Você já parou para pensar em qual é o destino de muitos dos resíduos produzidos no dia a dia? E já ouviu falar em um recipiente biodegradável que tem em sua composição capim-elefante e sobras de papel usadas em sala de aula?
Esse é apenas um dos 15 projetos desenvolvidos pelos alunos do Ensino Fundamental da Escola Duque de Caxias, localizada no Ribeirão Areia, em Pomerode. “São ideias simples e ao mesmo tempo inovadoras para mostrar aos alunos que é possível pensar no futuro de forma diferente.”
De acordo com a professora de Ciências e coordenadora do projeto “Cienciando na Duque”, Daiane Luchetta Ronchi, as iniciativas têm como pilares a sustentabilidade e o empreendedorismo. “Cada um desses projetos surge a partir de um desafio do nosso cotidiano e das dificuldades encontradas pelos alunos na própria escola, principalmente em relação ao descarte de resíduos. Por exemplo, o capim-elefante próximo à escola, precisávamos daquele espaço para dar continuidade a outro projeto que chamamos de ‘Ribeirão Areia Nossa Água, Nosso Mundo’.”
A primeira proposta foi desenvolvida por Daiane em 2018 e batizada carinhosamente de “Broto de Papel Ecopapelaria”, que tinha como principal meta encontrar uma finalidade para o papel que estava em sala de aula. Naquele ano, a inciativa inovadora rendeu à Daiane e seus alunos o reconhecimento estadual e nacional no Prêmio Sebrae de Educação Empreendedora, na categoria Ensino Fundamental – Anos Finais. “Isso nos abriu muitas portas, dei entrevista para o Canal Futura, fui para São Paulo para fazer uma visita técnica.”

Depois daquele projeto, os alunos nunca mais pararam de desenvolver novas ideias criativas, eficientes e sustentáveis. Entre eles estão a “Bionatural Composteira” e o “Biofertilizante Líquido”, um repelente com base natural, além do “Gota em Gota”, que visa recuperar e reutilizar a água que sai de cada ar-condicionado das salas de aula. “Temos ainda o ‘Bolha de Sabão’, que reaproveita o óleo de cozinha usado entregue pelas famílias da comunidade.”
Desde 2018, cerca de 200 estudantes já passaram pelo projeto.
Atualmente, a professora mantém um grupo fixo de 18 alunos, com idades entre 12 e 14 anos, que se encontra uma vez por semana no contraturno escolar, e que se dedicam ainda aos projetos “Papel Machê”, que reutiliza papel toalha para criar jogos pedagógicos, e um recipiente biodegradável feito com aparas de lápis. “Se cada um fizer a sua parte, com certeza teremos uma diferença enorme lá na frente. Se cada um colocar um tijolinho, com certeza lá no futuro teremos uma parede. Acredito que algumas mudanças de hábito possam trazer grandes transformações”, afirma Daiane.
Além do Prêmio Sebrae de Educação Empreendedora, as iniciativas da Escola Duque de Caxias garantiram outras conquistas e destaques, além de participações em feiras. “Não é apenas o reconhecimento em forma de troféu, ou o valor que nos deram, mas a quantidade de elogios que recebemos, principalmente por sermos uma escola pública municipal.”
Segundo Daiane, cada conquista tem um peso muito maior e reforça a responsabilidade como educadora de uma escola pública. “Em muitas dessas feiras e premiações, concorremos com alunos mais velhos e de escolas particulares, que têm uma estrutura muito mais completa que a nossa. Hoje ainda não temos um laboratório na nossa escola e esse é meu maior sonho”, complementa.
Para Kamila Pantoja de Araújo, 14 anos, aluna de Daiane na Duque de Caxias e integrante do “Cienciando na Duque”, a certeza do caminho a seguir no futuro chegou em sala de aula. “Quero me especializar nas áreas da ciência ou da saúde, não só vou querer trabalhar com isso, mas também pretendo introduzir meus conhecimentos sobre sustentabilidade e o que eu posso usar no cotidiano para melhorar o mundo.”
Kamila é uma das responsáveis por dar vida ao “Grasspaper”, o recipiente biodegradável que usa o capim-elefante e restos de papel. “Queríamos inovar, usando essas duas coisas, e a gente pensou o que poderia fazer. Surgiu então a embalagem biodegradável. Foram muitas tentativas e quando a primeira deu certo, senti que isso poderia transformar o mundo.”
Segundo a estudante, o projeto a fez descobrir que nada é impossível. “Quando a gente percebe que consegue mudar uma coisa pequena em algo muito inovador, temos a certeza de que podemos deixar o mundo melhor com essas pequenas ideias que surgem no nosso cotidiano”, declara.

