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Da mesa dos colonos ao reconhecimento de uma iguaria única

Artesanal e com sabor inconfundível, linguiça Blumenau teve seu berço em Pomerode

Uma iguaria centenária, que chegou à então Colônia Blumenau, hoje Vale do Itajaí, com os imigrantes que aqui construíram os seus lares. Aos poucos, as famílias que povoaram as vilas da região incutiam seus costumes alimentares e adaptavam seus saberes às necessidades locais.
As linguiças, assim como salames e outros itens defumados, surgiram a partir da necessidade que eles tinham em conservar carnes em uma época em que não havia refrigeração.
Ano após ano, a linguiça (Blumenau) ganhou prestígio e se transformou em um dos ícones da culinária local, seu protagonismo foi muito além das mesas de café da manhã. A herança mantida geração após geração se tornou um patrimônio cultural e uma iguaria com selo de Identificação Geográfica.

Iguaria: Receita da tradicional linguiça Blumenau é mantida há décadas por produtores do Vale do Itajaí. Foto: Marta Rocha/Arquivo Testo Notícias

Pioneirismo como ingrediente para sabores únicos

Foi no coração do distrito de Rio do Testo que o filho de imigrantes com espírito empreendedor decidiu abrir seu comércio de secos e molhados. Hermann Weege foi o primogênito dos 15 filhos que o comerciante alemão Carl Weege teve com a esposa Auguste. E foi através do pai que adquiriu o gosto pelos negócios.
Inaugurado em 1901, o primeiro comércio vendia de tudo, desde alimentos, tecidos e utensílios, a pregos e ferramentas, além do excedente produzido pelos colonos. Entre os anos de 1918 e 1924, Hermann entendeu que era possível expandir seus negócios com o beneficiamento de itens como carne e leite, implantando o frigorífico, a indústria de laticínios e embutidos.

E assim, o Complexo do Weege foi ganhando forma com a loja comercial, a fábrica de tintas, a fábrica de banha, o frigorífico, a fábrica de latas e caixas, o defumador e a fábrica de laticínios. Com a consolidação da produção e já pensando em uma expansão de mercado para outras regiões, Hermann cria a marca Olho, em 1930, com o sucesso da produção de queijos fundidos, um produto que, era inédito no Brasil até então.

Produção: Colaboradores da antiga Firma Weege: João Nascimento, Etla Weidgenant/Wigdner e Erna Knopf.Além da linguiça Blumenau, a fábrica produzia outros embutidos suínos. Foto: Acervo Museu Pomerano

Em uma entrevista ao Testo Notícias em 2019, o neto de Hermann, Jost Weege (in memoriam), disse que seu avô já tinha uma marca denominada Navio. Mas ele achava que não correspondia ao que precisava para apresentar as suas linhas de produtos. Em uma viagem para Santos (SP), e após uma conversa com um representante na década de 1930, surgiu o primeiro esboço da marca Olho, “porque um bom olho enxerga um bom produto”.
Linguiça, salsicha e queijo fundido foram apenas alguns dos produtos que a Weege fabricou e comercializou. Mas que garantiram fama nacional, por sua qualidade e sabor inconfundível.

Tradicional: A marca Olho, criada por Hermann Weege, tornou a linguiça Blumenau reconhecida além das fronteiras de Santa Catarina. Foto: Jonathas Albuquerque/Testo Notícias

Com o tempo, a linguiça produzida em Pomerode, que na época era o distrito do Rio do Testo (Blumenau), passou a ganhar fama fora da região. Era comum que as pessoas pedissem pela “linguiça de Blumenau” para os comerciantes ou aqueles que passavam pelo Weege.
Ano após ano, a linguiça pura, que seguia os padrões de produção dos imigrantes, com carne, sal, pimenta e uma boa defumação passou a ser reconhecida como linguiça Blumenau, única e de sabor inigualável. Já o primeiro registro do rótulo da linguiça Blumenau no Ministério da Agricultura é de 1977.
Em 1999, a Weege Indústria Alimentícia Ltda e sua coligada Weege S.A Indústria de Lacticínios, oficializaram o pedido de autofalência, encerrando suas atividades a pouco menos de dois anos para completar o seu centenário. Por um tempo, os produtos de sabor inigualável, assim como a parte estrutural do Complexo Weege ficaram apenas na memória de muitas pessoas.
Mas, o legado imaterial, assim como as marcas e as receitas que conquistaram gerações, começaram a voltar ao mercado. Pouco tempo depois, segundo Luiz Antonio Bergamo, sócio diretor da Olho Embutidos e Defumados, houve a oportunidade de compra da marca e do resgate da tão tradicional e famosa linguiça Blumenau. “Eu sempre digo que foi agraciado com a oportunidade de conduzir a marca Olho.”
Luiz conta que o Sr. Nelson Ziehlsdorff havia comprado da massa falida a marca Olho e tinha a proposta de investir na fabricação de embutidos. “Eu vim para Pomerode para trabalhar com o Sr. Nelson, que na época queria resgatar a história do pai, Guilherme, que trabalhou por 60 anos no Weege na produção de queijo fundido.”
Para o empresário é muito gratificante dar continuidade a uma história muito sólida que já perdura mais de 100 anos. “Hermann Weege foi um grande visionário e foi dele a primeira movimentação para registro da linguiça Blumenau como produto regional. Cabe a nós seguir os padrões que eles deixaram, e isso é uma herança verdadeiramente maravilhosa.”

