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A transformação cultural de um patrimônio histórico

Muitos foram os caminhos até a revitalização e transformação do Complexo Weege

Você sabe qual é a história centenária por traz do Centro Cultural de Pomerode? Iniciada em 1901, a Firma Hermann Weege, inicialmente um comércio de secos e molhados, prosperou e fomentou o desenvolvimento agrícola e econômico do então Distrito do Rio do Testo.

Por isso, a revitalização do Complexo Weege tem grande valor para Pomerode. É um marco para a cidade, atraindo visitantes e salvaguardando o patrimônio histórico e cultural para as atuais e futuras gerações.

Único e cheio de histórias: Projeto buscou manter a essência do Complexo Weege, restaurando estruturas
sem descaracterizar a arquitetura original. Foto: Acervo Museu Pomerano

Recortes do passado de glória

Segundo a historiadora Roseli Zimmer, o casal Friedrich e Henriette Weege com os seus filhos Friedrich, Carl, Augusta e Albertine chegaram à Linha Colonial Rio do Testo em 1868. Estabeleceram-se em Pomerode Fundos e dedicaram-se à agricultura. Nos últimos decênios do século XIX a família instalou uma atafona (engenho de milho) e uma casa comercial.

Hermann Weege, nascido em 1877 e filho mais velho de Carl e Auguste Weege (nascida Grützmacher), estudou em Blumenau e depois trabalhou em comércios em Itajaí e em Curitiba. Retornou ao Rio do Testo em 1900 trazendo na bagagem a experiência adquirida no comércio.

No ano seguinte casou-se com Pauline Karsten. Com a ajuda de seu pai e sogro estabeleceu uma casa comercial na margem esquerda do Rio do Testo.Roseli explica que, inicialmente, a loja comercial fazia troca de produtos agrícolas e fornecia mercadorias como ferramentas, tecidos, trigo, açúcar e querosene para os moradores locais. “Não demorou muito para esse volume de compras e vendas aumentar.”

Fotos: Acervo Museu Pomerano

Com o tempo, a empresa começou a comprar suínos dos produtores locais, abrindo um abatedouro atrás da casa comercial. “Aos poucos, ele vai conseguindo estabelecer essa rede de comércio com os moradores daqui, levando os produtos do Distrito para os outros lugares.”

Na década de 1910, o negócio se expandiu ainda mais, com a criação de uma usina para geração de energia e o Hotel Pomerode, que inicialmente hospedava representantes comerciais. “A fábrica de laticínios, onde atualmente está localizado o Museu Pomerano, também foi uma das estruturas construídas.”

Em 1915, por influência de Hermann Weege, foi construída uma ponte de ligação entre as margens do rio, facilitando o transporte e a instalação de um posto de gasolina na década de 1920. “Hermann Weege também batalhou bastante pela questão da melhoria das estradas na região, principalmente para garantir o escoamento dos produtos feitos pela sua empresa em Pomerode.”

Hermann também se envolveu na política, sendo vereador em Blumenau e deputado estadual pelo Partido Republicano. “Ele sempre foi uma pessoa de bastante destaque, bastante visão e com um olhar atento para oportunidades e para o futuro.”

Complexo Weege: Estrutura incluía um abatedouro, fábrica, comércio e espaços para a produção e beneficiamento de produtos agrícolas. Fotos: Acervo Museu Pomerano

De acordo com a historiadora, o Complexo Weege, que hoje é o Centro Cultural, produzia uma variedade de laticínios e embutidos, com certificação estadual e federal para venda em outros estados, como a marca Olho, até hoje reconhecida em todo o Brasil. “É impossível lembrar o nome de todos os produtos feitos pelo Weege, vários tipos de queijos e também embutidos, banha, caseína, tinta, fábrica de latas para embalar os produtos e tantas outros itens.”

Os principais produtos feitos pela Firma Wegge eram linguiça, banha, presunto, fiambre, mortadelas, salsichas, produtos de salamaria, toucinho, torresmo, carnes defumadas, queijo prato, queijo minas, queijo pecorino, queijos fundidos e manteiga.

No auge de produção e comercialização, a estrutura do Complexo Weege incluía um abatedouro, fábrica, comércio e espaços para a produção e beneficiamento de produtos agrícolas, laticínios e embutidos. Eram 140 funcionários, 800 fornecedores de leite e 400 fornecedores de suínos. Dependiam direta e indiretamente da empresa cerca de 5500 pessoas. “Vai ter o beneficiamento do leite em laticínios e da carne suína e bovina em embutidos. Então, vai ter o açougue, vai ter a queijaria, a fábrica de laticínios e tudo sempre com um cuidado extra para a limpeza e a qualidade do que era fabricado.”

