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Deutsche Schule Testo Central (1870): primeira Escola e professor de Pommeroda

Por Genemir Raduenz, Edson Klemann, Johan Ditmar Strelow e Cláudio Werling

Foto: Acervo: Íris Borchardt
Alunos e professor na escola Olavo Bilac.

Imigrantes germânicos começam a chegar ao Brasil no século XIX. Em 1819 na região de Nova Friburgo (RJ), 1824 em São Leopoldo (RS), 1828 em São Pedro de Alcântara (SC), e um pouco mais tarde em 1850, a colônia Blumenau. Quando chegavam nas colônias, entre as reivindicações dos imigrantes a escola se destaca, consideravam a educação uma prioridade. No entanto, a precariedade do sistema educacional do Brasil fez com que as vozes dos imigrantes praticamente não fossem ouvidas. Restava “no meio do nada” a criação de suas próprias escolas. Surgem as Comunidades Escolares (Schulgemeinde), os imigrantes começam a construir suas próprias escolas e o pagamento dos professores. No livro História de Blumenau de José Ferreira da Silva publicado em 1988, destaca-se que em 1867 a colônia Blumenau tinha 12 escolas, frequentadas por 263 crianças, em 1875 eram 25 escolas particulares e somente duas públicas numa área de 10.610 km2 (extensão territorial da colônia na ocasião). Nas propostas iniciais de Dr. Blumenau, constava a preocupação com o ensino, tanto que em 03 de junho de 1852 o próprio contrata Ferdinand Ostermann, professor formado e considerado o primeiro professor público da colônia, destinado para lecionar em alemão e português, na ocasião subsidiado pelo governo provincial. Apesar de haver professor logo no início da formação da colônia, não foi possível de imediato instalar a escola. Ostermann serviu no início como pastor luterano e celebrava regularmente os ofícios dominicais. Em 1855 fica pronta a “Casa da escola” com moradia para o professor, localizada na colina onde hoje fica a Igreja Luterana no centro de Blumenau. No relatório de Dr, Blumenau de 1856 ele afirma: “A frequência da escola de primeiras letras, cujo professor, colono naturalizado e pago pela província, ensina em ambas as línguas simultaneamente, como é necessário, teve regular andamento e progride. O professor é ativo e dá além das aulas cotidianas no centro da colônia, em cada semana, em duas tardes, lições no lugar da povoação na beira do rio”. Um claro registro do início do ensino primário na colônia Blumenau. Logo, começam a surgir nas comunidades, escolas nas quais sem exceção os professores eram luteranos que enxergavam na educação o caminho para garantir a manutenção dos valores étnicos e religiosos. O ensino primário nestas escolas consideradas “alemãs”, compreendia de 4 a 6 anos sendo em grande parte os professores cidadãos da própria comunidade. Muitas vezes idosos que não podiam mais trabalhar na lavoura mas que sabiam ler e escrever. Essas pessoas eram respeitadas pela comunidade que lhe davam o direito do uso da palmatória quando necessário. As escolas “teuto-brasileiras” apresentavam relevante diferença se comparadas com as públicas, pois o predomínio era a língua alemã na maioria das disciplinas e um conselho formado pelos pais era responsável pela contratação dos professores e a gestão financeira da escola. Em 1900, havia mais de 100 escolas particulares em Blumenau o que continuou aumentando até 1917. Quando ocorreu a declaração de guerra do Brasil ao Império Alemão, quase todas as escolas particulares foram fechadas, restando na ocasião 08 públicas. Quando a guerra findou, as escolas gradativamente foram sendo reabertas, em 1920 novamente 40 escolas particulares já estavam restabelecidas. As escolas particulares no início usavam livros didáticos produzidos na Alemanha, no entanto, não adequados pois os exemplos nos livros alemães remetiam ao ambiente europeu e as crianças aqui nos trópicos estavam num ambiente totalmente diferente. Ter um problema de Matemática que envolvia a fauna e flora europeia não fazia muito sentido para os alunos. Ao longo dos anos, atendendo ao apelo