Quando o assunto gravidez toma conta das rodas de conversa, sempre há alguma história diferente, engraçada e até assustadora para contar. É uma conhecida que ficou mais de um dia em trabalho de parto, outra que deu à luz na ambulância ou mesmo experiências vividas na maternidade. Mas não é muito comum ouvir falar de uma mãe que teve o filho em casa, sem nenhum tipo de amparo médico, certo? Esse foi o caso da Gabriele Hardt Greuel, de 31 anos, que deu à luz ao pequeno Tiago em casa e sem a presença de profissionais da saúde.
O marido de Gabriele, Aislan Henrique Greuel, também de 31 anos, é pastor pela Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Pomerodense, foi enviado para diversas cidades e, por isso, as duas outras filhas do casal nasceram em diferentes cidades. Letícia, de cinco anos, nasceu em Sorocaba, em São Paulo, e Luiza, de três anos, nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Em 2020, Aislan foi enviado para a Comunidade do Redentor no Centro de Curitiba. “Mas Pomerode sempre acaba sendo nosso ‘lar’ no meio de tantas idas e vindas pelas quais passamos”, destaca.
Além das duas pequenas, Gabriele sempre teve o sonho de ter três filhos, mas o marido nunca pensou na ideia. Mesmo assim, começaram a conversar e orar a respeito, já que ter três filhos envolvem, além de uma grande demanda, uma questão financeira que não se pode ignorar. “No fim das contas, decidimos abraçar com muita alegria esse sonho. Cremos que Deus deu essa paz no nosso coração”, pontuam.
A descoberta da terceira gravidez veio, então, de uma forma muito natural e sensitiva. Gabriele, já no começo do ciclo menstrual, começou a perceber algumas respostas de orações acontecendo. Por isso, alguns dias antes do previsto atraso, resolveu fazer um teste de gravidez. Uma linha muito clarinha confirmava o que já vinha sentido: estava grávida. “Comentei com o Aislan do resultado, mas falei que deveríamos esperar o atraso para confirmar. No dia que deveria atrasar a menstruação, fiz outro teste e confirmou o positivo”, lembra ela.
Para contar ao marido, a mamãe, agora de terceira viagem, montou uma caixinha com três peças de roupa, três testes de gravidez e três chupetas. “O body que usei para contar da gravidez de cada uma das meninas, o teste de gravidez de cada uma e a primeira chupeta de cada uma delas, junto agora com o body do Tiago, o novo teste de gravidez e a sua primeira chupeta.” Em cima, um bilhete especial foi escrito: “Obrigada por topar sonhar o meu sonho!”.
Parto tranquilo? Não nessa família!
Engana-se quem pensa que somente o parto do Tiago foi fora dos padrões, as outras duas experiências também não foram como o planejado. Com Letícia, primeira filha do casal, a bolsa estourou de madrugada e, de manhã cedo, Gabriele e Aislan foram para o hospital. Lá, as contrações começaram e foram seis horas de parto ativo.
No entanto, no momento em que foram para a sala de parto, já com dilatação total, a equipe médica percebeu que ela estava em sofrimento fetal, ou seja, os batimentos estavam caindo. “Só que ela não conseguia sair porque a cabeça estava um pouco de lado e presa na minha bacia. A médica conseguiu movimentar a cabeça e ela nasceu. Não nos mostraram ela porque estava em parada cardiorrespiratória, foi atendida, medicada e conseguiu reagir”, conta Gabriele. “Lembro dos médicos levando a Letícia completamente roxa, enrolada em alguns panos, sem choro, sem sinal algum, mas, depois de alguns procedimentos, ela chorou! Como dizem alguns médicos: ‘A Letícia ou sairia num caixãozinho ou teria todas as chances de ter alguns atrasos’, mas, por um milagre, não possui nenhuma sequela!”, complementa o pai.
Já com a Luiza, após fazerem ultrassom de rotina pela manhã, foi detectado baixo líquido amniótico. Diante disso, Gabriele mandou o exame para a obstetra que de imediato pediu para vê-la à tarde, no consultório. “Depois disso, ela analisou com mais calma o exame e, no fim da manhã, ligou direto para o celular do Aislan avisando que o líquido estava numa quantidade muito arriscada e marcou uma cesárea de urgência para o fim da tarde.” Ele recorda que o pensamento foi: “mas não vai ter nenhum parto ‘tranquilo’ nessa casa?”. “No fim das contas, a cesárea aconteceu super bem!”