Centenária: Luiz Antonio Bergamo fala sobre o respeito e a honra de poder manter o legado da marca Olho e a tradição da linguiça Blumenau. Foto: Jonathas Albuquerque/Testo Notícias

Em Pomerode Fundos, o amor pela charcutaria

Foi na década de 1940 que o avô de Edson Zinnke, Lauro Guenther, veio de Gaspar para trabalhar na conhecida Firma Weege. Com o trabalho duro, Lauro juntou dinheiro para comprar algumas terras na localidade de Pomerode Fundos. “Logo depois, ele, ao lado da esposa Renate, abriu a Comercial Lauro Guenther. Ele queria ter seu próprio frigorífico e investiu tudo o que tinha no seu sonho.”
A proposta era, além da criação de suínos e das atividades do frigorífico, manter um mercado e também a fabricação de embutidos e defumados. Ano após ano, o frigorífico se consolidou, ganhando prestígio pelo atendimento e pelos produtos de qualidade. “Quando eu era criança, já acompanhava meu pai e meu avô nas tarefas da propriedade. Lembro muito bem como eles cuidavam de tudo com muito carinho e dedicação.”

História: Edson Zinnke herdou do avô a paixão pelo trabalho e o cuidado com cada produto feito pela empresa mantida pela família desde a década de 1940. Foto: Jonathas Albuquerque/Testo Notícias

Edson assumiu, ao lado da esposa Marieta, os negócios mantidos pelo pai e o avô em 1997. “Sou a terceira geração no frigorífico criado pelo meu avô e sempre digo que acho que nasci com gosto por tudo isso. Assumir os negócios da família foi uma responsabilidade muito grande. Trago dentro de mim o que aprendi com cada um deles.”
Atualmente, o Frigozinnke é o responsável pela produção de mais de 70 itens diferentes provenientes de carne suína, entre embutidos, charcutaria nobre e cortes especiais. “Mas a linguiça Blumenau continua a ser o nosso carro-chefe e um dos nossos itens mais elogiados e procurados.”
Para Isadora Zinnke, que hoje administra a empresa ao lado do pai Edson Zinnke, fazer parte da história da empresa e também da perpetuação do legado e da tradição da linguiça Blumenau é algo imensurável. “Não tenho palavras para expressar o que significa poder dar continuidade à história iniciada pelo meu bisavô. E poder participar de todo esse trabalho de Identificação Geográfica foi muito gratificante. A relação que criamos com todos os produtores de linguiça Blumenau se estreitou muito, a conquista é um marco importante para a nossa história. Esse é um produto que traz muita bagagem histórica.”

Memórias: Lauro Guenther deu o pontapé inicial ao frigorífico e comércio em Pomerode Fundos. Foto: Jonathas Albuquerque/Testo Notícias

Receita centenária e uma iguaria reconhecida

A linguiça Blumenau, feita partir de carne suína e defumada artesanalmente ganhou não apenas o paladar dos moradores da região do Vale do Itajaí, mas apaixonados além dos limites de Santa Catarina.
Segundo Edson, o segredo da iguaria é a escolha das carnes de qualidade, acrescida de temperos frescos e uma boa defumação. “Há gerações, a receita e o tempero são os tradicionais da nossa família e de muitos moradores da região. O segredo do sabor único são os ingredientes, o modo de preparo e a defumação. No tempo do meu avô, a linguiça Blumenau era chamada de linguiça pura”, declara.

Trabalho: Para Edson Zinnke, a linguiça Blumenau é uma herança de família e uma aposta para o futuro . Foto: Arquivo Frigozinnke

Luiz reforça que todos os fabricantes de linguiça Blumenau hoje têm o mesmo entendimento do que precisa ser feito para manter a tradição e a originalidade da receita centenária. “O princípio da qualidade em todos será sempre o mesmo. Ela não é feita de recortes, não é feita de carne de cabeça, precisa obrigatoriamente ser feita de pernil, paleta e toucinho. E também de uma defumação que cada um tem a sua particularidade. Eu entendo que isso é o que faz com seja diferente das demais.”

