Onde fica a POMERÂNIA?

Por Genemir Raduenz, Edson Klemann, Johan Ditmar Strelow e Cláudio Werling

Breve história da terra dos imigrantes!

Frequentemente surge a pergunta, onde fica a Pomerânia? Na Alemanha? Na Polônia? Os Pomeranos são um povo eslavo, germânico? São questões que requerem uma breve contextualização dessa milenar história para compreendermos um pouco mais da longa e rica caminhada deste povo. A localização geográfica da Pomerânia atualmente compreende parte do território da Alemanha e da Polônia sendo banhada pelo Mar Báltico. No entanto, as atuais fronteiras da Pomerânia sofreram inúmeras alterações ao longo dos séculos. Primeiramente é preciso destacar que o continente Europeu era um caldeirão regido por grandes guerras, epidemias e fome.

Acervo Genemir Raduenz/Evolução ao longo de um milênio das divisas territoriais da Pomerânia.

Nesse contexto, a região do Mar Báltico sendo provida de terras férteis e um corredor de passagem de tropas e grupos populacionais, ou ainda, de reinos em conflito, sempre estava no centro de grandes devastações. Ainda na pré-história, no final da sexta era glacial (12 a 10 mil anos a.C.) o mar trouxe para as praias e terras da Pomerânia muitas sementes, plantas, pedregulhos e calcário das geleiras derretidas da Dinamarca e da Escandinávia como um todo. O resultado se revelou em terras muito férteis e sinônimo de disputas. Como PRIMEIROS HABITANTES da região que se tem registro, se destacam os Ruguérios, Lemovérios e Nuitones, tribos germânicas.

No entanto, por volta do século V num processo gradativo de migração, chegam a costa do mar báltico os eslavos denominados de Wenden, provenientes da margem esquerda do rio Dnieper (Ucrânia), ou seja, além dos primeiros habitantes germânicos os eslavos passam a marcar presença na região. Conforme algumas fontes, a partir de 1062 diversos líderes tribais germânicos e eslavos começam a se destacar nos grupos e a formar os DUCADOS POMERANOS, iniciando assim, o período da servidão dos habitantes desta região. O pesquisador José Heinemann relata que cada região comandada por um Duque, estabelecia em seus domínios uma série de requisitos a serem cumpridos pelos trabalhadores da terra.

https://www.pinterest.de/pin/744571750864826241/?lp=true/Mapa da Pomerânia antes da II Guerra Mundial. Uma demonstração das frequentes mudanças de fronteiras na região, destacando na linha vermelha a configuração territorial em 1938.

Certamente as suas inúmeras Leis protegiam sobretudo os poderosos, os clérigos e os que praticavam um relativo comércio, sobrando deveres em demasia a quem de fato trabalhava na terra. Cada ducado arrendava as suas terras e propriedades aos colonos e suas famílias. Nas áreas de matas, se podia cortar as árvores e galhos secos como lenha para o aquecimento nos dias de inverno. A região era permeada pela prática pagã, no entanto, por volta de 1124 e 1128 chega à Pomerânia o CRISTIANISMO quando o Bispo Otto von Bamberg por duas vezes percorreu as regiões localizadas desde Stettin (hoje Szczecin) até Belgard (hoje Bialogard).

Consta que nestas suas missões teria batizado 22 mil novos cristãos, fundado 11 igrejas e teria distribuído mudas de uva branca para o vinho da eucaristia. Alguns anos mais tarde em 1168 ocorreu a invasão dinamarquesa, quando o rei Valdemar I da Dinamarca com seu exército e bispos invadiu o povoado de Arkona na ilha de Rügen, local que ainda não tinha sido cristianizado. Atualmente nas escavações da região surgem descobertas de uma antiga população Pomerana. O doutor Ivan Saibel destaca que na verdade, uma história milenar da época da conquista da Ilha de Rügen pelos dinamarqueses está sendo desenterrada. Naqueles tempos, tropas estrangeiras saquearam e queimaram templos e vilas pagãs, para introduzirem a “ferro e fogo” a nova fé cristã e para desta forma consolidarem seu domínio na região báltica. Em 22 de julho de 1227, ocorreu a quase lendária batalha de Bornhöved, onde o povo pomerano, seus nobres e comerciantes venceram os dinamarqueses.

