De 26 de setembro a 2 de outubro, a Galeria Municipal de Artes de Pomerode – Erwin Curt Teichmann – recebe a exposição “O lixo da cidade”. Nela, o artista Rafael Codognoto apresenta 10 anos de trabalho. “Toda a exposição é feita com coisas coletadas de lugares diferentes de Curitiba, que é onde moro, e está dividida em oito grupos. Eu caminho pela cidade, vejo os itens, recolho e meu trabalho como artista de assemblage é interferir naquele material”, pontua.
De acordo com Rafael, o interesse pelo trabalho de encaixes e colagens surgiu quando ainda era criança. Como o pai trabalhava em um caminhão de coletas de lixo, trazia para o filho fragmentos de materiais. “Isso se tornava os meus brinquedos. Eu fui crescendo e fui vendo que isso era legal para mim, criar novas soluções.”

Na exposição, cada um dos oito grupos trata de um tema ou material específico. Para ele, a obra com mais impacto nesta mostra é “Flora Schachter”. “Todo o meu trabalho é sobre descarte, de até que ponto o descarte chega, porque a gente compra uma coisa e descarta. Em ‘Flora Schachter’, chegou a ponto de a própria pessoa ser descartada. Ela tem nome e sobrenome, é uma pessoa que existiu e que todas as coisas dela foram descartadas na frente da casa dela quando faleceu”, destaca.
Neste grupo, há exposto sobre o trabalho que ela exercia, uma linha da vida dela com fotos desde criança até ela envelhecer, as ferramentas que ela utilizava e, além disso, o artista também fez um jardim com roupas dela. “Esse trabalho ainda está em desenvolvimento, acho que tem mais coisas para vir pela frente, talvez ele seja onde o lixo da cidade se desenvolva em uma individual flora.”
Arte contemporânea
Segundo Rafael, essa é uma exposição de arte contemporânea que contempla 10 anos de produção. Por isso, há tantos temas e técnicas diferentes. Para ele, a arte contemporânea faz as pessoas pensarem e discutirem sobre os assuntos ali abordados. “Grande parte dos materiais tem esses temas frágeis que precisam ser pensados. Quando discutimos, conseguimos amadurecer. Toda exposição de arte contemporânea traz isso, tem muita cor e tem o incômodo junto. Aqui [na exposição], o incômodo serve para pensarmos em como estamos descartando as coisas.”

Acessibilidade
Toda a exposição foi pensada em ter a maior acessibilidade possível para que possa receber mais públicos. De acordo com Rafael, tudo foi organizado para que um cadeirante possa visitar a mostra.
Além disso, em cada grupo há QR Codes que, quando lidos a partir da câmera do celular, se transformam em áudios feitos pelo próprio artista acerca do que está sendo abordado naquela arte. “Os QR Codes são para que pessoas cegas possam entender e ouvir um pouco do que estou expondo.”

Sobre o artista
Rafael Codognoto é nascido em Carlópolis, no Paraná. Desde a infância, trabalha em uma produção própria de objetos ressignificados. Apresentou sua primeira exposição individual aos 16 anos na Casa de Leitura Jamil Snege pela Fundação Cultural de Curitiba.
Aos 24 anos, concluiu o bacharelado em Pintura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap). A pratica, enriquecida ao longo dos anos com novos conteúdos e entendimentos, como as questões urbanas e ambientais, faz dele um “assembler” (montador em inglês).

Em seu trabalho, ele evidencia a impregnação afetiva trazida pelos objetos que coleta, em função de suas vidas e usos pregressos, tratando em sua prática artística de questões sociais relacionadas à infância, memória, gênero e repressão.