Em sua nomenclatura ao longo da história, a Firma Hermann Weege passou a ser Indústria e Comércio Hermann Weege S/A até a década de 1970. Depois, durante as décadas de 1980 e 1990 a empresa passa a ser denominada Weege Indústria Alimentícia Ltda.

O Complexo do Weege, segundo Roseli, foi parando suas atividades aos poucos, até que em 1999, o Supermercado Weege fechou suas portas, encerrando um passado grandioso e cheio de memórias. “É muito importante lembrarmos de todo esse passado e de toda a luta e a construção da cidade em si. Parte de todo o desenvolvimento econômico de Pomerode passou pelo Complexo Weege.”

Lembranças de um tempo de trabalho no Complexo Weege

Essa é uma história repleta de memórias e transformações ao longo dos anos. Uma delas é a de Mário Frahm, que dedicou grande parte de sua vida ao trabalho na antiga Firma Weege, acompanhando as mudanças e desafios enfrentados pela empresa.

Mário começou a trabalhar no local aos 14 anos, após sua Confirmação na igreja. Inicialmente, exercia suas funções na queijaria, onde a sua tarefa era lavar queijos parmesão, que precisavam de cuidados mensais para amadurecer adequadamente. “Eu comecei cedo porque na época meu pai disse que sozinho não conseguia dar conta das despesas da casa.”

Posteriormente, Mário passou pela expedição, onde ajudava a preparar os pedidos para a venda em cidades como Itajaí e Blumenau. Seu trabalho envolvia não apenas a organização dos produtos, mas também a entrega porta em porta, uma tarefa árdua em um tempo onde as estradas eram de terra e as bicicletas, o principal meio de transporte. “Eu conheci praticamente todos os moradores aqui da região e as entregas tinham que ser pontuais.”

Com o passar dos anos, Mário assumiu diferentes funções dentro da Firma Weege. Ele trabalhou no balcão da loja, onde aprendeu a lidar com a venda de produtos variados e a gerenciar as relações com os clientes. Depois, com a abertura do supermercado, Mário foi designado para a seção de ferragens, um setor que cresceu significativamente devido ao boom da construção civil na região. “Por muito tempo foi minha a responsabilidade de abrir a loja, tinha que estar cedinho lá todos os dias.”

Após sua aposentadoria, Mário não abandonou o trabalho. Ele retornou à Firma Weege em diferentes ocasiões, contribuindo com suas habilidades em várias áreas, incluindo vendas e administração. Sua dedicação ao trabalho é evidenciada por sua longa carreira, que totalizou cerca de 60 anos de carteira assinada, em sua maioria no Weege. “Acho que se não fosse meu joelho ainda estaria trabalhando em algum lugar.”

Em suas memórias Mário afirma que o Complexo Weege, além de ser um local de trabalho para ele, era também um importante centro de produção. Lá, fabricava-se banha, linguiça, salsicha, salame e queijo, produtos que eram reconhecidos pela sua qualidade superior na região. “Muita gente não sabe, mas foi o Weege que começou a fazer a linguiça Blumenau, que hoje é tão famosa. As salsichas também eram as melhores de toda a região.”

Conversa: Roseli Zimmer, Mário Frahm e Roseana Struck Lunghard se reuniram no Centro Cultural para relembrar episódios
da história centenária do local. Foto:Jonathas Albuquerque/Testo Notícias

A empresa também produzia tinta em pó, conhecida como caseína, que foi um sucesso antes da popularização das tintas plásticas. Mário Frahm recorda com detalhes a estrutura do Complexo Weege, incluindo um sistema de trilhos que transportava gado do outro lado da rua até o abatedouro. “O Weege tinha uma estrutura completa, inclusive uma granja onde ficavam os porcos, e uma usina lá no Salto, para fazer a energia e por muito tempo foi o único com luz própria. Acho que para dar conta de tudo, mais de 100 pessoas trabalhavam em toda a estrutura.”

Ele também lembra da explosão da caldeira, um evento trágico que marcou a história do local. “Isso foi na época do meu pai, que também trabalhou no Weege. Foi uma explosão tão grande na caldeira, que uma parte da estrutura foi para os ares. Muita gente que morava perto disse que escutou o barulho, de tão forte que foi, e muitos funcionários acabaram se machucando, acho que uns 10 ou 12.”

