Uma história de vida que mais poderia ser narrada em um livro de tão rica e interessante. Nesta edição homenageamos Irenêu Voigtlaender, professor, diretor, atleta, escritor e poeta, um mestre que inspirou gerações de pomerodenses que se destacaram em suas carreiras. Irenêu sempre foi determinado em suas ações e pouco se importava quanto à opinião ou preconceitos. Na época em que deveria escolher uma profissão quis ser professor, quando a profissão era quase exclusiva para mulheres. Na sala de aula aprendeu a arte do magistério junto com 30 mulheres e cinco homens.
O professor das séries iniciais, antigo primário, tinha que ministrar todas as disciplinas. Ele conta que nas aulas eram utilizadas músicas ingênuas. Devido à ditadura militar eram proibidas as músicas de Geraldo Vandré “Pra não dizer que não falei das flores” e “Tropicália” de Caetano Veloso, um dos maiores exemplos do movimento tropicalista, quando diversos artistas lançaram canções abertamente críticas à ditadura.
Dos vários momentos da ditadura, Irinêu lembra de um professor de Língua Portuguesa que após dar sua opinião na sala de aula sobre a revolução Militar foi afastado da escola por nove meses, período em que foi preso e torturado. “Depois ele voltou e não falava mais nada. Liberdade de expressão não tinha”. Para estudar o magistério ia de Pomerode para Blumenau todos os dias. Certa vez os militares segurando metralhadoras pararam o ônibus de estudantes, entraram e gritaram:” Ninguém fala senão vamos meter bala. Revistaram todos e depois foram embora, só por ser concentração de estudantes já era motivo de investigação”, recorda.

Como pesquisador e interessado pela cultura geral pediu revistas grátis oferecidas pelo rádio, sobre a União Soviética, com informações sobre geografia e história. “Queria saber e pedi. A correspondência foi violada. Até estiveram em Pomerode, os funcionários do Departamento de Ordem Política e Social-Dops (órgão do governo que tinha o objetivo de controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime militar).
Para os alunos de Literatura, em 1969 tomarem conhecimento do conteúdo do livro “O Capital” de Karl Max , as páginas do livro foram datilografadas, mimiografadas e cada página era distribuída aos poucos. Muita gente foi presa e torturada naquela época”. Também comprou de uma editora portuguesa os livros de Fernando Pessoa. Como os militares achavam que ele tinha ideias comunistas, o livro demorou seis meses para chegar e quando chegou estava com a caixa aberta”. Das lembranças daquela época, ele recorda o desaparecimento de dois cidadãos de Timbó que faziam Filosofia na Furb e um rapaz de Itajaí desaparecido e de quem nunca mais ninguém teve notícia.
Em 1970 começou a lecionar Língua Portuguesa e História no Colégio Doutor Blumenau. Quatro anos mais tarde passou a ser diretor da escola, cargo que exerceu por muitos anos.
Como atleta formou as primeiras equipes de ciclismo da cidade e organizou provas de ciclismo. João Pizzolatti, atualmente Deputado Federal, quando era seu aluno chegou a ser campeão estadual. Outro aluno, o Hans Fischer foi campeão Panamericano e medalha de Ouro nos Jasc e em 1980 Campeão brasileiro em velocidade.

Irinêu fundou em 1976 o Clube de Fotografia composto por sete pessoas e em 1979 formou o clube de moto que mais tarde passou a se chamar Dragões do Vale. Ocupou o cargo de diretor -executivo da Fundação Cultural no período de 1980 a 1986, na administração do prefeito Eugênio Zimmer, quando teve a oportunidade de conhecer a Alemanha Comunista, Suíça, Áustria, onde foi para fotografar a arquitetura. Ele desenvolveu um trabalho de recuperação e preservação do pratrimônio histórico e arquitetônico da cidade.
Mais tarde, em 1990, ocupou o cargo de diretor do Colégio Olavo Bilac. Em 1997 voltou à Fundação Cultural e em 2000 voltou à direção do Colégio Olavo Bilac. Em 2002 assumiu a escola Hermann Guenther.

Em 2005 com problemas de saúde teve artrose no joelho e ficou na UTI por 11 dias depois de sofrer um Acidente Vascular Cerebral. Para recuperar os movimentos do corpo, passou por fisioterapia e sessões com a fonoaudióloga. A esposa Sonia, com quem se casou em 1980 e teve três filhos, disse que ele trocava as palavras e aos poucos foi se recuperando. Atualmente o professor se dedica às palavras cruzadas para exercitar a mente.
Em um dos seus livros ele escreve sobre o ser humano: “As peripécias do espírito humano, nos revelam o mistério da existência: a proximidade do nada, à medida que o tempo nos impõe seus limites. A vida se encaminha para o grande retorno, onde fingimos encontrar a eternidade, o maior triunfo da vida que ainda não vivemos”.