A dentista Marisa Calissi, 54 anos, sempre nutriu o desejo de realizar algum trabalho voluntário, que permitisse a interação com as pessoas. “Porém, não sabia como e onde buscar, apenas sabia que em algum momento isso deveria ocorrer.”
Em 2016, foi diagnosticada com câncer de mama e um ano depois, após concluir o tratamento quimioterápico, soube de uma amiga que passaria por uma entrevista com a coordenadora do Projeto Sorriso. “Como a conversa aconteceria em sua casa, ela me convidou para participar e conhecer o Projeto.”
Naquele dia Marisa entendeu que aquele trabalho como um clown era exatamente o que estava procurando. “Durante todo o meu tratamento, tentei agir com positividade e com certa leveza. Lógico, dentro dos limites da realidade que estava vivendo, e entendi que o projeto me dava a oportunidade de levar um pouco dessa leveza às pessoas que estavam vivendo um momento delicado de saúde. Isso me motivou bastante.”

Voluntária há seis anos, Marisa garante que o Projeto Sorriso trouxe muitos ensinamentos para a sua vida. “Acredito que o mais importante para mim foi entender que isso fala muito mais sobre você do que sobre o outro, o quanto você tem a oferecer, e o quanto isso é gratificante e faz bem a você mesmo. Talvez as pessoas não possam compreender o quão maravilhoso é perceber o brilho nos olhos de alguém que está num leito de hospital, muitas vezes, apenas pelo fato de um clown adentrar o quarto. Você entende que a frase ‘é dando que se recebe’ não é apenas uma frase pronta e de efeito, é um fato.”
Muitas histórias marcaram Marisa durante o tempo dedicado ao voluntariado. “Um caso que me marcou e pesou bastante, foi quando o grupo de um município vizinho pediu que eu participasse de uma visita no setor de oncologia do hospital de lá, devido a minha vivência com o câncer. Foi muito forte para mim, pois senti um abismo entre minha vida e outras realidades, as quais, claramente, eram muito mais complexas que a minha.”
Marisa conta que com a chegada da pandemia e por questões de segurança, os voluntários do Projeto Sorriso precisaram se afastar do hospital. “Quando a entidade começou a se organizar para nos receber novamente, também começamos a programar a volta em 2022. Porém, eu, infelizmente, fui novamente diagnosticada com câncer, agora no ovário. Assim, tive que aguardar o tratamento para poder retornar às atividades no Projeto”, relembra.
Segundo Marisa, durante o período de tratamento, os amigos do Projeto a apoiaram. “Clowns vieram me visitar em casa, e eu me senti acolhida. Vesti-me de otimismo mais uma vez, e segui firme até o final da quimioterapia. Agora, mesmo ainda em continuidade de tratamento, me vi motivada pela positividade da alegria, e retornei às atividades do Projeto Sorriso.”
Para Marisa, exercer o voluntariado requer empatia, amor e doação. “Sem egos, sem desejar protagonismo ou ‘estrelismo’. Se você embarcar no voluntariado esperando holofotes, ‘likes’ e aprovação, pode ter certeza que você está no lugar errado. Na palhaçaria hospitalar especificamente, é importante ter consciência de que você não está em um picadeiro ou em um palco, você não é a ‘estrela’ de um espetáculo. Você está ali para doar e servir.”
Seja um Voluntário do Projeto Sorriso
O Projeto Sorriso de Pomerode está com inscrições abertas para a seletiva de voluntários 2024. As matrículas ficarão abertas até o final deste ano e a seleção ocorrerá entre janeiro e abril.
De acordo com a coordenadora, Tânia Luize Weh, durante esse tempo os candidatos conhecem o projeto na íntegra e em sua essência. “Há algumas etapas para isso, o candidato precisa nos mostrar sua aptidão e que realmente quer emergir o seu palhaço na sua vida, pois é fundamental para o projeto que tem como base a Palhaçaria Hospitalar. Nosso trabalho é muito sério, pois estamos lidando com vidas que travam batalhas num leito de hospital e em casa de repouso é necessário muito equilíbrio emocional.”

Atualmente, o Projeto Sorriso, que surgiu há nove anos em Pomerode, tem 13 voluntários ativos. São duas entidades atendidas, o Hospital e Maternidade Rio do Testo nas terças, quartas e quintas-feiras à noite, e o Centro de Convivência Pommernheim, aos sábados de manhã a cada quinze dias.
Tânia explica que a construção do Palhaço leva certo tempo, pois há muito que se descobrir sobre si mesmo e aceitar também. “O palhaço não é nosso lado perfeito, mas o nosso lado mais bagunçado e para tanto, é necessário estudo, aprender a olhar para dentro de si, analisar sentimentos, quebrar regras, se desconstruir para construir-se novamente, mais leve, deixando seus preconceitos para trás.”
Os candidatos que chegam ao fim da seletiva têm a formatura, com a participação da pré-formação, realizada apenas com os novos voluntários e depois com a oficina de Palhaçaria, prevista para abril 2024. “Após esses dois processos eles serão efetivados no Projeto Sorriso se tornando Doutores Palhaços”, complementa.
Informações pelo (47) 99193-2535 ou @projetosorrisopomerode