Ao refletir sobre o legado do Complexo Weege, Mário expressa sentimentos mistos ao ver a antiga estrutura transformada no atual Centro Cultural de Pomerode. Embora reconheça a importância do novo uso do espaço para a comunidade e o turismo, ele não pode deixar de sentir nostalgia pelo que foi um importante capítulo de sua vida e da história econômica da região. “Eu acho que o Weege fechou por algum descuido, não sei dizer.  Era uma das empresas mais importantes de toda a região, muita gente trabalhou lá e os produtos eram muito bons. Uma pena que tudo tenha chego ao fim.”

Foto: Acervo Museu Pomerano

O abandono e a proposta de recomeçar

A revitalização do espaço começou em 2002, com o objetivo de preservar um grande referencial histórico da cidade. Em 2003, sob a gestão da então prefeita Magrit Krueger, uma oportunidade surgiu com a notícia de que os terrenos e prédios da antiga Firma Weege seriam colocados à venda, atraindo o interesse de várias imobiliárias e investidores, que talvez não entendessem a importância de tudo o que foi vivido naquela estrutura.

REVITALIZAÇÃO: Após desapropriação do Complexo Weege em 2002, foram iniciadas as obras dos espaços que hoje fazem parte do Centro Cultural de Pomerode. Fotos: Acervo Museu Pomerano

Magrit compartilha que, na época, a cidade contava apenas com a Biblioteca Municipal e o Auditório da Prefeitura para a realização de atividades culturais, além de espaços particulares como clubes de caça e tiro. Foi nesse cenário que a ideia de transformar o Complexo Weege em um Centro Cultural começou a tomar forma. “Quando soube do leilão, apresentaram-me um projeto para um Centro Cultural naquele espaço central da cidade”, recorda.

A proposta prometia revitalizar o complexo, trazendo vida nova aos prédios históricos e oferecendo à comunidade um espaço multifuncional que abrigaria museu, teatro, música, dança, arte, artesanato, escultura e até uma nova biblioteca. “Fiquei encantada com as possibilidades que aqueles prédios poderiam oferecer aos pomerodenses.”

Embora muitos dos edifícios estivessem em estado razoável de conservação, outros estavam significativamente deteriorados. Magrit relembra que o primeiro passo foi uma ampla limpeza do terreno, que estava tomado pelo mato. “Após aquela etapa, pudemos visitar os prédios e confirmar que aquele era o local ideal para o Centro Cultural de Pomerode.”

Foto: Acervo Museu Pomerano

Para garantir que o terreno não fosse vendido junto com os demais lotes da antiga Firma Weege, foi emitido um Decreto de Desapropriação em 2003. “Isso foi fundamental para que o projeto se concretizasse”, explica.

As obras de reforma e construção foram realizadas de maneira progressiva, por etapas. Um dos momentos mais significativos foi a inauguração do Teatro Municipal em 2009, que marcou um avanço importante para o projeto.

Hoje, ao passar pelo Centro Cultural ou ao visitá-lo, Magrit sente-se imensamente feliz e orgulhosa por ter feito parte de uma mudança que transformou o antigo Complexo Weege em um dos locais mais visitados de Pomerode. “É uma grande conquista para a cidade e para todos os pomerodenses”, concluiu.

Entrevista: Ex-prefeita Magrit Krueger falou sobre a revitalização do Complexo Weege para transformá-lo em Centro Cultural de Pomerode. Foto: Arquivo Pessoal

A missão de salvaguardar com um novo olhar

O Complexo Weege, um conjunto de construções centenárias que já haviam conhecido dias de glória, estava em ruínas, com telhados desabando e estruturas comprometidas pelo tempo. Foi então que a arquiteta Roseana Struck Lunghard assumiu a missão de salvaguardar e revitalizar o espaço, transformando-o em um vibrante Centro Cultural, um projeto que redefiniu também o patrimônio histórico de Pomerode. “Sabíamos que todo o Complexo Weege corria um sério risco de deixar de existir.”

Roseana, que já havia trabalhado na Secretaria de Planejamento e Patrimônio Histórico, estava ciente da necessidade de proteger o patrimônio histórico da cidade. Com a criação do primeiro Plano Diretor em 1996, ela elaborou um inventário de bens merecedores de proteção, o que foi fundamental para o início do processo de revitalização do Complexo Weege. “Esse foi o primeiro bem histórico tombado pelo município, os demais estão no inventário, com um grau de proteção.”

Segundo a arquiteta, a revitalização não foi um esforço solitário. Com a ajuda do maestro Aristeu Klein (in memoriam), então na Diretoria de Cultura, e com o apoio da prefeita Magrit Krueger, foi criado o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e a Lei de Tombamento Municipal em 2002. “Essas medidas garantiram a proteção necessária para que o projeto pudesse avançar.”

