Os irmãos, João Miguel e Gabriel Vitor Gaulke Zech, de seis e cinco anos, encantaram uma plateia lotada durante o lançamento do Livro do Varal Literário 2023 no Teatro Municipal de Pomerode.
Com muita desenvoltura e paixão pela literatura, eles recitaram dois clássicos de Cecília Meireles. “Eles já tinham se apresentado no Sarau da escola e também na Feira do Livro de Timbó, mas não para públicos tão grandes. Eles amaram a experiência, sempre queriam se apresentar num palco ‘de verdade’ e para nós, como pais, foi muito gratificante, um orgulho enorme. Fizeram a gente chorar de alegria quando foram aplaudidos de pé numa declamação de poemas”, conta a mãe dos meninos, Roseane Gaulke Zech.
O convite para a participação dos dois surgiu da bibliotecária Viviane Herrmann, que havia pedido sugestões de apresentações às bibliotecárias das escolas para o evento de lançamento. “Eles têm bastantes livros, mas como eles sempre queriam ouvir histórias novas, comecei a emprestar os exemplares na Biblioteca Municipal. Um tempo depois, passamos a ir na biblioteca juntos, eles começaram a escolher os livros e a participar da Hora do Conto.”

Com o convite feito, Roseane e os filhos escolheram as poesias que seriam declamadas. “Sempre que possível levo eles para assistir peças de teatro, danças, circo, então eles realmente adoram um palco. Por coincidência, naquela semana eu tinha pego um livro de poemas da Cecília Meireles emprestado da biblioteca para ler para eles e passamos a ensaiar.”
Um mundo encantado para estimular o aprendizado
A história dos dois pequenos ganhou um novo rumo em agosto de 2020, na época João tinha três anos e Gabriel apenas dois. Era o início da pandemia, quando os irmãos foram adotados pela família Gaulke Zech. “Naquele período, as aulas presenciais foram suspensas, nem matrículas as escolas estavam aceitando, era um mundo de incertezas. O João veio com muita dificuldade na fala, praticamente não entendíamos o que ele queria dizer. O Gabriel também não falava muita coisa, e eles tinham pouquíssimo conhecimento de tudo, cores, diferença entre objetos, fenômenos da natureza, entre outras coisas”, relembra a mãe.

Roseane não queria deixá-los parados até as aulas voltarem. Então, pensou em usar um pouco do conhecimento que tinha para ensiná-los. “Eu sempre gostei muito de ler, trabalhei como bibliotecária por um tempo, então usei as histórias e os livros para eles passarem a conhecer as coisas, cores, palavras e também falar. Na verdade, virou uma forma de eu me comunicar com eles e eles comigo.”
Alguns familiares de Roseane, que são educadores, ajudaram com a indicação de livros, dinâmicas, atividades e até contação de histórias por vídeo. “Depois que a pandemia deu uma ‘acalmada’ levamos o João na fonoaudióloga, o que também ajudou demais, fazíamos também os mesmos exercícios com o Gabriel, por indicação dela. E, a partir daí, os dois aprenderam a falar e isso ajudou também a ensiná-los a ler e a escrever.”

Os meninos são alunos da Escola de Educação Básica Municipal Duque de Caxias e também fazem aulas de Língua Alemã, de Música e de Teatro. Em 2022, quando João estudava no Pré II e Gabriel na Creche III, ganharam o concurso de Soletrando da escola, competindo com os alunos do primeiro ano. “O João decorou a poesia sozinho, no tempo livre que ele tem na escola e que usa também para ler, fazer cartinhas e dobraduras, coisas que ele adora. O Gabriel também leu a poesia, diversas vezes, sozinho. Mas, como ele está meio período em casa, tive mais tempo de ensaiar com ele e ir repetindo os versos para ele decorar”, conta a mãe com orgulho.
Segundo Roseane, a leitura é muito importante para conhecer o mundo, se informar, desenvolver a imaginação, a leitura e a escrita. “Os livros podem mudar uma história. Graças aos livros, meus filhos falam, leem, escrevem e têm uma imaginação enorme. Sabem argumentar, questionar, têm um bom vocabulário.”
Para a mãe, os livros não são apenas a leitura em si. “É uma maneira de estarmos juntos, próximos, é um aconchego e fortalece os laços emocionais. A literatura abriu para eles portas para um mundo de possibilidades”, conclui.