O casal Hildegard, 79 anos, e Haroldo Siewert, 82 anos, completou 60 anos de uma união que tem como ingredientes o amor, o companheirismo e, acima de tudo, o respeito. “Acho que hoje está mais fácil e muita gente perdeu o valor das coisas. Acredito que talvez o verdadeiro segredo de um casamento de tantos anos é um não largar o outro, sempre ficar junto e em todos os momentos”, garante Haroldo.
Os dois se cruzaram pela primeira vez quando ainda eram crianças. Na época, os pais de Hildegard mudaram-se do Vale do Selke Grande para o Wunderwald, quando ela tinha apenas sete anos. Já Haroldo nasceu e cresceu na propriedade da família que fica no alto de uma colina, próximo à divisa entre Pomerode e Blumenau. “Quando eu estava em casa, às vezes via o Haroldo com os pais na roça, acho que foi amor à primeira vista”, confessa Hildegard entre sorrisos.
Daqueles olhares ingênuos entre os vizinhos na infância, o casal acabou se aproximando mesmo já na juventude, quando começaram a frequentar os bailes promovidos pelas sociedades das localidades vizinhas e também as festas que eram feitas pelos colonos em suas próprias residências. “Esses feitos em casa eram bem melhores. Todo sábado tinha um baile diferente, todo mundo ia e voltava a pé. E eu acabava a acompanhando até em casa”, relembra Haroldo.
Durante os bailes um sempre dançava com o outro, mas Haroldo confessa que no começo a amada era difícil, mesmo sabendo que o sentimento era recíproco. “Quando um ou outro baile acabava, ela dava um jeito de sair de fininho, mas eu dava um jeito de ir atrás dela.”
Pouco tempo mais tarde, o casal decidiu que era hora de engatar o namoro que, no começo, mesmo os dois morando bem próximos, só era permitido aos sábados e domingos. “Durante a semana a gente não tinha tempo para namorar, era trabalhar na roça e ajudar os pais com os afazeres da propriedade.”
O pedido de casamento chegou três anos depois. A festa foi celebrada no dia 18 de maio na casa da família de Hildegard, para 70 convidados. “Os casamentos eram mais simples que hoje em dia e já começavam de tardinha. Depois, era um músico e um bandoneon que animavam as pessoas.”
Já casados, os jovens foram morar na casa de Haroldo, já que esse era filho único. Um começo difícil porque se dedicavam exclusivamente ao trabalho na roça. “E dali a gente tirava o nosso sustento e foi desasa forma que criamos nossos filhos. Plantávamos milho, aipim, batata doce e outras coisas também. Tínhamos um pouco de porcos para vender, cortávamos palmito no mato, vendíamos lenha em metro e também tínhamos algumas vacas de leite.”
E as dificuldades do jovem casal também estavam relacionadas ao deslocamento da casa até o centro de Pomerode ou à cidade vizinha, Blumenau, já que as estradas eram muito ruins no passado. “Eu lembro que quando a Prefeitura abriu a estrada, ela era bem estreita e só passava um boi e uma zorra. Quando tinha 38 anos consegui comprar um jipe, mas a estrada era tão ruim, que uma roda passava no barranco”, conta Haroldo.
O leite que família vendia para uma indústria de laticínios da cidade também precisava ser deixado no início da serra que dá acesso à casa da família. O trecho era percorrido todas as manhãs por Hildegard. “Saía com o bule nas mãos até lá embaixo e em meia hora eu já estava de volta”, se recorda orgulhosa.
Depois do saudoso jipe, o casal comprou um fusca e hoje ainda mantém um Fiat Uno responsável por conduzi-los até em viagens curtas como as idas aos encontros da Melhor Idade, promovidos pela Prefeitura de Pomerode e o Clube Sênior do município. “Ele gosta de jogar cartas e eu de dançar.”
No começo a propriedade também não tinha energia elétrica e quando essa chegou, era fraca e precisava ser compartilhada de forma camarada pelos vizinhos. “A luz era bem fraca e a gente podia ter somente quatro lâmpadas em casa. Quando um vizinho ligava a máquina de cortar trato, o outro mais para baixo tinha que desligar a sua.”
Hildegard e Haroldo tiveram quatro filhos: Rovena, Reno, Cristina e Osni. Hoje o casal tem também dez netos, nove bisnetos e uma trineta. “Seriam cinco filhos, mas eu perdi uma menina, que nasceu aos setes meses de gestação. Infelizmente ela só viveu um pouco mais de 30 horas”, lamenta a matriarca da família.
É nas memórias da infância que Cristina guarda doces lembranças dos pais e da vida simples que tinham em um dos lugares mais bucólicos de Pomerode. Hildegard e Haroldo nunca pensaram em se mudar. “Não são muitos casais que chegam até 60 anos de casados, nós fomos criados na simplicidade, mas tivemos uma infância muito feliz.”
E foi esse sentimento de amor pelos pais e o carinho com que foram criados que fez com que os filhos se unissem para promover a festa das Bodas de Diamante, realizada no dia 28 de maio. “Eles não comemoraram nem as Bodas de Prata e também não conseguiram nas Bodas de Ouro. Então, procuramos um salão, as filhas se encarregaram de fazer todos os bolos, cucas e doces para o café. Já os filhos cuidaram mais da parte do almoço”, afirma Cristina.
A festa reuniu familiares e amigos mais próximos, um momento para ficar guardado na memória de todos. O casal é unânime ao defender que o sentimento que tiveram naquele dia foi o mesmo vivido há 60 anos. Já os filhos desejam que os pais cheguem até os 100 anos. “Até que estivermos juntos e que Deus permitir, vamos cuidar um do outro”, declara Hildegard. “Se sou casado, tenho que olhar a minha esposa e não a dos outros. O segredo é o respeito e muito companheirismo”, complementa Haroldo.