Receita: Colaborador da antiga Firma Weege no preparo das massas para a produção das linguiças. Foto: Acervo Museu Pomerano

Uma fábrica no passado, espaços para a Cultura no presente

Quem passa pelo Centro Cultural de Pomerode talvez não saiba que o antigo complexo do Weege abrigou uma das mais ricas e prósperas fábricas de toda a região. Foi na Firma Weege também que a história da linguiça Blumenau começou a ser contada.
Todo o conglomerado de construções hoje tombado já foi, em um passado próspero, a fábrica de laticínios, o frigorífico, o defumador, a fábrica de latas, a garagem e expedição, a caldeira, o prédio da administração e do supermercado.
No atual Teatro Municipal de Pomerode, inaugurado em 2009, ficava o chiqueiro onde eram criados os porcos. Já o matadouro ocupava o espaço em que hoje está a Secretaria de Turismo e Cultura, e a câmara fria era na atual Sala de Cinema.
O beneficiamento das carnes bovina e suína em embutidos era feito no espaço atualmente ocupado pela Biblioteca Municipal de Pomerode, e a câmara de defumação estava locada onde hoje ocorre toda a parte do serviço de bar (bebidas) para os eventos que ocorrem no Centro Cultural de Pomerode.
Cada uma dessas áreas, bem como a parte de produção de banha, queijos e outros produtos é identificada por meio de uma planta do Centro Cultural e placas numéricas nas portas de cada espaço.

Receita: Colaborador da antiga Firma Weege no preparo das massas para a produção das linguiças. Foto: Acervo Museu Pomerano

Um legado para o futuro

No início de 2024, a linguiça Blumenau foi reconhecida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) com o registro de Indicação Geográfica (IG). Um trabalho iniciado pela Associação das Indústrias Produtoras de Linguiça Blumenau (ALBLU), com o auxílio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/SC).
Para Isadora, que é vice-presidente da ALBLU, o reconhecimento é um passo muito importante para os 16 municípios catarinenses. “A associação iniciou suas atividades em 2020 com o interesse de proteger os nossos produtos, garantindo que eles sejam feitos com a mesma qualidade e que as receitas tão tradicionais sejam perpetuadas da melhor forma possível.”
Produtores de Pomerode, Gaspar, Blumenau, Timbó, Indaial, Rio dos Cedros, Doutor Pedrinho, Benedito Novo, Rodeio, Presidente Getúlio, Ibirama, Rio do Sul, Lontras, Aurora, Agronômica e Laurentino agora podem usar a denominação “linguiça Blumenau”. “Eu sempre digo que linguiça Blumenau é qualidade e são as pessoas se dedicando à produção desse produto, tudo é preparado com muito carinho. Todos os envolvidos estão sempre buscando aprimorar a fabricação. Linguiça Blumenau será sempre sinônimo de tradição, amor e família”, complementa Isadora.

Reconhecimento: Isadora Zinnke fala sobre o trabalho da Associação das Indústrias Produtoras de Linguiça Blumenau para a conquista do registro de Indicação Geográfica. Foto: Jonathas Albuquerque/Testo Notícias

Nossa história preservada através das nossas memórias

1915

Die landwirtschaftliche Produktions und Konsumgenossenschaft Carijó wurde 1906 als Zweigstelle der Muttergesellschaft namens Carijó in einem kleinen Dorf zwischen Indaial und Timbó gegründet. Im Jahr 1915 wurde die Genossenschaft verkauft, wobei der kommerzielle Teil von Georg Haut übernommen und zum Sitz von Comercial Haut wurde. Der Tanzsaal hingegen wurde von Gustav Zastrow gekauft.

Acervo: Heike Weege/Fotos Antigas Pomerode

2024

A Cooperativa Sociedade Agrícola de Produção e Consumo Carijó foi fundada em 1906, como a filial da matriz sediada em um pequeno povoado situado entre Indaial e Timbó, denominado Carijó. Em 1915 a cooperativa foi vendida, a parte do comércio foi adquirida por Georg Haut e passou a abrigar o Comercial Haut. Já o salão de bailes foi comprado por Gustav Zastrow.

Foto: Marta Rocha/Testo Notícias

*** Extraído do Fascículo 03 da Série Histórica – Pomerode: sua história, sua cultura, suas tradições (Departamento de Cultura/Prefeitura de Pomerode – 1986).

Agradecimentos

Associação das Indústrias Produtoras de Linguiça Blumenau (ALBLU) • Olho Embutidos e Defumados • Frigozinnke • Dirceu José Zimmer (tradução) • Roseli Zimmer • Museu Pomerano • Departamento de Cultura de Pomerode • Heike Weege/Fotos Antigas Pomerode

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