Nesta manhã, pouco depois das 9h, foi retomada a sessão de julgamento do homem acusado da morte de três bebês e duas professoras na creche de Saudades, no Oeste. Os trabalhos iniciaram com as argumentações dos representantes do Ministério Público que atuam na acusação. Foram momentos de grande comoção entre os presentes. Depois de uma hora e meia, o advogado de defesa usou o mesmo tempo. Em seguida, houve intervalo para almoço. A tarde iniciou com réplica e tréplica da acusação e defesa, respectivamente. Na sequência será feita a votação pelos jurados e a leitura da sentença, o que deve se estender até a noite.
Durante a explanação do promotor de justiça Bruno Poerschke Vieira, o plenário foi tomado pelo som da voz do jurista e pelo choro dos familiares, amigos e demais presentes. Servidores, policiais, socorristas e outros envolvidos profissionalmente no julgamento também não conseguiram conter as lágrimas. O réu exerceu o direito de não estar em plenário durante a fala da acusação.
Vieira apresentou relatório gerado a partir do que foi encontrado no computador do réu. São 98 páginas detalhando as pesquisas que ele realizou. As buscas eram sobre fabricação de bombas, acusados de ataques em escolas, compra de arma de fogo e assuntos que demonstravam ódio por crianças e mulheres. Houve o relato do crime e dos ferimentos causados. A apresentação foi encerrada com um emocionante vídeo feito com fotos das vítimas fatais reluzindo felicidade em suas curtas vidas. “Quando a esposa perde o marido, ela se torna viúva. Quando alguém perde o pai ou a mãe, se torna órfão. Mas quando se perde um filho, ficam apenas saudades”, disse o promotor, fazendo referência ao município onde aconteceu o crime.

De acordo com a acusação, a dificuldade de adquirir arma de fogo fez mudar o alvo dois meses antes do crime. O acusado entrou na escola com um livro para disfarçar a intenção. Os quatro promotores que trabalham no caso fizeram questão de participar do julgamento, embora apenas Vieira faça uso da palavra, já que é o titular do caso. “A denúncia apontou cinco homicídios consumados e 14 tentativas considerando apenas as pessoas que tiveram real risco de morte, como as professoras que seguraram a porta para impedir a entrada do acusado”, explicou o promotor.
A sessão foi suspensa para o almoço pouco antes das 13h, assim que o advogado de defesa encerrou sua apresentação acompanhado, então, pelo acusado. Ele manteve o argumento de que o réu foi manipulado por amigos da internet e tem doenças psiquiátricas. A sessão é presidida pelo juiz da Vara Única da comarca de Pinhalzinho, Caio Lemgruber Taborda.
O agressor foi denunciado por 19 crimes de homicídio entre consumados e tentados. Na manhã do dia 4 de maio de 2021, ele entrou em uma creche no município de Saudades e, com uma adaga – espécie de espada -, golpeou fatalmente duas professoras e três bebês. Outra criança, também com menos de dois anos, foi socorrida a tempo de se recuperar. O processo tramita em segredo de justiça na comarca de Pinhalzinho.
MP apresenta laudos oficiais que atestam a sanidade mental do réu
Durante uma hora e meia, o promotor de justiça Bruno Poerschke Vieira expôs aos jurados as provas coletadas ao longo do processo e pediu a condenação do réu por cinco homicídios triplamente qualificados (motivo torpe, meio cruel e emprego de recurso que dificultou a defesa das vítimas) e outras 14 tentativas de homicídio.
Na sustentação oral, o promotor de justiça apresentou laudos oficiais que atestam a sanidade mental do réu. O objetivo foi mostrar que ele não sofre de problemas psiquiátricos. “Esse homem sabia exatamente o que estava fazendo. Ele planejou minuciosamente o ataque à creche e isso ficou comprovado durante as investigações”, disse o promotor de justiça.
O réu não quis assistir à manifestação do Ministério Público, por requerimento próprio e de seu advogado, mas voltou ao tribunal no momento da defesa. “Se ele for absolvido e sair pela porta da frente deste tribunal, voltará a fazer o que mais gosta, que é matar, por isso peço para que o condenem pelos crimes que cometeu”, ressaltou Vieira.

O promotor concluiu fazendo uma associação entre o nome da cidade e o sentimento vivido pelas famílias que perderam entes queridos em 4 de maio de 2021: “Saudades… Saudades do cheiro, do abraço, do sorriso. Saudades das noites sem dormir, dos choros, dos momentos de alegria e de tristeza… Saudades eternas”.
A sessão do Tribunal do Júri prossegue nesta tarde e a expectativa é que a sentença seja proferida ainda hoje. Além de Bruno, outros três promotores de justiça atuam em plenário: Fabrício Nunes, Douglas Dellazari e Júlio André Locatelli.