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No sorriso de Vitória, a transformação de Israel

Pai enfrenta dificuldades com coragem e determinação para criar, sozinho, a filha de nove anos

O quanto a chegada de um filho ou filha pode transformar a vida de um pai? Para Israel Silva essa resposta é ao mesmo tempo simples e complexa. Antes de enxergar o brilho nos olhinhos de Vitória, hoje com nove anos, era morador de rua, mudava constantemente de cidade e vivia do hoje para o amanhã.

Um rápido relacionamento mudou tudo. Israel se viu com uma menininha nos braços, o maior amor que alguém é capaz de sentir e, com ele, a ciência do que significa estar encarregado pela saúde, segurança e felicidade de outra pessoa. “A Vitória significa tudo para mim, cheguei onde estou hoje graças a ela, do contrário, ainda estaria na rua. Ela me fez entender o que significa a palavra responsabilidade e o quanto precisamos disso na vida para que tenhamos objetivo”, revela.

E o objetivo de Israel é um só, jamais permitir que a filha passe pelo mesmo que ele. Os estudos chegaram apenas até o segundo ano do ensino fundamental. Ainda na adolescência, aos 13 anos, perdeu a mãe quando morava na Paraíba. Os três irmãos, com quem não conversa desde 1998, foram para São Paulo viver com o pai deles. Já Israel ficou para trás. Rejeitado pelo avô, acabou tendo a rua como casa e as dificuldades do mundo como escola.

A partir daí, passou por muitas cidades, várias dificuldades e acabou desenvolvendo a habilidade de viver um dia de cada vez. Mas o homem que Israel era deu lugar a outro completamente diferente quando se viu responsável por Vitória. “Eu a coloquei no mundo, é minha tarefa proteger, educar, dar amor, carinho e lutar para que ela tenha sempre um teto sobre a cabeça”, define.

Atualmente ele trabalha como autônomo, percorrendo a região para recolher e comercializar material reciclável, o dinheiro serve para pagar o aluguel e colocar comida na mesa. O maior desejo de Israel no momento é encontrar um emprego com carteira assinada, para isso, entregou currículos em diversas empresas e comércios que estão precisando de mão de obra e reza por uma resposta positiva de algum deles.

Israel conta que já trabalhou como auxiliar de pintura, servente de pedreiro, auxiliar de mecânica e jardinagem. Ele ainda destaca que, caso alguém precise de caseiro para cuidar de um sítio, sabe desempenhar a maioria das funções necessárias no trato com os animais e manutenção da propriedade. “Seria um sonho trabalhar com isso, pois amo natureza, tenho conhecimento disso e, no período em que a Vitória não está na escola, poderia ficar perto de mim enquanto trabalho.”

O sorriso tímido da filha revela que a menina aprecia bastante a ideia. Ela, inclusive, tem um mini garnisé chamado Dom Pedro. Vitória e Israel planejam ainda adquirir mais duas fêmeas da espécie, que devem receber os nomes de Domitila e Maria Joaquina. A referência por personagens históricas revela não só o gosto de pai e filha por assistir novelas, mas também a matéria favorita de Vitória na escola: história. Ela está no terceiro ano do Ensino Fundamental.

Em meio a gargalhadas, a menina conta que dia desses “Dom Pedro” ficou com a barriga presa na cerca e precisou de auxílio. “Eu tive que ajudar, ele não conseguiu sair de lá sozinho”, afirmou.

Com a simplicidade encantadora na forma de ver o mundo, característica marcante das crianças, Vitória responde gostar muito do pai e querer ficar juntinho dele. “Quero que tudo dê certo.” Atualmente, os dois moram em Indaial, mas já residiram em Pomerode e foram, inclusive, tema de reportagem do Testo Notícias em 2015, quando Israel chamou atenção de todos ao transitar pela cidade a bordo de uma bicicleta adaptada, na companhia da então bebê Vitória. O veículo havia sido pensado para dar mais conforto à filha e também para protegê-la do tempo, já que era o único meio de transporte da família. Construída a partir de sobras de madeira de construção, peças e metais de outros equipamentos, a bicicleta foi fabricada com 90% de material reciclado.

A bicicleta já não está mais com eles, um dos motivos é que a menina cresceu bastante de lá para cá. “Eu já não conseguia mais pedalar o tempo todo com ela na caretinha”. Vitória não tem lembranças desse tempo, mas já leu diversas vezes a reportagem, guardada pelo pai com muito carinho. “Eu achei muito legal me ver nas fotos”, conta.

Ela, aliás, ficou muito animada quando o pai lhe contou que ambos viriam até a cidade. “Gosto muito daqui”, revela. Israel destaca que entregou currículos também em Pomerode e, se a oportunidade surgir, se mudará novamente para cá sem pensar duas vezes. “Faço o que for preciso para trabalhar e dar segurança para minha filha para que ela continue estudando e tenha sempre muito amor.”
Israel diz ainda que deve se mudar em breve para um local com o valor do aluguel mais em conta. Na luta diária, ele tem contado com o apoio de amigos e a solidariedade das pessoas. “O que eu mais quero é trabalhar muito para garantir o futuro da minha filha”, finaliza Israel.

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