A história do Clube Cultural Caça e Tiro 15 de Novembro começou a ser contada na década de 1960. Na época, o agricultor Augusto Lindemann, a pedido de uma das filhas, decidiu fundar um salão ao lado de sua residência. Assim, no dia 23 de outubro de 1966, a primeira ata da Sociedade Cultural Caça e Tiro 15 de Novembro é assinada pelos 32 sócios fundadores.

O legado de Augusto Lindemann
Foi um pedido de Ingrid, a filha mais velha de Augusto Lindemann que fez com que ele começasse a pensar em montar um salão ao lado da casa da família, na localidade de Testo Alto. “Minha irmã queria muito que ele abrisse um salão para atender os operários que trabalhavam no Morro do Schmidt. Muitos já paravam aqui, então ela via nisso uma oportunidade de um negócio para a família”, conta Magrid Milchert.
A trágica perda de Ingrid, com apenas 14 anos, fez com que Augusto desistisse da ideia por um tempo.
“A perda dela abalou muito meus pais”, relembra Magrid. “Mas então veio o Pastor da comunidade conversar com eles e pediu para que meu pai e minha mãe não desistissem. Se aquele era o desejo da filha, eles deveriam continuar”, complementa Marli Viebrantz, outra filha de Augusto Lindemann.

As irmãs guardam muitas memórias da época em que o salão foi construído e inaugurado. “Quando eles estavam construindo o salão, eu tinha um carrinho de mão, eu brincava, pintava coisas ali, e assim foi crescendo”, conta Marli, com um sorriso nostálgico.
Ela recorda o desfile de inauguração, quando, aos cinco anos, carregou o mastro da bandeira ao lado de outros pequenos representantes. “Eram dois casais, eu com mais um menino e mais uma menina e um menino, e daí tinha quatro moços grandes, aí eles carregavam a bandeira.”
Marli fala com admiração sobre o salão original, uma estrutura de madeira que sempre estava cheia de vida e alegria. “Meu pai sempre fazia o baile de aniversário dele. Tinha aniversário em janeiro, meu pai no dia 21 e minha mãe dia 23. Aí eles faziam o baile, com entrada grátis e sempre lotava.”
Magrid, hoje com 69 anos, também lembra com carinho dos primeiros anos do clube. “Nós sempre ficávamos ansiosos com a chegada de cada nova festividade. Todo ano tinha a celebração do Natal, daí nós tínhamos que colocar as mesas primeiro, depois nós podíamos ir.”
O clube foi palco de muitas realizações para as irmãs e sua família. “Eu era muitas vezes rainha e princesa”, revela Magrid.

Segundo elas, muitas foram as mudanças ao longo dos anos, tanto nas festividades, quanto na estrutura. Com o passar dos anos, o clube evoluiu e um novo salão foi construído. “Logo depois o antigo já foi demolido”, lembra Marli.
Augusto e sua esposa, infelizmente, não chegaram a ver a última reforma feita no telhado. “A mãe completou 87 anos quando ela faleceu em 2009. E nosso pai tinha 92, faleceu em 2013, mas tenho certeza que estariam orgulhosos da história do clube.”
Magrid e Marli, cada uma a sua maneira, continuam a contribuir para o clube. Para Marli, o Clube 15 de Novembro representa mais do que um legado familiar, é um compromisso com a comunidade. “Hoje em dia, eu estou trabalhando na cozinha e amo fazer cucas, com a mesma receita da mãe. Me sinto muito orgulhosa desse trabalho e de poder continuar, meu marido também ajuda como garçom quando pode.”
O envolvimento de Magrid com o clube também sempre foi muito além das festividades. No entanto, o falecimento do marido, em 2020, a afastou um pouco das atividades. “Eu trabalhei muitos anos aqui, muitos, e gostava mesmo.”
Magrit ainda mora ao lado do 15 de Novembro e como há muitos anos, mantém uma cópia das chaves do salão para abri-lo quando necessário. “Eu faço isso desde a época do meu pai, quando estava vivo, ele sempre abriu também.”
Olhando para o futuro, as irmãs expressam preocupação com a apatia dos jovens em relação às tradições. A esperança das duas é que as próximas gerações possam continuar a escrever a história que começou com um sonho da irmã Ingrid e foi levado adiante pelo pai, Augusto Lindemann. “Os mais jovens, eles não se interessam mais muito, como antigamente. Não sabemos como será o futuro, mas gostaríamos que essa história ainda tivesse muitos capítulos.”
As memórias da família Trettin
A história do Clube Cultural Caça e Tiro 15 de Novembro se entrelaça com a vida de Guido Augusto Hugo Trettin, um sócio dedicado que, aos 77 anos, ainda encontra energia e alegria nas atividades do clube. Guido é filho de Arno Trettin, sócio mais antigo ainda na ativa, com 97 anos de idade, e iniciou sua trajetória em 1968. “Ele sempre foi um grande exemplo para mim.”
Em uma conversa repleta de memórias, Guido falou sobre os primórdios do clube, quando ainda era conhecido como Salão Lindemann, e compartilhou as transformações que testemunhou ao longo de décadas. “Antigamente só tinha bailes, que eram feitos nas casas e, às vezes, só uma gaita para animar, com os primeiros salões isso começou a mudar”, recorda.

