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Que bandeira carregamos?

Por Genemir Raduenz, Edson Klemann, Johan Ditmar Strelow e Cláudio Werling

Foto: www.pomerode.sc.gov.br
Brasão do município de Pomerode. A coroa de alvenaria simboliza a unidade administrativa e a segurança municipal. Na esquerda acima o escudo é ocupado pelo grifo da Pomerânia (destacado com círculo preto e editado por Genemir Raduenz). À direita o campo subdividido acima simboliza o artesanato na cor azul e logo abaixo em campo vermelho a roda branca representa a indústria de porcelana. Embaixo à esquerda em campo vermelho a figura representa as ferramentas típicas e originais dos colonos, já na direita embaixo uma harpia simboliza a fauna e o zoológico. No centro do escudo existe outro escudo menor, aparecendo em destaque as cores nacionais verde e amarelo, representando o sentimento da população. Abaixo em forma de laço destaque para o ano de 1863 que se refere ao início da colonização em Pomerode e 21 de janeiro de 1959 é a data da instalação do município.

Bandeiras sempre são repletas de significados e cada detalhe tem uma história para contar, afinal, quando as bandeiras e brasões são elaborados, procuram expressar os traços de um povo, seus costumes, suas tradições e suas principais características. Nessa perspectiva, uma comunidade precisa saber a relevância e o significado da “bandeira que carrega”. No ano que Pomerode completa 60 anos de emancipação, vamos discorrer um pouco sobre alguns aspectos históricos da nossa cidade e da Pomerânia. Um fato relevante foi quando Rio do Testo se tornou distrito de Blumenau em 1934 e se emancipou em 21 de janeiro de 1959. Na ocasião, foi nomeado como o primeiro prefeito provisório Guilherme Alípio Nunes, que governou até 31 de janeiro de 1961, quando assumiu o primeiro prefeito eleito Arnoldo Hass.

A primeira Festa Pomerana criada em 1984 na gestão do prefeito Eugênio Zimmer, ocorreu justamente em comemoração aos 25 anos de emancipação política/administrativa da cidade. Após a emancipação de Blumenau, era hora de Pomerode criar sua própria identidade. Em 18 de fevereiro de 1964 o prefeito municipal Arnoldo Hass institui a lei nº 74 que oficializa o brasão do município. Já em 05 de dezembro de 1969 pela lei nº 202 o prefeito Ralf Knaesel institui oficialmente a bandeira de Pomerode. Essa, apresenta ao centro o brasão do município e duas faixas horizontais, em azul simbolizando o amor e outra branca simbolizando a paz (esse é o significado atribuído pela lei).

O Brasão e a bandeira foram desenvolvidos pelo escultor e professor Erwin Curt Teichmann. Apesar da definição em lei das cores da bandeira de Pomerode simbolizarem amor e paz, entendemos que o azul e branco remonta de outra origem. Ao observarmos a bandeira da Pomerânia, ela tem uma composição muito parecida com a de Pomerode, no centro está o grifo da Pomerânia e há as faixas em azul e branco. O azul simboliza o mar (a vasta costa Báltica) e a faixa branca simboliza a areia das praias. No livro de Klaus Granzow de 1975 intitulado “Pommeranos unter dem Kreuz des Südens (Pomeranos sob o Cruzeiro do Sul)” na passagem dele por Pomerode, ele se impressiona e destaca: “As margens da estrada encontramos crianças loiras de cabelos cacheados indo para a escola. Elas usam orgulhosamente o uniforme azul e branco. Sendo as saias e calções de cor azul e as blusas e camisas brancas.


Imagem: https://www.schilderjagd.de/tag/pommern-greif//Gravura que remete ao grifo da Pomerânia. Compreende a fusão de uma águia e leão. Segundo a lenda, habitava a região da floresta de Greifswald o que dá origem ao nome desta cidade do Norte da Alemanha (remanescente da antiga Pomerânia). Compondo assim o nome da cidade: Greif (Grifo) e Wald (floresta).