O tão esperado momento
O primeiro sinal da vinda de Tiago aconteceu às 15h de 14 de março. Gabrielle, que já estava com 40 semanas, teve uma ânsia de vômito e, enquanto isso, seu quadril fez um barulho alto, momento em que teve uma forte contração, a primeira delas. Nesse momento, não pensou duas vezes e chamou o marido, que estava trabalhando, e pediu para que fosse para casa. “As contrações tinham acabado de começar, mas eu estava um pouco agoniada com a forma como elas estavam vindo”, explica.
Assim que ele chegou, decidiu ir tomar um banho para analisar se o trabalho de parto realmente havia começado ou se era apenas um alarme falso. Foi quando a água quente caiu pelas suas costas que as coisas se intensificaram. Com um aplicativo auxiliando a marcar as contrações, não havia tempo para mudar de posição entre uma e outra. “Nessa hora, passou pela minha cabeça de que talvez não desse tempo de chegar ao hospital.”
Antes de tudo isso acontecer rapidamente, o casal havia traçado um plano para quando o trabalho de parto iniciasse. A ideia era que os pais de Gabrielle, que moram em Joinville, fossem para Curitiba assim que a filha sentisse as primeiras contrações com o objetivo de cuidar das duas meninas. No entanto, se o plano tivesse seguido como o combinado, eles nunca chegariam a tempo.
Porém, sem saber explicar o motivo, o pai dela sentiu que precisava adiantar uma reunião com clientes que teria à tarde. Quando eram 14h, começou a ficar agoniado em casa e decidiu que iriam até a capital do Paraná mesmo sem a filha ter dito nada e sem sinal de trabalho de parto. O casal saiu, então, às 14h30min de Joinville.
Mesmo assim, Gabriele, que começou o trabalho de parto às 15h, sentiu que não daria tempo. Quando faltavam 40 minutos para os pais chegarem, pediu para Aislan ligar para Marisa, uma amiga deles e também o considerado plano B. “Nesse meio tempo, percebi que precisava tirar forças e sair do chuveiro antes que fosse tarde demais”. Ela conseguiu andar dois metros até chegar na porta do banheiro, se enxugou, começou a se vestir e, de repente, percebeu que a barriga havia diminuído e a virilha estava inchando para fora. “Foi quando me dei conta que o Tiago estava extremamente encaixado e descendo. Chamei o Aislan e pedi para ligar para a ambulância porque não daria mais tempo.”
Gabriele estava no quarto, ao lado da cama e sem conseguir se levantar do chão. Nesse momento, Marisa e a filha, Rafaela, chegaram. “Quando ela comentou que não daria mais tempo de irmos ao hospital e que nasceria em casa mesmo, saí correndo para fazer as ligações para Samu e Unimed. Enquanto isso, Marisa ficou sentada ao lado da Gabriele durante todo esse processo, a Rafaela ficou cuidando da Luiza que estava na sala brincando e eu, alucinado, fiquei ligando para os médicos. No fim das contas, cada pessoa desempenhou um papel importante para que tudo fosse feito da melhor forma”, comentou Aislan.
A médica do plano de saúde, que estava do outro lado da linha telefônica com o papai, perguntou em certo momento se alguém sabia fazer parto. “Eu respondi: ‘moça, ninguém sabe o que está fazendo aqui’. Ela, calmamente, disse: ‘então, pegue umas toalhas e fica na ligação comigo, esse menino vai nascer’.” Rapidamente, Gabriele conseguiu ver o topo da cabeça de Tiago, o segurou e, assim que saiu, sentiu algo estranho no pescoço dele. “Me toquei que era o cordão umbilical e, assim que desenrolei do corpinho, ele saiu, foi questão de segundos.”
O novo bebê respirava baixinho e com dificuldade, detalhe desesperador para os que estavam ao redor naquele momento. Mas, com o auxílio da paramédica que estava no telefone, alguns tapinhas de leve nas costas foram suficientes para um pouco de líquido sair do nariz e Tiago começar a chorar.
E os pais de Gabriele? Chegaram 15 minutos depois do nascimento, “justo na hora que precisávamos deles para pegar toalhas limpas para os paramédicos me atenderem, ficar com a Luiza e buscar a Letícia na escola. Foi como se tudo tivesse sido cronometrado e combinado!”.
Quando o casal olha para trás e analisa a história extraordinária que vivenciaram, chegam a uma conclusão, a de que Deus conduziu tudo isso. “Desde a vinda antecipada dos vovôs, a presença da Marisa e a tranquilidade e apoio que ela passou à Gabriele, a Rafaela cuidando da Luiza, a calma, confiança e concentração que Deus deu à Gabriele durante todo o processo de dar à luz sozinha ao nosso filho. Nossa única certeza é que Deus esteve à frente, não há outra explicação para nós.”