Entre as memórias, Guido se lembra com carinho dos bailes de rei e rainha, das competições de tiro pressão e das festividades que reuniam a comunidade. “Nos primeiros bailes não tinha mesa, não tinha nada, só tinha um banco no redor, sabe? E aí todo mundo, as moças, as mulheres ficavam ali. Já os homens ficavam no balcão. E quando a música começava a tocar, aí todo mundo corria pra pegar uma mulher pra dançar”, conta sorridente.
De acordo com Guido, com o passar dos anos, o clube evoluiu e se adaptou às mudanças dos tempos, com alterações na programação de eventos, a construção da nova sede e a reforma, anos mais tarde. “Os bailes eram muito tradicionais, além do rei e rainha, que eram feitos separadamente e sempre tinha desfile e marcha, os bailes do colono e de Natal sempre reuniam muita gente.”
Sobre a atual sede, Guido ainda se recorda de como era o antigo Salão Lindemann, todo de madeira e como os sócios, anos mais tarde se reuniram para construir uma nova e ampla sede. “Além de construir o primeiro salão, o Sr. Augusto Lindemann doou o terreno onde hoje está a atual sede, fundada em 1991.”

Olhando para o passado, Guido expressa sua preocupação com o futuro dos clubes, e observa que os jovens parecem cada vez menos interessados nas tradições. “Eu acho que os jovens, hoje em dia não querem mais saber disso e apesar de sempre convidarmos, fica mais difícil fazer eles participarem das atividades e isso é em todos os clubes de caça e tiro.”
No entanto, ele mantém um sentimento de esperança e orgulho pelo legado que o 15 de Novembro representa. “Sou sócio desde o início e se precisar de uma ajuda, eu sempre estou aqui pra ajudar. Quando tem festas de rei e rainha, a competição do tiro e essas coisas todas, sempre estou com a equipe e os sócios. Acredito que nós temos que fazer isso e enquanto eu puder, mesmo com a idade chegando, continuarei fazendo.”
Guido também elogia o atual presidente do clube, destacando sua coragem e dedicação, Adir Siewert. “Nós temos um ótimo presidente, esse presidente vale muita coisa, é como a gente diz um ‘senhor presidente’, ele teve a coragem de reformar esse salão, a estrutura e tudo aqui. Claro, nós ajudamos também, mas a ideia de começar a reforma foi dele.”
Um clube que uniu corações
Assim como Guido, Elário Kressin também se tornou sócio do Clube Cultural Caça e Tiro 15 de Novembro inspirado pelo pai, Arno Kressin. “Ele se associou um ano depois da fundação, em 1967, e eu três anos depois, em 1969.”
Além de um local para encontrar os amigos e confraternizar, para Elário, o clube foi palco de sua duradoura história de amor com a esposa Úrsula. Há 50 anos, o casal selou seu compromisso em uma cerimônia que reuniu amigos e familiares. “Nós nos casamos no dia 28 de setembro, dia do meu aniversário. A festa ainda foi feita no antigo salão de madeira, fundado por Augusto Lindemann”, relembra Úrsula.

E assim, o amor entre os dois floresceu no mesmo lugar onde, anos depois, celebrariam suas Bodas de Prata e, mais recentemente, as Bodas de Ouro. “Acho que o Clube faz parte da nossa história. A festa das nossas Bodas de Ouro foi feita aqui em setembro, no mesmo dia que casamos.”
Durante todos esses anos, o casal viveu intensamente cada momento no clube. Úrsula, com seu talento culinário, sempre esteve na cozinha, ajudando para que cada festa tivesse o sabor da união e da alegria.
Já Elário, com suas habilidades práticas, ajudou na construção e revitalização do espaço, erguido com o suor de muitos voluntários. “Eu ajudei na construção da atual sede e também da reforma, que começou no dia 03 de janeiro, quando derrubamos o telhado. Em seguida foi instalada a armação de ferro, para depois continuarmos com a madeira e a recolocação do telhado.”

Com o passar do tempo, segundo o casal, as festas se transformaram, mas a essência permaneceu. “Antigamente as festas de rei e rainha eram feitas separadamente, juntava em torno de 100 pessoas em cada desfile, era uma festividade muito bonita e todos se reuniam para participar.”
Juntos, o casal se orgulha da união que mantém ao longo dos anos e das muitas histórias vividas no 15 de Novembro. E, apesar das incertezas, quanto ao futuro dos clubes de caça e tiro, Elário e Úrsula continuam a participar das festas e atividades, mantendo viva a chama que os uniu há tantos anos. “Sabemos que é difícil para manter as novas gerações, nossos filhos, por exemplo já não se interessam tanto por tudo isso. Mas acreditamos que, enquanto houver pessoas dispostas a se dedicar, o clube continuará a ser um símbolo de união e tradição para a comunidade.”
Um local de encontros onde a cultura e a tradição florescem
Para o atual presidente do Clube Cultural Caça e Tiro 15 de Novembro, Adir Siewert, o 15 de Novembro é mais do que um clube. “Acredito que ele seja um símbolo de união, resistência e tradição para a comunidade de Pomerode.”
A história de Adir com o clube começou em 2005, quando ele, então tesoureiro da comunidade da Igreja Cristo Salvador, de Testo Alto, foi convidado a se associar durante uma pastelada beneficente. A partir daquele momento, Adir percebeu a importância do clube para a comunidade e decidiu se envolver cada vez mais, até assumir a presidência em 2016, função que desempenha com dedicação até hoje.

