Outra tradição trazida pelos imigrantes, mantida com carinho por mãos habilidosas de seus descendentes, é a arte de fazer balaios. Do cipó, ao entrelaço perfeito que dá vida ao cesto, era no dia a dia das famílias que o saber centenário ganhava o protagonismo para as mais diversas finalidades.
Na casa da Família Trettin o ofício de fazer os tradicionais balaios trançados de cipó foi mantido por gerações. Walter Trettin, 85 anos, cresceu vendo o pai fazer as peças que eram usadas nos afazeres da casa e do campo. “Eles faziam os balaios em dias de chuva. Então, quando o pai pegava um, eu pegava o outro e foi assim que eu aprendi. Se não tinha entendido muito bem, ele vinha e explicava para mim mais uma vez como se fazia.”
No passado, segundo Walter, os mais “antigos” respeitavam a época correta e a fase da lua para realizar o corte do cipó que seria usado para a confecção do balaio. “Quando um cipó é bom, a gente vê. Quando é muito novo então ele parece vermelho. E quando é velho, fica branco.”
Depois de escolhido e cortado, o trabalho continuava em casa, já que as fibras precisavam ser preparadas antes de serem usadas pelos artesãos. “A gente tem que pegar e descascar primeiro, deixando uns dias. Depois, a gente joga o cipó na chuva ou molha outra vez, então ele fica mais mole e mais fácil de ser trançado.”

Já o tempo para ser feito, segundo Walter, pode variar um pouco, em média em uma tarde ele garante que consegue deixar um balaio pronto. “A parte mais difícil para ser feita é o fundo, e o balaio precisa começar por ela. Depois, vai trançando ao redor até chegar à parte do acabamento, para dar a sustentação que o balaio precisa ter.”
Por muito tempo os balaios foram verdadeiros protagonistas na vida dos imigrantes e seus descendentes. Eles eram usados para levar trato para os animais, trazer produtos colhidos na horta, carregar roupa, guardar ovos, além de levar e trazer as comprinhas do mercado. “Eram usados para tudo, os balaios grandes e os menores também. Guardar milho, carregar batatas e aipim, levar trato, ovos e o que mais a pessoa precisava”, explica.
Quando se casou com a esposa Helga, 85 anos, Walter fez questão de ensinar à companheira cada detalhe da arte que tinha aprendido ainda criança. “Em casa, meu pai também fazia os balaios. Mas eu só fui aprender depois que eu me casei. No começo eu o ajudei a fazer. Ele me dizia: ‘faça assim e assim, coloca lá fora e molha quando não chove e quando chove não precisa’, aos poucos fui aprendendo e gosto de ajudá-lo”, relembra.
Com orgulho, Helga fala do carinho que o esposo tem pelos balaios. Não sabe ao certo quantos foram feitos ao longo dos anos, mas assegura que se bem cuidado, um balaio pode durar muitos tempo. “São muitos balaios, isso não podemos dizer quantos já foram feitos. Mas um balaio não acaba assim tão fácil. A gente também tem que cuidar para não jogar e arrastar muito, porque isso come aqui embaixo (o fundo). Se não for isso, um balaio pode durar anos.”
Para Walter, o grande desafio do ofício centenário talvez seja manter o interesse dos mais novos pela tradição de fazer os balaios. “Antigamente quase todos os colonos sabiam fazer porque precisavam dos balaios. Então, um acabou aprendendo com o outro. Mas hoje tudo tem que andar o mais rápido possível. E o balaio não tem como, é demorado, e não se ganha muita coisa com ele.”
Verdadeiro apaixonado pelo ofício, Walter sabe da importância dos costumes herdados pelos mais antigos para a manutenção da cultura e da história de Pomerode. “Eu gosto de fazer os balaios, aprendi e sempre fiz assim a minha vida toda. Espero que quando os mais velhos partirem, os maios novos continuem mantendo o gosto por esses balaios”, finaliza.