Há quase 39 anos, em julho de 1983, ocorreu uma das maiores enchentes de Blumenau e 13 valorosos pomerodenses trabalharam dando apoio às pessoas atingidas. Eles estavam servindo voluntariamente no 23º Batalhão de Infantaria (BI) Jacinto Machado de Bittencourt, que fica em Blumenau. Um deles era Rudibert Kohls, 57 anos, que nasceu e sempre morou em Pomerode.
Ele conta que, naquela época, os rapazes de Pomerode não eram obrigados a cumprir o serviço militar. Porém, ele e mais 12 moços, no auge da juventude, queriam ser soldados e se alistaram. Foram selecionados no início de 1983 e em julho já tiveram uma das maiores experiências de suas vidas, que os marcaria para sempre: a grande enchente, lembrada por durar 32 dias e que em 09 de julho teve seu pico, com o Rio Itajaí-Açu atingindo 15,34 metros.
Todos os soldados têm um nome de guerra e um número. Rudibert usava seu próprio nome e o número 661, que não esquece até hoje. O soldado 661 conta que foi designado para dar apoio no Morro do Araranguá. Ali era um ponto do Exército de distribuição de comida e outras necessidades que as vítimas tivessem.
Naquela época ainda não existia a Defesa Civil em Blumenau e o 23º BI exercia esse papel.
Entre tantas lembranças, Rudibert diz que a que mais dói e ainda enche seus olhos de lágrimas, quando fala sobre o assunto, é das pessoas que ao receberem um prato de comida reclamavam e jogavam fora. “A maioria agradecia, mas tinha os que reclamavam do que estávamos servindo e jogavam fora, mesmo sabendo que tinha muita gente precisando. E o pior de tudo é que não podíamos fazer nada, a não ser lamentar pela falta de solidariedade”, relembra.
Entre as recordações também povoam flashes de quando sobrevoaram a cidade, com um helicóptero vindo do Rio Grande do Sul, e só viam um rastro de destruição, sujeira e prejuízo. “Deu muita tristeza ver a cidade daquele jeito”, comenta. Mas, assim que a água baixou, os soldados ajudaram, com muita alegria, na limpeza e reconstrução de Blumenau.
Naquela enchente, Pomerode não foi atingida de forma severa, apenas com alguns alagamentos. Por isso, os soldados estavam à disposição de Blumenau. Eles foram tão dedicados que, no desfile de 7 de setembro, eles receberam uma homenagem do 23º BI e foram permitidos de marchar em Pomerode. Os meninos tinham 18 anos e ficaram muito orgulhosos da homenagem e do reconhecimento dos seus conterrâneos.
O período no Exército nunca será esquecido pelos pomerodenses que entraram para a história ao participar do apoio à população durante a grande enchente de 1983. Mas também por ter sido um período de descobertas e aprendizados. Rudibert conta que eles recebiam meio salário mínimo e, por isso, não tinham como ir todos os dias para casa. As visitas à família ocorriam nos fins de semana e de acordo com a folga. Foi o período de fortalecimento das amizades e aprendizados, principalmente o de como se cuidarem longe da família.
Um pouco antes de completar 12 meses no Exército, ocorreu a primeira baixa e Rudibert pediu para sair. Até lhe perguntaram se não queria fazer carreira, mas preferiu voltar para casa e trabalhar na Malwee.
Com 22 anos, casou-se e é pai de três filhos. Construiu uma sólida carreira no setor têxtil e, atualmente, tem sua própria talharia. Irrequieto, está sempre fazendo alguma coisa e, por isso, de 2000 a 2011 foi bandeirinha da Liga Pomerodense de Desportos. Já foi eleito melhor bandeirinha do ano e participou de diversos campeonatos.
Rudibert sempre morou em Pomerode e nunca pensou em trocar de endereço. “Moro na Rota do Enxaimel, em uma propriedade grande com muito ar puro e apenas o barulho da natureza. Não saberia viver de outra forma. Tenho orgulho de ser de Pomerode.”
