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Dia das Mães: Superação, amor e dedicação no maternar

Débora Wandalen conta sobre o dia a dia com o filho Nicolas, diagnosticado com Autismo nível 3 de suporte

Em toda e qualquer experiência materna, é inevitável passar por desafios. Seja durante a gravidez, nos primeiros meses do bebê ou durante o passar dos anos, as mães precisam superar muitos obstáculos. É nas pequenas conquistas, nas evoluções diárias e no amor incondicional que as mulheres encontram forças para continuar.

Com a advogada e moradora de Pomerode, Débora Wandalen, não foi diferente. Quando seu filho estava perto de completar dois anos, ela recebeu uma notícia que mudou sua vida: Nicolas foi diagnosticado com Autismo nível 3 de suporte. De lá para cá, foram muitas as terapias e idas ao médico, mas, acima de tudo, acolhimento e amor não faltaram.

Medo e incertezas

Débora conheceu o marido, Jonathan Fernando da Silva, através da irmã e, por meio das redes sociais, a relação entre os dois começou a estreitar. Por estudarem na mesma faculdade, não demorou muito para assumirem um relacionamento. Depois de cerca de dois anos, eles se casaram.

Inicialmente, Débora não queria ter filhos, diferente do marido, que sempre quis, mas nunca insistiu para que a companheira mudasse de ideia. “No entanto, quando já estávamos casados por uns oito anos, de repente eu decidi que queria ser mãe. Eu vinha daqueles anos todos tomando anticoncepcional, então pensei que iria demorar a engravidar, mas em três meses estava grávida. Deus foi muito bom porque eu consegui fazer tudo que queria”, lembra.

Quando descobriram que seria um menino, a vida do casal se tornou o mundo de Nicolas. “Minha gravidez foi super tranquila, eu trabalhei até um mês antes dele nascer, já era advogada na época. O parto foi perfeito, foi no hospital que eu queria, sempre quis cesárea e foi assim que aconteceu. Foi tudo como sonhei.”

Conforme crescia, Nicolas foi alcançando todos os marcos de desenvolvimento de uma criança típica. “Ele andou, sentou, falou, brincou, nunca desconfiamos que ele pudesse ter algo diferente. No primeiro ano dele ocorreu tudo bem, tirando alguns detalhes de personalidade, mas que não atrapalhavam o dia a dia”, explica.

Família: Débora e Jonathan no aniversário de um ano do filho. Foto: Arquivo pessoal

No entanto, foi quando chegou a um ano e meio que Débora começou a estranhar algumas ações do filho. “Ele estava bem naquela fase de falar, então todos os dias ele aprendia uma palavra nova. Aí fui ao pediatra e falei que tinha estranhado que, no último mês, ele não tinha agregado nenhuma palavra nova. Eu estava achando ele um pouco quieto, menos comunicativo. Em cerca de quatro meses, ele não falava mais nada, nem mamãe, que ele já falava antes.”

Nicolas parou de interagir com os pais, não brincava mais e voltou a engatinhar, mesmo já sabendo andar. “Ele só queria ver o mesmo vídeo da Galinha Pintadinha, não podia ser outro. E tudo o que era livro ele mexia, ficava horas com isso, no mundo dele. Não queria pegar mais nada, queria que déssemos tudo pra ele, ficou bem robotizado, parece que alguém tinha desligado ele da tomada, ficou muito estranho”, conta.

Diante disso, Débora e o marido começaram a ficar preocupados e a desconfiar de um grau de autismo. “Fomos orientados a ir para uma fonoaudióloga. Ela nos atendeu e disse que não conseguiria dizer se ele era autista, porque também tinha características de criança não autista. Aí ela me orientou a colocar ele na escola para que as professoras pudessem dar um parâmetro.”

Nicolas começou a frequentar a escola no fim de 2019. Em um mês, a coordenadora da instituição acionou os pais para conversar sobre o filho. “Informaram algumas características e disseram que entendiam que ele tinha traços de autismo e que teríamos que investigar”, relata.

Quando completou dois anos, em dezembro, Débora e Jonathan levaram Nicolas a uma psicóloga. “Ela me apavorou, disse que ele era nível três de autismo, que tinha todas as habilidades sociais comprometidas e que ele seria classificado como autismo regressivo. Ele alcançou todos os marcos de desenvolvimento e, quando teve a poda neural, com um ano e meio, como ele tinha a genética do autismo, apagou toda a questão social. É como se ele tivesse esquecido tudo o que tinha aprendido, aí tem que começar do zero, mas com toda uma inflexibilidade de autista junto.”

