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Uma profissão para compartilhar o respeito à vida

Bombeiras voluntárias de Pomerode falam sobre suas experiências como socorristas e motoristas de veículos de resgate

Bernadete, Ivanir e Fernanda encontraram no Corpo de Bombeiros Voluntários de Pomerode muito mais que um trabalho, mas inúmeras formas de ajudar o outro. No dia a dia dividem seu tempo com suas profissões, a família e as atividades como socorristas e motoristas de ambulâncias e veículos de resgate.

Um trabalho muito além de uma missão

A primeira experiência de Bernadete de Lourdes Iachechen D’Oliveira foi na indústria têxtil onde trabalhava em 2007. “Na época fiz meu primeiro curso de bombeiro e de lá para cá, nunca parei de me aperfeiçoar. Foram oito anos como brigadista.”

Bernadete conta que muitas foram as situações no caminho de casa para o trabalho em que acabou ajudando e, por isso, sabia que precisava buscar por aperfeiçoamento para fazer ainda mais. “Em 2014 me inscrevi no curso de formação para bombeiro voluntário de Pomerode e estou lá até hoje. E minha maior inspiração sempre foi o desejo de ajudar as pessoas.”

A técnica em Segurança do Trabalho explica que dentro da Corporação não atua apenas em uma função específica. “Tenho especialização em várias coisas, então faço o que é necessário. Sou socorrista, motorista, atuo no resgate veicular, resgate aquático, combate a incêndios entre outros. Não são todos que atuam em todas as áreas, por isso quem é preparado para todos os tipos de emergência nunca tem uma função específica.”

De acordo com Bernadete, nem sempre é fácil conciliar a rotina diária com a dos plantões como bombeira voluntária. “Mas quando o desejo é maior, isso é como se fosse uma terapia, a sensação de fazer o bem não tem explicação, é algo que nos renova, nos dá forças de onde nem imaginamos.”

Missão: Bernadete fala sobre o orgulho do trabalho que desenvolve e o legado que quer deixar. Foto: Marta Rocha/Testo Notícias

Além do trabalho como Técnica em Segurança do Trabalho e a atuação como bombeira voluntária, Bernadete ainda dá treinamentos, trabalha aos fins de semana como brigadista particular e muitas outras atividades. “Faço cursos, pratico atividade física, faço parte de dois grupos da escola da minha filha, cuido da casa, da minha filha e de todas as obrigações sozinha”, afirma.

Como motorista de ambulâncias, Bernadete ressalta não ter encontrado muitas dificuldades no início. “Só um pouco de medo e insegurança no começo, mas nunca deixei transparecer para a equipe. Assim como também nunca sofri nenhum tipo de preconceito por exercer a função. Pelo contrário, todas as mulheres são incentivadas, mas nem todas têm coragem de assumir tanta responsabilidade.”

Para Bernadete ser bombeira é mais que um dom, é algo que tem que estar dentro de cada pessoa. “Ser bombeira é ser a luz para alguém que está na escuridão. A esperança ao meio a incerteza, o acalento de alguém em desespero, o consolo, o ombro amigo, Enfim, muito difícil descrever tudo o que isso representa para mim.”

De todos os anos em que atua como bombeira voluntária muitas foram as histórias que marcaram Bernadete. “E é quase impossível descrever uma só. Mas uma que me marcou muito, foi de uma moça que foi atropelada quando desembarcou do ônibus. Eu estava vindo do trabalho, a equipe dos bombeiros não estava no local ainda, então parei para ajudar.”

Bernadete relembra que quando chegou próximo à jovem, percebeu que ela estava se asfixiando com o próprio sangue devido o trauma que havia sofrido. “Então tentei mantê-la acordada enquanto a equipe chegava. Ela segurou bem forte na minha mão e me olhou como se tivesse pedindo para eu salvá-la.”

Após os primeiros atendimentos prestados pela equipe de bombeiros, a feminina foi encaminhada ao hospital. “Dois dias depois soube que ela veio a óbito. Mas aquele pedido de socorro ficou na minha memória.”

Para o Dia do Trabalhador, Bernadete deixa uma mensagem de esperança. “Todos temos as mesmas oportunidades, sejam elas no trabalho ou de fazer o bem a alguém. O que determina o que vamos ser, ou o que vamos deixar como legado é o fazemos com essas oportunidades. Buscamos ser melhores ou simplesmente ignoramos a necessidade do outro?”, indaga.

Bernadete ressalta também a importância do voluntariado, independente de qualquer instituição. “Ajudar alguém, de alguma forma, nada mais é que plantar hoje para colher amanhã. E mais importante que isso, é nunca fazer algo pensando em retorno. E nem para parecer para alguém que você é bom. Ajudar é ter o espírito voluntário que vem da alma, não precisa ninguém nos obrigar.”

Sempre prontas para ajudar, em qualquer situação

Foi inspirada no trabalho do noivo, Niomar Hass, que já atuava como bombeiro voluntário há 22 anos, que Ivanir Maas, 37 anos, decidiu que era hora de começar também. “Sempre tive e tenho muito orgulho dele. Quando podia eu ajudava nas atividades como pasteladas e pedágios, mas nunca tinha pensado em ser uma voluntária.”

O chamado ao coração de Ivanir chegou no dia em que o casal retornava de Blumenau e acabou presenciando um acidente de trânsito. “A colisão tinha acabado de acontecer e o Niomar foi prestar ajuda. Eu fiquei de lado, não sabia o que fazer, me senti muito mal, por estar lá e não conseguir fazer nada. Acho que esse foi o clique que faltava para me tornar uma voluntária, de poder socorrer a quem precisa.”

