíamos que um seria o companheiro do outro para sempre.”

O casamento foi celebrado no ano seguinte, em 1962. Da família na noiva herdaram um lote na Rua Luiz Abry, que mais tarde foi trocado por outro, na mesma localidade. Enquanto Ursula se dedicava ao trabalho na Porcelana Schmidt Daugs seguia com os trabalhos como mestre estofador. “Ela era uma funcionária muito exemplar, até depois de aposentada pediram para que continuasse na função.”
A empresa de Daugs foi ganhando fama ao longo dos anos, principalmente pelas poltronas e sofás requintados que fabricava. Muitos eram os pedidos que vinham de pessoas importantes de outras cidades e até estados. Era conhecido também por fabricar colchões e cadeiras de cipó. “Nessa época conheci muita gente importante da alta sociedade. Eles faziam questão de fazer as encomendas pessoalmente.”

Família Daugs
Em janeiro de 1964 nasceu Tânia, a primeira filha do casal. Em 1968 foi a vez de Sônia vir ao mundo. “As minhas meninas vieram para dar mais vida à nossa família.”

Em 1978, Reinholdo adquiriu aquela que seria parceira de aventuras e viagens por muitas décadas, a Kombi de cor azul. No início, o veículo seria usado apenas para transportar os móveis que a família fazia. Mas acabou sendo o grande protagonista de finais de semana e férias da Família Daugs. “Até hoje tenho uma Kombi na garagem, só não dirijo mais como antes”, revela.
Tânia casou-se com Gabriel e teve dois filhos, Diovana e Diego. A família morava em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Já Sônia mudou-se para Florianópolis para fazer faculdade. Essas mudanças ocorreram na década de 1990. “Tive também dois netos lindos, que adoravam passar férias na casa do Opa e da Oma.”

Daugs e a esposa continuaram vivendo em Pomerode, até que em 2018, a amada faleceu. Dois anos depois, em 2020 foi a vez da filha mais velha, Tânia falecer em Porto Alegre. “Foram duas profundas perdas, acho que não me recuperei delas até hoje. Mas a gente precisa seguir, e guardar as lembranças com carinho.”

Atualmente Reinholdo continua a viver na charmosa casa da Luiz Abry em meio a recordações por vezes confusa. Seus fiéis companheiros, os cachorros vira-latas criados com muito carinho por eles. “Eu gosto muito de histórias, hoje ninguém mais as guarda ou cuida, aí ninguém tem história. Mas tenho. Minha memória já não ajuda mais muito, mas gosto de me lembrar de tudo e acho que tive uma vida muito boa.”
Nossa história preservada através das nossas memórias
1881 – Das heute nicht mehr existierende Fachwerkgebäude gegenüber der evangelischen Kirche im Zentrum beherbergte viele Jahre lang die „Schule Statdplatz – Deutsche Schule Pommerode Innenstadt“. Im Jahr 1924 wurde die Schule von der Gemeinde Blumenau übernommen und 1936 in das neu erbaute Gemeindehaus verlegt. Wobei die neue Schule auf einem gespendeten Grundstück in der Rua Frederico Weege gebaut wurde. Sie wurde am 27. Juli 1940 in Anwesenheit des Gouverneurs Nereu Ramos eingeweiht und in José-Bonifácio-Schulgruppe, heute José-Bonifácio-Staatsschule, umbenannt.

2024 – A extinta construção enxaimel em frente à Igreja Luterana do Centro abrigou por muitos anos a “Schule Statdplatz – Escola Alemã Pommerode Centro”. Em 1924, a escola passou a ser gerida por Blumenau e em 1936 transferida para a recém-construída Casa da Comunidade. Já a nova unidade escolar foi construída em um terreno doado na Rua Frederico Weege. A inauguração ocorreu em 27 de julho de 1940, com a presença do Governador Nereu Ramos, passando a se chamar Grupo Escolar José Bonifácio, atual Escola Estadual José Bonifácio.

Agradecimentos
Reinholdo Carlos João Daugs • Guilherme Strapazzon Klann do Amaral e Silva (escritor) • Dirceu José Zimmer (tradução) • Roseli Zimmer • Museu Pomerano • Departamento de Cultura de Pomerode • Heike Weege/Fotos Antigas Pomerode