das comunidades, os professores teuto-brasileiros muitas vezes com formação superior na Alemanha, começaram a escrever livros didáticos, sendo que esse tipo de publicação aumentou consideravelmente nas décadas de 1920 e 1930. Na área da Matemática, vários conteúdos foram produzidos em alemão e em português, passando a ser utilizados nos estados do Sul do Brasil. Mas no Vale do Rio do Testo na então pequena Pommeroda que fazia parte da colônia Blumenau, quais foram os primeiros passos no ensino? Sabemos que oficialmente os primeiros assentamentos ocorreram em 1863, e que uma das principais prioridades comunitárias foi a escola. A primeira escola de “Pommeroda” surgiu na localidade de Testo Central. Uma vez erguidos os primeiros casebres (Hütten), os pioneiros se defrontaram com a necessidade coletiva de construção da escola em meio ao ambiente rude e inexplorado, sua inauguração formalmente ocorre em 02 de outubro de 1870. O grupo de imigrantes funda, constrói e inaugura a Escola Alemã Testo Central (Deutsche Schule Testo Central), hoje Escola Básica Municipal Olavo Bilac. A busca pelo professor também era função dos imigrantes, como já mencionado, as escolas particulares surgiam pela ausência do Estado. O primeiro professor formado que lecionou de forma bem breve na primeira escola de Pomerode, foi Ferdinand Hackbarth. Pomerano do condado (Kreis) de Köslin, nasceu em 06 de março de 1830 na vila de Latzig. Frequentou o seminário de Köslin de 1850 a 1853, posteriormente indo trabalhar em Schwessin e Seege (vilas desta região da Pomerânia). Aliás, foi em Seege que vários de seus filhos nasceram. Hackbarth chega em Blumenau em 06 de agosto de 1869 com a missão de assumir a escola de Testo Central. Lá ficou pouco tempo e de forma breve se desloca e passa a lecionar na escola de Tatutiba I (localidade da região de Blumenau). Mais tarde, Ferdinand Hackbarth se estabeleceu como professor na localidade do Vale do Selke onde iniciou a lecionar em 1879. Atuou de forma ininterrupta de 1869 até 28 de janeiro de 1910, quando sofreu um derrame enquanto lecionava, falecendo em 1913. No entanto, o primeiro professor de Pomerode deixou um legado até então quase ocultado pelos registros do município, sem qualquer homenagem formal. O maior exemplo de seu legado é um livro de sua autoria em parceria com Konrad Glau e Hermann Lange, denominado, “Rechenbuch für deutschbrasilianische Volksschulen” (livro de Cálculo para Escolas Públicas Teuto-Brasileiras), publicado em 1906 pela Editora Arthur Koehler em Blumenau. Este livro logo foi adotado por várias escolas comunitárias de língua alemã, auxiliando bastante professores com baixa experiência. Inclusive há registro de que o professor Carl Günther do “centro de Pomerode” recebeu exemplar do Rechenbuch, agradecendo o envio pela editora e ressaltando a adoção deste. A obra fora organizada em dois volumes. Escrito em alemão gótico, o segundo volume por exemplo possui 80 páginas e dimensionado no tamanho de 12,5cm x 19cm, sendo dividido em duas partes: uma para estudantes do terceiro ano e a outra para os quartos anos (o primeiro volume era destinado para os primeiros e segundos anos). O livro tem 968 exercícios de aritmética e seu prefácio destaca que é resultado de práticas de aula. Os autores Hackbarth, Glau e Lange afirmam no início do livro: “para a aula nas escolas coloniais faltou até agora um livro de aritmética adequado, uma falta que provavelmente foi sentida por todos os professores destas escolas. Os livros de cálculo que estão sendo usados são ao nosso entender muito exigentes, não levando em consideração o meio no qual nós vivemos, e além disso tem um preço alto demais. O presente livro, que primeiramente é editado numa primeira e segunda parte, foi analisado cuidadosamente no manuscrito por nós professores abaixo assinados. Concluímos que, com a sua edição, é prestada um relevante serviço as escolas coloniais. Podemos portanto, recomendar de consciência tranquila a introdução do Livro de Cálculo para