Ao longo dos anos, o Clube 15 de Novembro passou por transformações significativas. Uma das mais marcantes foi a reforma estrutural, iniciada em 2018, que contou com o apoio incansável dos associados e da comunidade local para o sucesso de todas as etapas. “A nossa comunidade é fantástica e todos se uniram com o mesmo propósito. Desde o início e em todas as etapas, todos mantiveram o foco nessa obra que era tão importante”, destaca Adir.
Durante o processo, segundo o presidente, surpresas e imprevistos ocorreram na reforma. “Em apenas um dia o grupo que estava trabalhando aqui conseguiu tirar todas as telhas para então iniciar a colocação da parte de ferro, que já estava montada atrás do salão. Foi um trabalho muito bem planejado, mesmo assim, em outra fase, tivemos que trocar o piso do salão e era algo que não estava no nosso orçamento.”
Para ele, um dos maiores desafios atualmente é manter viva a cultura do clube, incentivando novos associados, especialmente os jovens, a se envolverem e valorizarem a história e as tradições. “Acredito que a principal função do Clube é essa confraternização, uma característica muito forte, que conseguimos manter ao longo dos anos, e isso é fantástico. Ao contrário de muitos clubes e mesmo com todas as dificuldades, sempre trabalhamos para trazer os jovens para nossas atividades. Trabalhamos sempre em trazer e manter os associados.”
Atualmente, o Clube Cultural Caça e Tiro 15 de Novembro tem 150 sócios e é conhecido por suas festividades tradicionais, como as festas de rei e rainha do tiro, do dado e do pássaro, além de eventos como o baile de chope e a escolha das realezas mirim e adulta. Além das festas, o clube oferece um espaço aberto à comunidade, com atividades que vão desde a ginástica para a terceira idade até encontros escolares e comunitários.

Adir Siewert acredita que o clube não é apenas um espaço de lazer, mas um pilar de educação, religião e diversão para a comunidade. “As pessoas precisam valorizar aquilo que está na sua localidade, precisam valorizar aquilo que é da comunidade.”
O presidente do clube também destacou o papel dos clubes de caça e tiro como espaços de preservação da cultura dos imigrantes, ressaltando que o tiro ao alvo, muitas vezes mal interpretado, é uma prática esportiva e cultural legítima, trazida pelos imigrantes e mantida viva até hoje. “Isso também é uma forma de preservar as memórias e as tradições deixadas pelos nossos antepassados”, ressalta.
Para o futuro, Adir afirma que muitos projetos já estão sendo pensados, principalmente na parte estrutural. “Não podemos parar e já temos projetos de uma área esportiva completa, novos banheiros, troca de piso, tudo para oferecer o melhor aos associados e visitantes do Clube.”
Adir também expressou seu orgulho e gratidão pelo clube e pela comunidade que, juntos, mantêm vivo o espírito de união e resiliência do Clube Cultural Caça e Tiro 15 de Novembro. “Aqui o uniforme é regra e é uma forma de valorizarmos e mantermos nossa história, todos os associados se sentem orgulhosos em manter esse costume. Afinal, o Clube 15 de Novembro é história, é tradição e essa essência nós não podemos perder”, conclui.
Nossas histórias preservadas através das nossas memórias
Erbaut im Jahr 1928
Das 1928 erbaute Haus von Hermann Schwanke zeichnet sich durch ein geräumiges zweistöckiges Haus, ein Mansardendach und eine für die normannische Architektur charakteristische Form namens „Krüppelwalmdach“ aus. Im Inneren, direkt am Eingang, verfügt die Residenz auch über eine zentrale Treppe in die zweite Etage.

2024
A Casa de Hermann Schwanke, construída em 1928, se destaca por ter um sobrado amplo, telhado com mansarda e formato característico da arquitetura normanda conhecida como “Krüppelwalmdach”. Em seu interior, logo na entrada, a residência possui também uma escada central para o segundo piso.

Agradecimentos
Adir Siewert • Magrid Milchert • Marli Viebrantz • Elário e Úrsula Kressin • Guido Trettin • Dirceu José Zimmer (tradução) • Roseli Zimmer • Departamento de Cultura de Pomerode • Edson Klemann • Clube Cultural Caça e Tiro 15 de Novembro