Os homens e as mulheres que trabalham na roça estavam com o rosto queimado pelo sol, mas pareciam-me tão familiar como se já os tivesse encontrado numa rua na Pomerânia Oriental”. Klaus nasceu na Pomerânia e ao passar por Pomerode o azul e branco chamam sua atenção, além do sentimento de já conhecer as pessoas que encontrou. Ainda sobre a bandeira da Pomerânia, ao centro está o grifo que recebe um destaque especial. Helmar Reinhard Rölke descreve no livro “Descobrindo Raízes” as principais características do GRIFO: sempre na cor vermelha ele é apresentado em perfil, sendo a parte frontal na forma de águia de asas abertas representando a constante necessidade de VIGILÂNCIA deste povo (muitas guerras), pois a águia tem a característica de “enxergar bem”. A parte traseira do corpo representa um leão expressando a FORÇA dos pomeranos.


www.wikipedia.org/Bandeira da Pomerânia com as cores azul e branco. No centro o grifo da Pomerânia que também está inserido no brasão de Pomerode.

A referência mais antiga ao grifo data do ano de 1194. Nessa data a duquesa Anastasia, juntamente com seus filhos Bogislaw II e Kasimir II, doam à igreja Santa Maria de Kolberg, a vila de Buggentin. Esse documento de doação não existe mais em sua condição original, somente uma cópia do ano de 1384 onde o grifo é mencionado claramente. Inicialmente o grifo era usado como selo em documentos para comprovar autenticidade, sendo impresso numa espécie de massa/parafina. O grifo pomerano mais antigo e conservado é o que aparece num documento de 29 de setembro do ano de 1214. De forma curiosa, nesse documento os duques pomeranos Bogislaw II e Kasimir II conferem ao convento de Trebnitz na Silésia o direito de poder enviar uma vez ao ano um navio para a Pomerânia para comprar arenque (Hering), sem ter que recolher impostos.


www.pomerode.sc.gov.br/Bandeira de Pomerode com o tradicional azul e branco. Ao centro o brasão da cidade elaborado pelo escultor e professor Erwin Curt Teichmann.

Ao longo dos séculos o grifo se tornou símbolo de poder e foi adotado como brasão da Pomerânia. Muitos elementos evidenciam claramente a influência da Pomerânia na formação da identidade de Pomerode, o azul e branco de ambas as bandeiras e o grifo da Pomerânia no canto esquerdo superior do brasão da nossa cidade são aspectos por si só que fortalecem esse laço. Desta forma, vamos discorrer brevemente sobre alguns fatos históricos que se conectam com a origem do grifo da Pomerânia. Num recorte cronológico, podemos referenciar o povo chamado Wendes. Segundo Helmar Reinhard Rölke, eram nômades de origem eslava que aos poucos começam a se fixar próximo ao litoral do Mar Báltico, formando pequenas vilas. O trabalho na terra é aprimorado surgindo as primeiras colônias. Um povo hospitaleiro, perseverante, que se contenta com pouco sendo amante da liberdade. Eles também têm uma íntima relação com a natureza.

Na língua Wende o termo PO MORJE significa terra perto do mar. O Nome Pomerânia provém deste termo. Na Pomerânia a terra é baixa com muitos lagos e rios, por este motivo, muito propícia para a produção de alimentos. Rölke afirma que isso atraiu a cobiça dos povos vizinhos que começaram a se interessar e invadir esta região. Em função destas constantes invasões, os pequenos lavradores começam a procurar a proteção de famílias maiores e mais poderosas. Em troca, os lavradores precisam trabalhar para seus protetores. Com o tempo surge a figura do Duque. Os Duques são os chefes de uma determinada região e exercem sua autoridade organizando a vida de todas as classes. Os principais duques da Pomerânia eram da linhagem dos Grifos. Esta linhagem recebeu este nome porque adotou em seu brasão o Grifo, uma figura mitológica babilônica, grega e romana. Boa parte dos imigrantes pomeranos que vieram para Pomerode viviam nestes feudos, mais conhecido no Brasil como latifúndios. Em um parque bem cuidado com flores e árvores estava localizada a casa do senhor feudal. Era uma residência enorme, por isso, em alguns feudos lembrava um castelo. Na esquerda e na direita da casa feudal encontravam-se os celeiros e currais.


Revista: Os Caminhos da TerraCrianças num campo em Pomerode usando roupas brancas e azuis. Esse registro foi feito numa reportagem sobre as escolas de Pomerode para a revista Os Caminhos da Terra (Outubro 1966/Ano 5 nº10  edição 54).