Como bombeira voluntária desde 2016, muitas foram as funções exercidas por Ivanir dentro da corporação de Pomerode. “Estamos sempre disponíveis e aptos para atender qualquer tipo de ocorrência. No curso de formação aprendemos de tudo, nos tornamos multifuncionais, podendo atender em todas as áreas. Mas com a convivência nos atendimentos acabamos nos identificando com uma em específico. Ultimamente estou mais nos atendimentos das ambulâncias, mas sempre disponível para atuar em todos os tipos de ocorrências.”

Segundo Ivanir, sua intenção nunca foi dirigir algumas das viaturas do Corpo de Bombeiros Voluntários de Pomerode, pois seu foco sempre foi o atendimento. “Mas sempre procuro poder fazer mais, ajudar mais. Então, acabei fazendo o curso de condutor de veículos de emergência.”

Ajudar o próximo: Ivanir viu no trabalho como socorrista a oportunidade de servir quando o outro mais precisa. Foto: Marta Rocha/Testo Notícias

A bombeira reforça que todas as funções desempenhadas pelos bombeiros voluntários são de muita responsabilidade e cuidado. “E você nunca está sozinha, sempre está com uma equipe. E antes de efetivamente sair para uma ocorrência, você passa por práticas e treinamentos. Primeiro começa trazendo a ambulância de volta do hospital, fazendo saídas, balizas no pátio e assim evoluindo.”

Para Ivanir, que é estilista em uma grande indústria têxtil de Pomerode, o trabalho como bombeira voluntária é algo que já faz parte do seu dia a dia. “É um lugar que me faz muito bem. Poder ajudar as pessoas, é algo muito gratificante, muitos já me perguntaram se não ganhamos nada pago. Financeiramente não mas, com certeza, o melhor pagamento é você poder ajudar e ver no olhar das pessoas o quanto você foi importante para ela, isso não tem preço”, ressalta.

Atualmente os plantões de Ivanir são feitos em datas fixas. “Sempre às sextas-feiras à noite. Esse é o meu compromisso de toda a semana, e ela só é normal e completa se tem plantão na sexta, é muito bom estar lá”, garante.

Muitos foram os plantões e as histórias que ficaram marcadas na vida de Ivanir, em especial uma envolvendo um bebê de apenas 13 dias de vida. “Quando atendi um ovace de uma menina, a mãe me entregou a criança já molinha, sem respirar. Comecei a fazer os procedimentos e, em poucos segundos, a criança voltou a respirar e a ter os movimentos. Lembro-me que foi a melhor sensação que já experimentei, um alívio de ter conseguido. Depois levamos ela até o hospital para avaliação e estava tudo bem”, relembra emocionada.

Para o Dia do Trabalhador, a mensagem de Ivanir é um convite ao voluntariado. “Faça algo que você goste e que te faça bem. Muitas vezes, não é o salário que vai te proporcionar isso, mas sim fazer algo com prazer. E para quem quiser conhecer o trabalho dos bombeiros, a corporação está sempre de portas abertas.”

Voluntariado e novas experiências

Fernanda Neumann Pasold, 37 anos, passou a atuar no Corpo de Bombeiros Voluntários de Pomerode logo após a formatura, em 2019. “Sempre gostei da área da saúde, por esta razão me interessei em aprender mais sobre o assunto.”

Atualmente, está apta para várias funções, mas as principais são como auxiliar de socorrista e motorista, dirigindo caminhões de combate a incêndios e ambulâncias. “Hoje na corporação sou a única mulher apta a dirigir os caminhões e possuo CNH D. De resto sou igual às outras bombeiras que são motoristas. Assim como todas as mulheres, sempre somos muito respeitadas e incentivadas dentro da corporação.”

Segundo Fernanda, não há dificuldades em ser motorista de veículos de resgate. “Eu aprendi a dirigir com nove anos e sempre gostei muito. Além disso, meu trabalho hoje exige que eu dirija todos os tipos de veículos. Depois de ser um bombeiro formado, fica a critério do chefe de socorro quais atividades você vai desempenhar, mas todos devem estar aptos a fazer todas as funções, fora a de motorista que exige um curso extra.”

Trabalho: Fernanda é a única motorista mulher apta a dirigir caminhões no Corpo de Bombeiros Voluntários de Pomerode. Foto: Marta Rocha/Testo Notícias

Além de atuar como socorrista e motorista na Corporação de Pomerode, Bernadete também divide sua rotina com o marido e o trabalho em uma estética de carros. “Como faço plantões fixos durante a semana, fica mais fácil de conciliar com minha rotina e as atividades como bombeira.”

Do trabalho como socorrista e motorista, se recorda do dia em que atendeu um jovem que estava desacordado, após ter inalado muita fumaça em um incêndio. “Aquilo me marcou muito, escutar uma mãe gritando aos prantos, pedindo ‘por favor’ para que o filho voltasse.”

O rapaz foi encaminhado para o hospital, mas acabou não resistindo e, infelizmente, faleceu. “O grito desta mãe ecoava nos morros próximos, e parece que escuto até hoje a voz desta mãezinha.”

Para Fernanda, ser bombeira é ter o privilégio de auxiliar em vidas que, por algum motivo, estão abaladas fisicamente. “É aquela famosa frase: faça o que te faz feliz! Posso garantir que isso gera recompensas para nós e para os outros.”

Foto: Marta Rocha/Testo Notícias

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