Lousas digitais como aliadas da educação
Na Escola Almirante Barroso, em Testo Rega, o também professor de Ciências, Anderson Ferreira Lopes, tem usado ferramentas tecnológicas para otimizar as formas de ensino de seus alunos. Como aliadas nessa missão estão as lousas digitais, que começaram a ser implantadas nas salas de aula da Rede Municipal de Ensino em 2021. “Eu já comecei a trabalhar em Pomerode com esse tipo de tecnologia disponível. Ela permite que o professor opte, conforme o seu planejamento, de utilizá-la tanto como um projetor quanto como uma tecnologia de auxílio no aprendizado do aluno.”
Segundo o professor, para a sua área de ensino, a lousa digital é um apoio interessante. “Utilizo muito os recursos disponíveis como softwares específicos para ensinar anatomia, química, física, ou biodiversidade, por exemplo. Também gosto de aplicar jogos digitais e usar recursos de laboratórios virtuais. E a lousa vem ao encontro de tudo isso porque ela nos possibilita usar a mão, os canetões e a tecnologia de touch, que é o que os alunos estão acostumados com os celulares.”

Anderson explica que, além das lousas digitais, planeja as aulas para os mais de 250 alunos que tem nesse semestre de forma que eles possam usar a criatividade. “A disciplina de Ciências permite muitas modalidades de ensino. Além das lousas digitais, são feitas aulas práticas no laboratório ou fora da sala de aula, seja para alguma pesquisa ou missão, com a experiência de procurar algo, de despertar a criatividade para construir alguma coisa. As minhas aulas se baseiam nessa forma, gosto muito de trabalhar dinâmicas também, como se fossem pequenas gincanas, para despertar o desafio em cada aluno”, destaca.
Para o professor, educar é transformar vidas a partir do conhecimento. “É a missão, dentre tantos desafios que o professor passa nos dias de hoje, de instigar cada aluno a transformar a informação em conhecimento. Se o aluno percebe que o conhecimento que você passa te transformou e te faz feliz, ele aprende mais. Lógico, não vivemos no mundo perfeito, existem realidades diferentes, mas de alguma forma estamos todos os dias trabalhando e acreditamos que haverá mudanças significativas.”
Turmas multisseriadas e os desafios da alfabetização
No Alto da Serra, localidade que faz divisa com Jaraguá do Sul, está localizada a Escola Municipal Raulino Horn. Por lá o que chama a atenção é a quantidade de alunos em sala de aula e também as turmas multisseriadas. “A alfabetização em uma escola multisseriada, onde alunos de diferentes anos compartilham o mesmo espaço e professor, apresenta desafios únicos para garantir um ambiente de aprendizado eficaz para todos eles”, afirma a professora Bruny Romana Krueger.
Ela é a responsável por educar nove educandos do 1° e 2° anos, que estudam juntos no período matutino, e outras oito crianças do Pré I e II no vespertino. “Ser professor é uma jornada desafiadora e recompensadora, que vai além de transmitir conhecimentos.”
Bruny explica que a diversidade de níveis de desenvolvimento, o planejamento diferenciado, a individualização do aprendizado, a integração social e o tempo limitado são alguns dos desafios. “Em uma escola multisseriada a flexibilidade é fundamental. Por isso, utilizo alguns recursos diferenciados e planejo algumas atividades práticas, além do uso de tecnologias e também o aprendizado cooperativo”, afirma.

Para a educadora, uma escola multisseriada em uma cidade como Pomerode pode ter impactos significativos na educação e na formação de cidadãos. “A cidade é conhecida por sua forte influência cultural alemã, possui uma comunidade que valoriza suas tradições e identidade local. Nesse contexto, tentamos trabalhar a integração de diferentes gerações, a preservação da cultura local e a conexão escola-comunidade entre outros fatores.”
Bruny acredita que esses impactos podem contribuir para uma educação mais integrada, centrada na comunidade e alinhada com os valores locais. “Promovendo, assim, a formação de cidadãos que se sintam conectados e comprometidos com sua cidade e cultura.”
Inclusão e propostas diferenciadas para novas realidades
Foi na sala de aula da Escola Hermann Guenther que a professora de Língua Portuguesa, Jocasta Paz Barcellos, percebeu as dificuldades que os alunos haitianos tinham para falar o novo idioma.
Localizada no bairro Ribeirão Clara, a escola recebeu um número expressivo de estudantes vindos da comunidade haitiana, recém-chegados ao novo país. “Em parceria com o diretor da escola, Jelson Luiz da Silva, e com o apoio da Secretaria de Educação de Pomerode, criamos um espaço escolar aos sábados para atender as famílias, fortalecendo os laços entre professor, família e escola.”
O projeto esteve ativo durante o ano de 2022 e conseguiu atender de 10 a 15 alunos, incluindo seus familiares. “O principal ganho foi a oportunidade de conviver, aprender e conhecer cada aluno com sua cultura. Promovemos uma união real entre participantes, enriquecendo a experiência educacional”, expõe.