Evolução: aos seis anos, Nicolas está mais receptivo. Foto: Arquivo pessoal

Como tiveram dificuldade em aceitar a avaliação inicial, o casal ainda levou o filho para a análise de um neurologista. “Ele classificou o Nicolas como autista nível 1 e falou que era só colocar ele em algumas terapias e logo isso estaria resolvido. Quando voltei á psicóloga, ela discordou do neurologista e disse que ele estava errado, que o Nicolas tinha grau 3 e que, se eu não corresse contra o tempo, colheria resultados muito complicados para o futuro”, revela.

Diante disso, decidiram colocá-lo em uma carga alta de terapias, envolvendo psicólogo, terapeuta ocupacional, fonoaudióloga, neuropsicopedagoga, fisioterapeuta e equoterapia. “Decidi pecar por excesso do que por omissão.”

Na época do diagnóstico, Jonathan precisou passar por uma cirurgia de alta complexidade no quadril. Após passar pela etapa de recuperação mais difícil, ele se tornou o responsável por levar Nicolas aos tratamentos. Quando retornaria ao trabalho, decidiram em consenso que ele abriria mão do trabalho para se dedicar ao filho. “Levamos em consideração o salário dele, quanto custaria contratar alguém para ficar com o Nicolas e levar ele aos lugares. Mas também não é só o dinheiro. O meu filho não falava, ele só chorava, como eu ia saber se estava tudo certo com ele? Já vimos tanta barbaridade que ficamos receosos. Nós decidimos então que o Jonathan daria esse suporte para ele e eu ficaria no escritório.”

Sobre isso, Débora elogia a atitude do marido. “A vida impôs isso para gente. Ele abriu mão do que fazia. Se ele não estivesse com o Nicolas em casa, nosso filho estaria evoluindo tão bem? Eu dou os méritos para ele também, tem que ser homem para fazer o que ele fez, ele tem que ter orgulho disso.”

Por questão de praticidade, já que Nicolas frequentava as terapias diariamente, todas em Blumenau, o casal decidiu se mudar para a cidade vizinha. Depois de um tempo, com a diminuição na rotina do tratamento, retornaram para Pomerode.

Uma jornada repleta de descobertas

Hoje, após anos de terapias, Nicolas está com nível 2 de suporte. Mesmo assim, ainda há muitos desafios. “No entanto, em dezembro do ano passado, quando ele fez seis anos, parece que começou em um mundo novo. Ele começou a ficar mais receptivo, começou a repetir o que nós falamos, mas ainda não desenvolve conversa.”

Para o futuro, a expectativa dos pais é que logo ele comece a falar. “Ele já não é um autista não verbal, só é um verbal não funcional. A hora que ele começar a se comunicar bem, imaginamos que ele vá para o nível 1. Aí muita coisa facilita, a comunicação é tudo. Ele está muito melhor, mas ainda temos um caminho longo pela frente”, esclarece a mãe.

Sobre o dia a dia, Débora conta ter decidido não privar Nicolas de ter novas vivências. “Ele já viajou muito, visitou muitos parques. Sempre busquei proporcionar para ele tudo o que as outras crianças também fariam, independente dele ser autista ou não, para viver a experiência. Ano passado, ele começou na natação e gosta muito, foi uma benção, já está quase nadando. Como é uma coisa de interesse dele, faz tudo o que tem que ser feito.”

Atividade: Nicolas pratica natação desde o ano passado. Foto: Arquivo pessoal

Nas palavras amorosas de uma mãe, Nicolas é lindo, querido, amoroso e inteligente. “Ele já está mais aberto, é maravilhoso ser mãe dele. Como mãe de autista, vibramos com pequenas conquistas. Esses dias a professora dele mandou um vídeo dele com um lápis fazendo a forma das letras e a sala toda vibrando. Pode parecer pequeno, mas para mim aquilo foi o máximo, esperei muitos anos para ver isso. O dia que ele falou que me amava, não tem dois meses isso, para mim foi muito especial”, destaca.

Mesmo diante das dificuldades, Débora enfatiza com todas as palavras: “Não me arrependo nunca de ter tido ele. Um autista nunca vai deixar de ser um autista, não se cura o autismo, mas a gente supera aquelas limitações dele. O meu sonho e do meu marido é que um dia ninguém desconfie que o Nicolas passou por tudo isso.”

Proibido reproduzir esse conteúdo sem a devida citação da fonte jornalística.

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