https://de.wikipedia.org/wiki/Datei:GustavII.Adolf.LandungPommern.JPG/Chegada do rei sueco Gustav II em terras Pomeranas no ano de 1630. As tropas suecas também invadiam a região, principalmente durante a guerra dos trinta anos.

A região próxima à costa do Mar Báltico sempre teve uma densidade populacional muito baixa, isto fez com que o Duque Barmin I (1220-1278) promovesse um assentamento de camponeses wesfalianos e a introdução de novos cavaleiros, comerciantes e artesãos do Baixo Reno e de Flandres (Bélgica), ou seja, estimulou a ocupação das terras ao leste do rio Oder. O Duque também levou para as terras Pomeranas uma série de inovações na área agrícola, como novos arados com pontas metálicas mais longas que substituíram os arados com pontas de madeira, modificando em muito o manejo da terra. Até então a alimentação dos povos do interior era a base de aves e animais, raízes de árvores e a pesca no Mar Báltico. A pequena revolução agrícola ocorrida durante o reinado do Duque Barmin I, levou à implantação de uma nova forma de cultivo nos campos. Além disso, para obter novas áreas de plantio, Barmin I ordenou a drenagem de pântanos e a formação de novas aldeias com mais moradias.

O seu reinado se caracterizou pela inserção na Pomerânia do cultivo de cereais, como trigo, cevada, lúpulo e aveia. Ainda no âmbito religioso, Johannes Bugenhagen, seguidor do teólogo Martim Lutero, a partir de 1530 foi o grande responsável pela introdução do LUTERANISMO. Seu trabalho foi de grande importância lhe rendendo o título de Doktor Pomeranus. A partir de 1534, por falar o idioma pomerano que era compreensível por todos, Bugenhagen em suas viagens, nas suas falas e preleções nas universidades, levou os ensinamentos luteranos ao povo pomerano, e aos poucos, passou a formar as comunidades luteranas com os moradores das aldeias. Pouco tempo depois, quando no reinado da Pomerânia-Stettin o Duque Johann Friedrich (rei no período de 1560 a 1592), adotou o luteranismo nos seus domínios, o exemplo também foi seguido pelo seu irmão Ernst Ludwig, Duque da Pomerânia-Wolgast. Assim, gradativamente o luteranismo se difundiu por toda a região.

https://br.pinterest.com/pin/619948704931728624//O rei da Prússia Frederico II montado em seu cavalo. Foi responsável pela introdução da batata na região da Pomerânia, o que contribuiu na alimentação de seu exército e também para a diminuição da fome do povo.

O Duque Johann Friedrich teve relevante atuação nesse processo, oficializando por exemplo em 1569 a substituição do latim pela língua alemã de Lutero na liturgia e no canto dos cultos luteranos. Também intermediou conflitos de terras a favor do Clero e enfatizou a atuação do pastor luterano dentro de uma vida simples e austera. Nessa ocasião o Duque Johann Friedrich ampliou consideravelmente seu poder. Posteriormente o Duque Bogislaw XIV (reinado de 1580 a 1637) que também havia governado a Pomerânia-Stettin e Rügenwalde de 1617 a 1625 e a Pomerânia como um todo de 1625-1637, não deixa herdeiros diretos, e seu cunhado, o Duque de Brandemburgo (da casa Hohenzollern) assume o trono. Desta forma, novamente houve a união de dois ducados Pomeranos, e mais tarde o ducado da Prússia também foi incorporado a esse território.

