As irmãs Lucilene e Luciana compartilham a mesma profissão e a paixão por ensinar

Parceria: Lucilene e Luciana compartilham experiências e ideias.
Cada ser humano carrega consigo habilidades e dificuldades diferentes e, para desenvolver suas potencialidades, conta com uma figura muito importante na formação de cada um de nós: o professor. Ensinar não é apenas uma arte ou um dom, mas sim uma escolha de vida. E foi justamente essa a escolha feita pelas irmãs e professoras Lucilene Ott Steinert, de 43 anos e Luciana Ott Michels, de 46 anos.
Lucilene foi a primeira a optar pela profissão. Está formada há 20 anos, leciona há 19 e se tornou professora efetiva do município após ser aprovada em um concurso público, há 18 anos. “Somos de família humilde e cursar a faculdade era um sonho. Optei por Ciências Sociais e me realizei nesse curso. Abriu para mim um mundo de oportunidades”, revela.
Ela lecionou por mais de uma década a disciplina de geografia e, atualmente, é uma das quatro professoras responsáveis por desenvolver o projeto “Escola da Inteligência” nas instituições de ensino de Pomerode. “Sou apaixonada por esse projeto e pela possibilidade que ele nos dá de trabalhar não somente disciplinas, mas sim a pessoa”, enaltece.
Dentre os temas discutidos estão a inteligência emocional, o empreendedorismo e algo vital para o momento que todos enfrentam: empatia. “Todos precisamos nos colocar no lugar do outro, entender de que forma ele enxerga o mundo e quais as dificuldades que enfrenta”, contextualiza.
A chegada da pandemia afastou os alunos do convívio escolar, transformando a educação em uma modalidade não presencial. Junto com isso, vieram algumas questões, como o aumento da ansiedade entre as crianças, que sentem falta do contato com os colegas. Poder compartilhar essas questões é um dos benefícios das atividades desenvolvidas através do projeto. “Apesar de ser um pouco mais difícil trabalhar essas questões à distância, as atividades têm surtido efeito e temos ótimos retornos, até mesmo dos pais, que acabam acompanhando o conteúdo juntamente com os alunos”, revela.
Janaina Possamai /Adaptação: Luciana aprendeu a lidar com a tecnologia para trazer mais dinâmica às aulas.
Se a pandemia trouxe desafios, veio carregada também com muitas oportunidades. Essa é a visão de Luciana, endossada por Lucilene. “Acredito que tudo tem um motivo para acontecer, cabe a nós aprender as lições e as oportunidades que vêm com esses acontecimentos”, declara Luciana.
Para ela, se tornar professora foi justamente uma dessas janelas de oportunidade que surgem em meio a um desafio. O filho mais velho possui déficit de atenção e, quando estava com oito anos, as dificuldades de aprendizagem na escola se intensificaram.
Luciana, que trabalhava em uma empresa do ramo têxtil, buscou formas de aprender para, então, conseguir ajudar o filho. “Na minha infância gostava muito de brincar de dar aulas. Mas conforme fui crescendo, escolhi seguir por outros caminhos. Trabalhei por 16 anos na Karsten, passando por diversas funções até chegar ao setor de Engenharia de Produtos e Processos. Para ajudar meu filho, decidi cursar faculdade à distância em alguma área que me permitisse aprender um pouco sobre didática”.
Colocar o objetivo em prática exigiu muita determinação. Ela trabalhava no segundo turno e cursava faculdade à distância, com encontros semanais todos os sábados de manhã. Como ela trabalhava também aos sábado, cumpria as quatro horas após as aulas. Toda a dedicação valeu a pena e Luciana se formou em 2010. Aproximadamente um ano mais tarde, começou a lecionar a disciplina de Língua Portuguesa como professora contratada (ACT). Ela já trabalhou nas oito escolas de Pomerode e teve até mesmo uma experiência de alguns meses na cidade de Gaspar. De todos esses locais, tirou lições preciosas.
Arquivo pessoal /Dedicação: Lucilene mostra o espaço de trabalho adaptado em um dos cantos da sala.
Além disso, houve uma vitória pessoal, Luciana conseguiu contribuir com a evolução do filho, que hoje está inserido no mercado profissional.
Lucilene e Luciana já chegaram a lecionar na mesma escola em 2017 e 2018. Para ambas, a oportunidade deixou marcas extremamente positivas. “Nós íamos e voltávamos juntas, até mesmo como uma medida de economia. Enquanto isso, trocávamos figurinhas no caminho, sobre os alunos, sobre os projetos, aulas, dificuldades e alegrias. Foi muito importante”.
Ambas possuem um olhar todo especial aos estudantes com dificuldades de aprendizagem. “Nós tentamos de todas as formas incentivar e auxiliar todos os alunos. Existem aqueles com mais facilidade, outros, precisam de muita atenção. É preciso ter essa percepção”, compartilham.
Elas também procuram trabalhar as lições pensando nos alunos que possuem apenas o celular como ferramenta de acesso, ou até mesmo nas famílias com mais crianças que dispõem de um único aparelho. Luciana e Lucilene também procuram sanar todas as dúvidas dos pais e alunos, mesmo que sejam enviadas durante os fins de semana. “Sabemos que muitos pais têm só o fim de semana para estar com os filhos e ajudar nas lições, então procuramos atender a todos da melhor forma”.
E como o processo de ensinar traz em si também uma constante aprendizagem, as duas irmãs estão adquirindo novos conhecimentos para conseguir passar aos alunos as lições não presenciais. Luciana adquiriu uma câmera, um suporte para iluminação e aprendeu alguns macetes para editar os vídeos. Ela não enxerga barreiras nesse fato, mas sim oportunidades. “Acredito que todos nós estamos nos desafiando, tanto os professores quanto os alunos. No caso dos estudantes, possuem bastante conhecimento em redes sociais, mas precisaram aprender a utilizar outros programas com fins didáticos. No nosso caso, o desafio foi adaptar as ferramentas e o processo didático”, descreve.
Ambas acreditam que no retorno ao ambiente escolar, muitas posturas serão diferentes, tanto por parte dos professores quanto dos alunos e famílias. “Tudo que aprendemos nesse período terá impacto direto na forma como enxergamos o mundo. Certamente teremos uma postura diferente perante as situações do dia a dia”, finalizam.