Escolas Públicas Teuto-Brasileiras aos professores das escolas coloniais”. Ao observar o prefácio destes professores pioneiros, de fato, uma obra prima para a época e de grande relevância para a educação das colônias de ascendência germânica. Hackbarth e seus colegas foram pioneiros e fizeram a diferença no sistema educacional da época na região da colônia Blumenau. Mas, como mencionamos, Hackbarth teve passagem muito breve pela Escola Alemã de Testo Central (Olavo Bilac), e logo em seguida quem assume a função é o professor Hermann Dräger, que muitos inclusive destacam ser efetivamente o primeiro professor. Mas há um dado importante no livro “Centenário de Blumenau”, lá, se destaca, que em 1869 surgiram em Blumenau 19 novas escolas rurais, entre elas a de Rio do Testo com Ferdinand Hackbarth, ou seja, as atividades na primeira escola de Pomerode começaram essencialmente em 1869. Em 1870 inicia Hermann Dräger, sendo considerada a data oficial de fundação da primeira escola de Pomerode. Depois de Hermann Dräger, vários outros professores foram desenhando a educação formal dos descendentes Pomeranos na localidade de Testo Central. Uma jornada árdua para os professores, pois o curso era intensivo na parte da manhã e tarde, iniciando em 02 de janeiro e terminando em 23 de dezembro, com interrupção somente para o natal e ano novo. No meio do ano havia um intervalo de 14 dias utilizado para a realização do “plantio”. Dräger lecionou de 1870 a 1882, depois assumiu Hermann Tall até 1887, sendo em seguida assumido por Hermann Rahn que iniciou em 1887 a laborou até 1926, durante 39 anos ininterruptos. Nasceu na Pomerânia, chegando aqui já formado em pedagogia, casou com a também imigrante Pomerana Henriette Reichow e morou na escola. Hermann Rahn foi muito atuante na comunidade de Testo Central, quando completou 25 anos de dedicação a escola, recebeu em 1912 da prefeitura de Blumenau congratulações pelo feito. Rahn também exerceu a função de inspetor de quarteirão, que é uma espécie de autoridade com considerável poder para coibir atos delituosos e que zelava pelas propriedades e pelo sossego de todos que moravam no “quarteirão”. Além disso fazia o papel de pastor doutrinando jovens, funerais e batizados de emergência, bem como, foi presidente do Clube Caça e Tiro local. Também lecionou esporadicamente no Ribeirão Souto. Faleceu aos 64 anos de idade. Depois vários professores passaram pela primeira escola de Pomerode, Gustav Schurry, Johann Maass, Heinrich Frahm, Philipp Heill, Emil Schneider, Karl Schützler, Erwin Curt Teichmann e muitos outros. Outro momento importante também na Olavo Bilac foi a inauguração da creche Waltrut Siewert. Inaugurada na estrutura da escola em 04 de outubro de 1970, ano em que a escola celebrou seu centenário. As atividades na creche iniciaram efetivamente em primeiro de abril de 1971. A professora Waltrut (nascida Selke) foi homenageada pela sua importante contribuição para a educação, lecionando em várias escolas de Pomerode e Blumenau. Ela faleceu em junho de 1970, possivelmente a motivação para a homenagem de seu nome para a creche. Mais tarde o prédio no pátio da escola foi removido e atualmente existem duas unidades de educação infantil no bairro com o nome Waltrut Siewert. Seus filhos, Alcino e Alírio, lecionaram na escola Olavo Bilac iniciando em 1967. Quanto ao professor Ferdinand Hackbarth, este deve ser considerado o primeiro professor com formação de Pomerode, mesmo que, com passagem rápida pela comunidade de Testo Central. Seu legado em toda a região é imensurável tendo em vista sua longa atuação no Vale do Selke. Da mesma forma, a brevidade com que a escola Alemã de Testo Central (Olavo Bilac) foi fundada (06 anos após o desbravar da mata virgem), demonstra que o processo migratório que na grande maioria se configurava traumático, não apagou a compreensão dos imigrantes de que a educação sempre é a alavanca para o desenvolvimento de uma sociedade.

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