Centenária: É dentro do Museu Pomerano que está a estrutura mais antiga do Complexo Weege, uma parede da antiga queijaria datada de 1918. Foto: Jonathas Albuquerque/Testo Notícias

Já a outra parte do Complexo, localizada no outro lado da rua, foi leiloada e adquirida por empresas privadas, que também tiveram como missão manter as características do que outrora funcionava naquele local. “Acho que todos foram muito felizes na forma como conduziram suas propostas e me orgulho de também ter feito parte delas.”

Já o projeto de Roseana para o Centro Cultural foi dividido em várias etapas, com a ajuda financeira do Governo Estadual e do Fundo Nacional de Cultura. A arquiteta buscou manter a essência do complexo, restaurando estruturas sem descaracterizar a arquitetura original. “Muito da parte estrutural estava mantida, mas o telhado não tinha condições e grande parte já tinha caído. Então quando iniciamos as obras tentamos manter ao máximo as estruturas de tesouras que podem ser vistas pelo lado de dentro de alguns galpões e são tão lindas.”

Roseana explica que a biblioteca, exposições, salas de cultura e o museu são exemplos de como o espaço foi reinventado para abrigar atividades culturais diversas. “Entramos com muitos elementos novos, mas tentamos manter ao máximo as características de cada espaço como telhas, rebocos, tintas e pisos. Não queríamos descaracterizar, a ideia é que as pessoas olhassem para cada lugar e pudessem pensar no passado e nas histórias contadas ali.”

Centro Cultural de Pomerode: Espaço foi pensado para abrigar eventos e atividades variadas bem no coração de
Pomerode. Foto: Marta Rocha/Testo Notícias

Para ela, o maior desafio foi realizar as adequações necessárias sem perder a originalidade do complexo. “Tivemos que eliminar partes de paredes internas, para poder fazer a ligação entre os diversos ambientes, mas nada que comprometesse a leitura de como eles se relacionavam entre si, eu acho que o resultado foi muito bom.”

Mesmo mantendo a originalidade de toda a estrutura do antigo Complexo Weege, um ponto destacado também por Roseli e reforçado por Roseana, é a importância da acessibilidade do Centro Cultural. “Ele é acessível a todas as pessoas, independentemente de sua condição física e eu falo isso sobre todos os espaços.”

Para o futuro, Roseana destaca que a revitalização do Museu Pomerano e a transformação do antigo defumador em um espaço cultural, que estavam no projeto original, são propostas que podem ser realizadas com ganhos para toda Pomerode. “No Museu Pomerano seria possível ainda recuperar os aspectos originais da fachada da antiga queijaria.”

Para Roseana, a escolha de revitalizar os espaços do Complexo Weege e transformá-los no Centro Cultural de Pomerode é algo que vai muito além do Turismo. “O espaço se tornou o coração do município. Quando olhávamos para tudo aquilo, de certa forma abandonado bem no centro da cidade, sabíamos que merecia um novo destino. E acho que os ganhos são para todos e principalmente para a manutenção da história para o futuro.”

Foto: Marta Rocha/Testo Notícias

Nossa história preservada através das nossas memórias

1886

Auf dem Foto ist die im Jahre 1886 gegründete alte Almirante Barroso-Schule in Testo Rega zu sehen. Links daneben vorbei führte die Hauptstraße nach Jaraguá do Sul. Das Gebäude wurde auch für evangelische Gottesdienste, Bibelstunden und den Konfirmandenunterricht genutzt. Heute befindet sich auf dem Gelände die evangelische Kirche der Rega-Gemeinde, während die Schule in der Rua Morro Strassmann untergebracht ist.

Foto: Acervo Museu Pomerano

2024

No registro a antiga escola Almirante Barroso, em Testo Rega, que foi fundada em 1886. Do lado esquerdo passava a estrada geral para Jaraguá do Sul. O prédio também era usado para cultos evangélicos, estudos bíblicos e ensino confirmatório. Atualmente no local está a construção da Igreja Evangélica da Comunidade de Rega, já a escola tem sua sede localizada na Rua Morro Strassmann.

Foto: Marta Rocha/Testo Notícias

Agradecimentos

Mário Frahm • Magrit Krueger • Roseana Struck Lunghard • Roseli Zimmer • Dirceu José Zimmer (tradução) • Museu Pomerano • Departamento de Cultura de Pomerode • Heike Weege/Fotos Antigas Pomerode • Ellen Vollmer (in memoriam) • Jost Weege (in memoriam)

Confira um pouco mais da história de transformação do Complexo Weege em Centro Cultural de Pomerode:

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