Tente imaginar a cena: você é criança, deixa a cestinha de Páscoa pronta para o coelhinho passar e entregar um presentinho. No dia seguinte, ao acordar, ganha alguns ovinhos. Mas, inesperadamente, também encontra alguns animais pintados. “O que é isso?”, você se questiona.
Isso pode parecer estranho para algumas pessoas, mas, para outras, é uma tradição de Páscoa vista anualmente e passada de geração para geração entre as famílias. Esse é o caso de Adolar Fischer, que herdou o costume dos pais e avós e já passou adiante. “É uma tradição que, quando éramos criança, uma ou duas semanas antes da Páscoa, acordávamos de manhã e os animais brancos estavam pintados. Nós perguntávamos o que era, o que tinha acontecido e nos explicavam que o coelho tinha passado lá no sítio e tinha feito isso. Como crescemos vivenciando isso, fomos mantendo, porque é uma coisa diferente”, pontua.
Quando tinha seus oito a nove anos de idade e sua irmã em torno de 12 anos, ambos participavam da tradição. “Nós já sabíamos que não era o coelho que fazia, então pegávamos os galos e pintávamos. Na época, não tinham computador, tablet ou celular, essas eram as nossas diversões.”
Antigamente, como a família de Adolar não possuía muito dinheiro, a opção escolhida era comprar papel crepe, molhar e encostar nas penas ou pelos do animal, fazendo as manchinhas coloridas. Atualmente, a tinta guache foi a escolhida. Sobre isso, muitas pessoas ainda fazem questionamentos sobre a pintura nos animais e se isso os afeta de alguma forma. “Mas quero deixar bem claro que, até hoje, não foi usado produtos químicos ou alguma tinta tóxica, muito pelo contrário, a tinta sai em qualquer suor do animal, água ou na primeira chuva. Se houvesse algum problema para eles, jamais teríamos feito”, declara.
Mesmo com o passar dos anos, Adolar não deixou para trás a tradição que, de acordo com ele, veio com os imigrantes alemães. “Se você conversar com as pessoas que têm 70 anos para cima, 90% vai dizer que faziam isso. Hoje em dia, estamos realizando mais para mostrar para os turistas e visitantes, que realmente a nossa cidade é uma cidade alemã e tem cultura alemã.”
Quando questionado se a tradição se manterá nos próximos anos, a resposta é simples: “Com certeza ainda vamos pintar os nossos animais, mas em princípio somente na Páscoa mesmo, de sexta-feira a domingo, para ao menos mostrar ao nosso povo da região que ainda é feito dessa forma.”
Memórias nunca esquecidas
Além da pintura anual dos animais, Adolar e sua família ainda mantêm outras tradições de Páscoa, como a montagem da Osterbaum e os ovinhos de Páscoa, que evoluíram muito com o passar dos anos. “Como antigamente as pessoas eram mais pobres, as crianças ganhavam ovos cozidos de manhã. Depois, não se tinha dinheiro para comprar chocolate, era mais o amendoim, que nós plantávamos, descascávamos, moíamos e adoçávamos, colocávamos também as balas pintadas, era dessa forma que eles enchiam os ovinhos”, explica.
Sobre os ovos cozidos, Adolar relembra uma história contada por sua avó quando ele tinha em torno de quatro anos. “Como eles eram pobres, na época de Páscoa ganhavam de 12 a 24 ovos. Quando minha avó ganhou, ficou muito feliz e queria mostrar isso para a mãe. Para isso, colocou os ovos em uma bacia de alumínio e, quando foi mostrar, virou ela de lado. Todos os ovos caíram e ela chorou muito. Não era nada mais nada menos do que ovos cozidos, mas era a emoção que as crianças tinham. Muitas vezes, chorei por causa disso e até hoje me emociono.”
Além de pintar os animais e rechear as cascas de ovinhos para a data, ele também monta a Osterbaum. Todos os anos, Adolar tira as folhas da árvore, já que na Alemanha, onde surgiu essa tradição, as árvores já estão secas. “Implantaram isso em Pomerode de 2000 a 2002. Uma família da Alemanha veio para a cidade em um pequeno motorhome na época de Páscoa. A mulher arrumou uns galinhos pequenos, fez alguns crochês e pendurou cerca de 10 ovos dentro do veículo. Ela também fez esses crochês para a gente e dali para frente começamos a fazer a Osterbaum”, lembra.
Depois disso, muitas pessoas também começaram a enfeitar as árvores com ovos, seja dentro ou fora de casa. Na propriedade de Adolar, a Osterbaum é montada no mínimo cinco semanas antes da Páscoa. “A nossa árvore está ali, mantemos os nossos ovos dentro das cestinhas de crochê já por mais de 10 anos. Na hora de enfeitar, todo mundo ajuda”, finaliza.