Segundo Jocasta, as aulas que tinham o apoio da pedagoga Tatiana Jung precisaram ser pausadas temporariamente devido a desafios pessoais das duas educadoras. “Infelizmente, não conseguimos dar continuidade neste momento. No entanto, ficaria feliz se o projeto pudesse seguir com outros profissionais da rede, pois é uma ação valiosa.”
Sempre inquieta com assuntos sensíveis à realidade de alguns alunos, Jocasta iniciou em 2023 o projeto “365 Dias de Consciência Negra – Escola Curt Brandes”. A iniciativa busca promover a diversidade cultural, combater o racismo e desenvolver a consciência crítica dos estudantes em relação à história e à cultura afro-brasileira.

Para a educadora, a escola se apresenta como o espaço ideal para essa ação coletiva. “O projeto abrange desde a revisão de expressões racistas e combate ao racismo até pesquisa e apresentação sobre personalidades negras importantes, estudo de gêneros textuais, produção de materiais, exploração de mídias e preparação para eventos. Surgiu em resposta às falas cotidianas com vocabulário racista, visando promover conhecimento ao longo do ano.”
Para Jocasta, os ganhos com a iniciativa foram muito além da sala de aula e impactaram na inclusão, conscientização e mobilização da comunidade em prol da igualdade racial. “Outras escolas da rede municipal e professores de diversas disciplinas podem adotar o projeto, ampliando seu alcance e impacto que é a inclusão e o combate ao racismo, promovendo uma sociedade mais igualitária”, reitera.
Portas abertas para o mundo
Pomerode é reconhecida pelos fortes traços culturais e o respeito ao legado herdado dos seus antepassados. Como forma de manter a cultura e tradição, o ensino da língua alemã é aplicado na Rede Municipal de Ensino. Além disso, a cidade possui hoje três escolas de Ensino Bilíngue, com 712 alunos.
Natália Braun Hardt estudou na Escola Amadeu da Luz, onde passou a ter aulas do Ensino Bilíngue no segundo ano, com apenas sete anos. “Eu já conversava em alemão com a minha família em casa, então aprender o novo idioma nunca foi uma dificuldade para mim, já que eu estava envolvida com a língua desde muito nova.”

Em 2020, por intermédio da escola, Natália teve a oportunidade de realizar um intercâmbio na Alemanha. “A escola surgiu com essa ideia, nós tínhamos que escrever um texto sobre os motivos pelos quais gostaríamos de ir para a Alemanha. Eu e mais duas alunas fomos escolhidas para uma entrevista na Prefeitura, com uma alemã, a vice-prefeita da época e a nossa professora de Alemão. Foi então que, depois de alguns dias recebi a notícia de que havia sido escolhida para esse programa.”
Inicialmente Natália ficaria seis semanas, mas a viagem teve que ser interrompida após três semanas em função da pandemia de Covid-19. “Foi uma experiência incrível, sou muito grata por ter vivenciado isso, tenho certeza de que me transformou de certa forma, na época eu era extremamente nova, tinha apenas 13 anos e tudo aquilo foi muito especial. Poder frequentar uma escola nova em outro país, conhecer pessoas e aprender sobre a cultura foi muito rico. Essa experiência também me trouxe muita coragem e consegui provar para mim mesma que sou capaz de conquistar tudo o que desejo.”
A oportunidade do intercâmbio foi estendida também para outra aluna da Escola Olavo Bilac, que também o Ensino Bilíngue, e realizado de forma totalmente gratuita (passagem, hospedagem, alimentação). “Tive apenas que levar a quantia a qual eu gostaria de gastar para uso próprio. Pomerode é diferenciada, nós temos uma qualidade de ensino muito boa e espero que sempre se mantenha dessa forma, investindo cada vez mais em projetos como os que eu participei e gerando oportunidades incríveis para os estudantes”, complementa.
Inovação e criatividade na iniciação científica
Somente em 2023, a Feira Brasileira de Iniciação Científica (Febic), sediada pela segunda vez por Pomerode reuniu 280 projetos, envolvendo quase mil participantes. “Incluir projetos no planejamento escolar enriquece o aprendizado dos estudantes. Com este trabalho, os alunos passaram por todas as práticas de ensino de Língua Portuguesa: pesquisa; leitura de textos de gêneros diferentes; produção textual; interpretação textual e oralidade”, explica a professora Elana Pangel.

