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Laços de amor além dos cromossomos

Cássia fala da relação de companheirismo e respeito com a irmã Clarice

A história das irmãs Clarice Regina Schneider e Cássia Rosana Schneider Lochner é carregada de respeito, cumplicidade e muito amor. Clarice, a Clara, nasceu quando Cássia tinha 10 anos e, desde então, o laço que une as duas se fortaleceu cada vez mais. “Sempre vi a Clara como uma luz, um ser divino que está próximo.”

Clara tem Síndrome de Down, que é uma alteração genética causada por um erro na divisão celular durante a fase embrionária, a trissomia do cromossomo 21, o conhecido ‘cromossomo do amor’. “Ela é amor em tudo e eu acho que é muito importante o apoio, afeto e o carinho da família em casos como o dela”, declara Cássia.

Na família, a pequena nunca foi vista como diferente e era incluída em todas as atividades. “No momento em que a família abraça uma pessoa com deficiência, ela é assistida e amada. Os problemas se tornam aprendizado e acredito que as coisas ficam mais leves.”

Quando Clara completou 10 anos, uma triste reviravolta uniu ainda mais as irmãs. Em um espaço de apenas poucos meses, os pais das duas morreram em decorrência de complicações causadas pelo câncer. “A dor foi imensa, não sei o que senti quando perdi meu pai e minha mãe. Os dois, infelizmente, foram vencidos pela doença.”

Cromossomo do Amor: Clarice tem Síndrome de Down e mostra que o afeto desconhece barreiras. Foto: Marta Rocha

Para Cássia, que tinha apenas 20 anos, coube a missão de cuidar da irmã. Mas ela garante que era de Clara que tirava a força para seguir. “Era nela que eu pensava todos os dias. Claro, você é jovem e não tem muita consciência do que está acontecendo. Foi uma barra sim, porque precisava trabalhar para sustentar nós duas. Mas, acredito que a luz divina sempre está muito próxima e acaba nos ajudando.”

A união entre as duas, segundo Cássia, foi o que fez com que elas pudessem superar a perda dos pais e seguissem juntas. Um tempo depois, Cássia conheceu Michael, os dois se apaixonaram e decidiram casar. Porém, ela chegou a acreditar que por ter assumido a tutela de Clara isso não seria possível.

“Na época ele me disse uma frase bem linda e que me marcou: ‘Eu te amo e a Clarice nunca será um problema para mim’. Aquilo foi bem mais que um presente e quando você começa a ver o mundo assim, as coisas chegam para você e eu só tenho gratidão por tudo”, declara.

Cássia e Michael tiveram duas filhas e Clara foi promovida à tia e à irmã mais velha ao mesmo tempo. “Filhos nascem no nosso coração e na alma. Desde pequenas, minhas filhas foram ensinadas de que não existia diferença entre elas e a Clara. A sociedade cria muitas barreiras para os deficientes, mas elas devem começar a ser superadas dentro de casa. A Clara nunca se sentiu diferente e é incluída em tudo o que fazemos.”

A família morava em Blumenau e, há alguns anos, se mudou para Pomerode. Com a nova cidade, veio também para Clara a oportunidade de ser acompanhada pela Apae do município. “O que eu vejo é que hoje o que sabe da síndrome e, principalmente, a atenção que é dada às pessoas com Down evoluiu muito. Hoje eu não consigo ver a Clara sem a Apae, ela ama ir para lá.”

Entre irmãs: amor e respeito entre Cássia e Clarice fica evidente em todos os momentos compartilhados. Foto: Marta Rocha

Segundo Cássia, a instituição se modernizou e hoje atende cada aluno de forma diferenciada. “Ela abraça alunos com as mais variadas síndromes. E isso é o bonito, a Apae existe para dar todo esse cuidado e apoio tão necessários.”

Cássia, que cuida da irmã há 37 anos, explica que ela tem uma rotina que precisa sempre ser mantida, pensando no convívio e o apoio da família, para garantir os cuidados com sua saúde e bem-estar. “Ela acorda, toma café e volta para o quarto, arruma as coisinhas, gosta de televisão e brinquedos lúdicos, como quebra-cabeças. Depois, se arruma e passa as tardes na Apae, é algo pelo que ela espera todos os dias.”

E assim, a rotina de afeto, compreensão e respeito segue fortalecendo a história das irmãs, comprovando que o amor não conta cromossomos e pode superar qualquer obstáculo. “O amor cura tudo e abre portas, até me emociono em falar sobre isso”, declara Cássia.

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