Reaprender a caminhar, a falar e a encontrar a felicidade. Esses foram os desafios que Wilson Pereira, de 64 anos, precisou enfrentar após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) que lhe causou sequelas.
Na verdade, essa foi mais uma das dificuldades que lhe empurraram para perto do convívio com as plantas, sobretudo, do cultivo de orquídeas. Wilson começou a gostar da espécie ainda na adolescência, com 14 anos, quando ajudou a prima a cultivar algumas delas.
A partir daí, sempre gostou de tê-las por perto, como um hobby. A carreira profissional lhe encaminhou para o ramo de vendas, em uma transportadora. Porém, após anos de atividade, teve um grave problema que atingiu as vértebras da coluna.
O problema o levou a consumir analgésicos fortes que, nem assim, conseguiam vencer as dores. A esposa de Wilson, Angela Pereira, de 47 anos, conta que em dado momento ele pediu mais analgésicos ao médico, que negou o pedido e orientou o paciente a procurar por alguma atividade que pudesse distraí-lo da dor, funcionar como uma terapia.
“Ele perguntou ao Wilson o que ele gostava de fazer, ele respondeu: ‘cultivar orquídea’. A orientação foi para que fizesse isso. Compramos mais espécies e ele começou a cultivá-las em casa”.
Após mais de três anos de recuperação, Wilson recebeu alta e resolveu mudar de profissão, mais do que isso, seguir um propósito de vida: cultivar orquídeas. Começou a participar de feiras e exposições. Quando a pandemia chegou, as atividades foram paralisadas e ele, que já tinha formado uma cartela de clientes, precisou buscar novas maneiras para se conectar com eles.
Primeiro a ferramenta escolhida foi a internet, depois optou por empreender e abrir um orquidário e suculentário. Porém, a vida preparou mais um intenso desafio. Justo quando estavam ampliando a estufa, Wilson sofreu o AVC.
A rápida ação dos socorristas e médicos ao aplicarem um conjunto de práticas conhecidas como “Protocolo AVC” salvaram sua vida, porém, um dos coágulos chegou ao cérebro e causou sequelas. “Eu sempre vou agradecer a Dra. Marine, que salvou minha vida. Toda homenagem que puder fazer será pouco”, destaca.
Quando voltou para casa, precisou reaprender uma série de habilidades, como caminhar e falar. Com muita fisioterapia, apoio da esposa, o desejo intenso de continuar cultivando suas orquídeas e muita disposição, ele começou a dar pequenos passos em direção a uma recuperação impressionante.
O Shangri-lá Orquidário e Suculentário, que hoje integra a Rota do Imigrante, precisou ficar fechado por algum tempo, mas Wilson não queria desistir. Aos poucos ele começou a retomar as atividades e passava muito tempo cultivando as orquídeas. Angela esteve ao lado do esposo durante toda caminhada. “Quando os clientes chegavam, eu os recepcionava e explicava o que tinha acontecido. No começo, ficava junto com o Wilson, depois comecei a deixá-lo sozinho com eles e ele foi reaprendendo a conversar, reencontrando as palavras.”
Wilson, que conhecia o nome de todas as espécies e os detalhes sobre como cultivá-las, se emociona ao lembrar-se da árdua batalha para que seu cérebro reencontrasse as conexões para que pudesse novamente atender as pessoas e falar da atividade que tanto ama.
Wilson ainda tem sequelas, nem sempre se lembra de todos os nomes, mas pesquisa quando necessário e, o mais importante, explica e ensina a todos que visitam o espaço qual a forma certa de cultivar cada uma das plantas, seja orquídea ou suculenta. “As plantas nos ensinam que tudo na vida é um ciclo. É preciso paciência, cuidado e atenção”, ensina.