Irek Litzbarsky/As terras da Pomerânia com seu relevo predominantemente plano. O duque Barmin I promoveu a drenagem de pântanos criando novas áreas cultiváveis e novas aldeias. Também introduziu a inovação de arados com lâminas de metais que melhoraram a produtividade, além da inserção do cultivo de cereais. A Pomerânia se tornaria o celeiro da Europa.

Na prática, as terras da Pomerânia continuaram sendo administradas pela baixa nobreza da região e pelos comerciantes. O século XVII podem ser considerados os piores anos para os pomeranos pois o ducado da Pomerânia sofre com a devastação sofrida pela Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Além disto, durante os anos de 1623 e 1624, foi castigada pela peste negra, a qual retornou com intensidade em 1635. Ao final desses trinta anos, dois terços da população foi sucumbida. Na área agrícola, os campos da Pomerânia tiveram grande importância na introdução da batata na Europa, pois foi aqui que o rei Frederico II da Prússia (1740-1786), em 1752, iniciou a plantação de batatas, o que trouxe grande alívio em épocas de fome. O cultivo da batata se popularizou principalmente nos povoados de Kartlow (Kartlewo) e Nelep (Nielep), ambos na região de Belgard (Bialogard) e em Regenwalde (Resko) e Köslin (Koszalin). O rei considerava esse tubérculo muito útil para alimentação do seu numeroso exército, e para a população como um todo. Apesar desse grande benefício, a introdução da batata na Prússia também gerou grandes contrariedades e acirradas reclamações por parte das Igrejas Católica e Luterana, que nela viam uma planta não referenciada na Bíblia. Em 1807 novamente a Pomerânia é ocupada por tropas, desta vez pelo exército de Napoleão.

Livro Das Alte Pommern/Igreja com a técnica construtiva enxaimel na aldeia de Kantreck do Kreis de Cammin (Pomerânia). O luteranismo foi propagado por Johannes Bugenhagen a partir de 1534, pregando a nova doutrina nas aldeias e formando as comunidades luteranas.

O estacionamento dessas tropas até o ano de 1813 mais uma vez traz grande destruição. Por sua vez, em 09 de outubro de 1808 o governo prussiano promulgou uma lei concedendo a liberdade aos trabalhadores do campo, para não mais serem obrigados a permanecerem atrelados ao serviço de um nobre. No entanto, a partir de 1835 a economia prussiana novamente entrou em decadência, e ainda, a plantação de batata entrou em crise devido a sua contaminação por fungos. Na ocasião a Inglaterra assumiu a condição de maior produtora protagonizando sua comercialização, por isso, conhecemos hoje o tubérculo como BATATA INGLESA.

Obra do artista germânico Hermann Willy, intitulada ?Ernte in Pommern?./O trabalho dos camponeses era uma rotina exaustiva. Recebiam recursos que mal atendiam sua própria subsistência. Além disso, com o advento da revolução industrial ocasionando falta de trabalho e baixos salários, a partir de 1850 se intensificou a imigração dos Pomeranos para várias regiões do mundo.

Essa situação deixou a Pomerânia sem dinheiro e esfomeada. Além disso, os reflexos da REVOLUÇÃO INDUSTRIAL sobre a Pomerânia deslocaram muitos trabalhadores do campo para estaleiros, fábricas de âncoras, cordas e sabão, sobretudo em Stettin (Szczecin) a capital da Pomerânia. Nestas fábricas, os trabalhadores passaram a ter um ganho muito reduzido. A partir de 1850, muitos ferreiros e artesãos Pomeranos, além de muitos agricultores, por falta de trabalho e pela busca da terra própria imigraram com suas famílias para muitos lugares mundo afora. Por fim, como podemos observar, a Pomerânia ao longo de sua história sofreu influência de vários povos como os germânicos, os eslavos e os escandinavos. Os pomeranos são caracterizados e denominados como um povo etnicamente germânico, no entanto, alguns estudiosos os classificam como eslavos.

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