Recentemente crianças e jovens voltaram à rotina escolar, além daqueles que iniciaram seus passos nos centro de educação infantil. Apesar de já terem passado alguns dias, o retorno ou o início dessa caminhada podem ser um desafio emocional para muitas crianças.
No entanto, cada um enfrenta esse momento de maneira única, o que exige atenção e paciência dos pais. A psicóloga e neuropsicopedagoga Alessandra Sopelsa Theiss, autora do livro “Um aprendizado por mês – 9 coisas que você precisa saber antes do seu bebê nascer”, compartilhou sua visão sobre as dificuldades emocionais que as crianças enfrentam nesse período e quais dicas podem ajudar pais e crianças nesse momento.
O desafio da adaptação escolar
Alessandra explica que, ao retornar à escola após um período de descanso, algumas crianças se adaptam rapidamente, criando novos vínculos e se sentindo seguras nesse ambiente. Já outras, podem experimentar estresse e angústia, principalmente nos primeiros dias. A psicóloga ressalta que isso não está necessariamente ligado ao nível de apego à família, mas sim à forma como cada criança percebe a segurança do espaço em que está.

“Nosso sistema emocional está constantemente captando sinais de perigo, e algumas crianças identificam mais insegurança do que outras. Isso pode gerar desafios tanto para as que estão começando a jornada escolar quanto para as que estão retornando após as férias”, comenta.
Para os pais, Alessandra destaca a importância de distinguir entre sofrimento e um processo natural de adaptação. A psicóloga orienta que chorar ou demonstrar resistência ao ir para a escola não significa que algo grave esteja acontecendo, mas sim que a criança está enfrentando a ansiedade do retorno à rotina. Entretanto, quando esses comportamentos são acompanhados de sintomas físicos, como dores de cabeça ou distúrbios do sono, é preciso estar atento e procurar apoio profissional.
Além disso, a psicóloga sugere observar a reação da criança após os primeiros minutos na escola. Se ela se acalma e interage com os colegas, é sinal de que a adaptação está ocorrendo de maneira saudável. Se, por outro lado, ela permanece angustiada por mais tempo ou manifesta um sofrimento contínuo, isso pode ser um indicativo de que há algo mais profundo a ser tratado.
Estratégias para uma adaptação tranquila
Alessandra recomenda algumas estratégias práticas que podem ser adotadas para garantir uma transição mais tranquila:
- Respeitar o tempo da criança, sem impor expectativas de adaptação rápida.
- Garantir previsibilidade na rotina, pois constância e equilíbrio ajudam a criança a se sentir segura.
- Ser pontual na busca, evitando que a criança sinta angústia ao perceber que todos já foram embora.
- Validar os sentimentos da criança, sem reforçar o medo, mas também sem desconsiderar suas emoções.
- Reforçar o apoio da instituição de ensino, para que os profissionais compreendam e respeitem o desenvolvimento infantil, priorizando o vínculo afetivo e o bem-estar emocional.
Diferenças na adaptação de crianças mais novas e mais velhas
A adaptação escolar pode variar bastante conforme a faixa etária. Para as crianças mais novas, o foco está na criação de vínculos afetivos e na sensação de segurança no novo ambiente. Já para as mais velhas, o desafio muitas vezes está relacionado ao desempenho acadêmico e à pressão social.
Alessandra observa que, para todas as idades, o acolhimento e a valorização da singularidade da criança são fundamentais para garantir uma adaptação saudável e equilibrada.
Ajuste para crianças menores
Para os pais de crianças menores, especialmente aquelas que estão começando a frequentar os centros de educação infantil, a adaptação deve ser gradual. A psicóloga sugere que, nos primeiros dias, o tempo de permanência na escola seja curto e vá aumentando aos poucos. A presença de um objeto de apego, como um ursinho, pode ajudar a criança a se sentir mais segura.
“É importante que os pais comuniquem de maneira objetiva sobre a rotina escolar, evitando explicações abstratas que possam gerar mais ansiedade”, explica Alessandra. Ela também destaca a importância de confiar nos profissionais da escola, criando uma rede de apoio que envolve tanto os pais quanto os educadores.
Dicas para pais nos primeiros dias de aula
Nos primeiros dias de aula, Alessandra sugere aos pais que tratem o retorno à escola com naturalidade, sem transformá-lo em um evento excessivamente emocional. Além disso, ela recomenda manter um ritmo organizado, preparando tudo com antecedência e evitando a correria pela manhã. “A paciência com o tempo de adaptação é fundamental”, conclui.
Por fim, a psicóloga lembra que, caso o sofrimento persista ou se intensifique, é importante procurar ajuda profissional para lidar com as dificuldades emocionais que possam estar impactando a criança.
“A escola deve ser um espaço de aprendizado não apenas acadêmico, mas também social e emocional. Os pais podem ajudar os filhos a lidarem com desafios incentivando-os a se expressarem e validarem suas próprias emoções. Afinal, a jornada escolar é parte do caminho da vida, e cada experiência traz aprendizados valiosos.”