Um deles, iniciado pela educadora e os alunos da Escola Amadeu da Luz durante no ano de 2022 garantiu a participação na 22ª Feira de Inovação Tecnológica (Fitec) realizada no mês de novembro, em Londrina, no Paraná. “Os alunos receberam mais uma medalha de prata na categoria Ciências Sociais.”
O proposta sobre gás natural surgiu a partir da vontade dos alunos de os alunos de investigar a fonte de energia utilizada em algumas empresas, comércios, residências e postos de combustível da cidade. ”Sabe-se que o gás natural não é renovável; no entanto, é menos agressivo que o petróleo, por exemplo. Sua eficiência energética supera os prejuízos ambientais, e por isso deve ser considerado fonte de energia do país.”
Segundo a professora, as pesquisas foram realizadas em sites confiáveis, visitas a empresas locais e confecção de um folder divulgando o trabalho. “Eles fizeram ainda maquetes ilustrando o projeto e entenderam que o gás natural é fonte energética essencial para a cidade mais alemã do país e para o mundo inteiro. Destaca-se no projeto que, em cenário de guerra, possuir uma matriz energética diferenciada nunca é demais”, ressalta.
Entre os melhores índices de Educação do Brasil
A Educação de Pomerode é, reconhecidamente, uma das melhores do país. Mas o que a torna tão efetiva e transforma a vida das crianças e jovens que vivem na Cidade Mais Alemã do Brasil? A resposta para essa pergunta está nas iniciativas que transformam a Educação, com respeito ao passado e um olhar atento para o futuro.

De acordo com o secretário de Educação e Formação Empreendedora, Jorge Luiz Buerger, é o engajamento completo e intenso dos profissionais da educação, para fazer sempre o melhor para os seus alunos, um dos principais pilares da qualidade do ensino de Pomerode. “São profissionais comprometidos em oferecer um ensino de qualidade, pensando sempre em fazer o aluno ser protagonista no processo da educação.”
O secretário explica que as metodologias ativas e diferenciadas são trabalhadas com os professores para que as aulas sejam bem interessantes para os estudantes. “Pomerode tem tradição na questão da formação continuada para os profissionais. Então os professores estão trabalhando e se aperfeiçoando, não fica apenas naquilo que aprenderam na faculdade.”
O envolvimento ativo dos pais nas escolas dos seus filhos também é outro aspecto que contribui para a qualidade do ensino. “A participação dos pais é outro fator muito importante para a educação em Pomerode. Eles sempre são muito solícitos quando são chamados na escola, para reuniões e eventos. Também vemos a participação ativa no ambiente escolar.”
Jorge destaca ainda o trabalho realizado pelas equipes que fazem a limpeza em cada uma das unidades escolares. “Quem vem visitar Pomerode fica encantado com o cuidado das nossas escolas. E esse conjunto de fatores torna a nossa Rede Municipal de Ensino tão eficiente e com resultados.”
O que é a Formação Continuada para os professores de Pomerode?
A Formação Continuada está prevista pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Pomerode tem como tradição oferecê-la aos seus profissionais, buscando sempre o aperfeiçoamento da prática pedagógica e a melhoria de aprendizagem dos alunos. É um serviço que acontece durante as horas-atividades dos professores e também no início do ano letivo, no período que antecede o retorno dos alunos.
Em 2023, a formação aconteceu por área de conhecimento, atendendo ao pedido dos professores. São encontros de quatro horas mensais e foram mediados pela FURB. Neste ano foram oferecidas 40 horas de formação para os professores e demais servidores da educação.
“Nos encontros os professores discutem o currículo, a adequação à nova proposta curricular do município, os desafios encontrados em sala de aula, trocam experiências, discutem sobre educação especial e inclusiva, além do uso de tecnologias”, explica diretora de Educação Básica da secretaria, Sueli Avancini.