Rölke ainda destaca que essa estrutura normalmente formava um quadrado, para que no centro pudessem ser construídos os esterqueiros. Nos fundos quase sempre ficava uma destilaria e ao seu lado se localizava a construção que abrigava os empregados domésticos. Do outro lado do caminho instalavam-se os servos camponeses que moravam em pobres choupanas. Nas palavras de Helmar Reinhard Rölke, tudo parecia um pequeno reino, isolado do resto do mundo. O dia a dia dos camponeses lembrava muito a vida do boia-fria brasileiro.


https://www.kurzurlaub-ostsee.de/usedom/fotos//Praia da região de Bansin situada atualmente em Vorpommern no norte da Alemanha (região pertencente à antiga Pomerânia). Observe o azul do mar e a areia branca que inspiraram as cores da bandeira da Pomerânia.

Logo cedo às 4h os servos começavam a trabalhar e terminavam por volta das 22h ou 23h. Rölke cita os relatos de Franz Rehbein que conheceu o cotidiano dos feudos na Pomerânia. Rehbein observa que de manhã recebiam uma sopa de trigo acompanhada de pão integral. Por volta das 10h havia um momento de descanso de 15 minutos que era anunciado através de um apito que o capataz usava. Para o almoço se tinha 45 minutos de intervalo. Comia-se um pedaço de pão com banha de porco e um trago de aguardente.


https://www.heraldry-wiki.com/heraldrywiki/index.php?title=File:Stettin.hagd.jpg/Brasão de Stettin. A cabeça do grifo remete ao da Pomerânia.

Por volta das 13h era servido o almoço que se constituía de ervilha, nabo amarelo, repolho e batata inglesa cozida com água e sal. Por vezes essa refeição era acompanhada de soro de leite. A carne era rara, mas se comia muito toucinho. Na noite era servida batata inglesa cozida em água e sal acompanhada de arenque (Hering). Os alimentos eram espalhados na mesa e não se usava pratos e nem talheres. Cada pessoa descascava as batatas e cortava o peixe com seu canivete, ingerindo os alimentos de qualquer jeito. Além de sofrerem com a extrema pobreza, os camponeses também padeciam com o açoitamento. Era permitido ao capataz espancar os empregados quando julgasse necessário. Os pomeranos eram amantes da liberdade, mas na situação em que se encontravam os camponeses dificilmente resgatariam ela. Para eles, tornar-se proprietário de terra era o mesmo que adquirir a liberdade.


Ireck Andreas Litzbarski/Brasão da província da Pomerânia com o grifo. Elaborado por Otto Hupp.

Um ditado pomerano diz: “A terra é nossa maior herança”. Com o início da industrialização surgem as máquinas a vapor, novos equipamentos agrícolas são inventados e o adubo mineral é sintetizado. Assim, todas as áreas da propriedade passam a ser cultivadas de uma só vez, não necessitando que uma parte da terra descanse. Isso naturalmente levou ao uso cada vez mais racional de equipamentos e pessoas. De repente sobra mão de obra no campo. E para complicar a situação, na Pomerânia Oriental havia poucas empresas para trabalhar.


Landkarte HEIMAT POMMERN, Adam Kraft Verlag 1993/Cada região da Pomerânia tem a sua representação de brasão/grifo. Mapa da Pomerânia com todos os Kreis e seus respectivos brasões/grifos.

Além disso a mão de obra dos camponeses era desqualificada para parte das indústrias. A fome passou a assolar as famílias que trabalhavam no campo devido à escassez de trabalho, estimulando milhares de famílias na busca de alternativas, e a melhor era imigrar para outros países. A maioria dos pomeranos se estabeleceu nos EUA e Canadá. Outros imigraram para Austrália e para o Brasil. Neste “Novo Mundo”, os pomeranos conquistam o bem supremo que é a liberdade. Contudo, não esqueceram a sua velha pátria e quando aqui chegam continuam a utilizar a Língua Pomerana para se comunicarem. As cores da bandeira da Pomerânia que simbolizam o azul do Mar Báltico e o branco da areia das praias, também foram preservadas na bandeira de Pomerode, bem como, o histórico grifo que é símbolo de força e vigilância, é eternizado no brasão do município. 

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