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De pai para filho e de filho para neto

O ofício de caminhoneiro se tornou uma herança passada através de três gerações da família Koch

A história começou em 1969, quando Haroldo Koch, com então 25 anos, adquiriu o primeiro caminhão. Na época, trabalhava na empresa de cerâmica do pai e, após muito transportar mercadoria a cavalo e de carroça, o jovem conseguiu comprar um novo meio de locomoção. Desde o dia em que se tornou oficialmente capacitado para conduzir veículos como caminhões e tratores (habilitação na categoria “C”), desempenhou a profissão até o momento em que não teve mais escolha. “Com a carteira, eu trabalhei quase 50 anos. Parei há três anos por causa do meu olho”, explica.

Mas a continuidade do ofício foi garantida pelo filho, que decidiu seguir a mesma profissão. Adilson Koch, de 53 anos, também trabalhava na cerâmica do avô. No entanto, quando a empresa precisou fechar, decidiu iniciar no ramo de transportes. “Na realidade, de 1995 até 1997 já tínhamos um caminhão em que eu fazia umas viagens para fora. Depois, fixo mesmo, comecei em 2004 e sigo até hoje. Conheço muitos lugares, o Brasil tem muita coisa linda”, pontua.

Depois de quatro anos, Gabriel Alexandre Koch, de 31 anos, ao acompanhar o trabalho do avô e do pai, escolheu também se aventurar na estrada. “Eu comecei em 2008 quando venceu minha carteira provisória [na categoria] ‘AB’ e logo alterei para caminhão. Comecei junto com o pai no transporte, porque ele precisava de motorista e daí engrenei junto. Estamos aí até hoje”, relembra.

Com isso, três gerações de homens da família Koch seguiram a profissão de caminhoneiro: avô, filho e neto. Mas engana-se quem pensa que a sintonia deles é limitada à escolha da profissão. Desde o pai de Haroldo, passando por ele, Adilson e, agora, Gabriel, todos moram na mesma casa, um feito difícil de ser visto nos dias atuais.

Há quem se pergunte como é possível, mas a relação dos três, mesmo morando juntos desde sempre, é baseada no respeito. Para o avô, o segredo de um bom convívio é saber relevar os desentendimentos. “Se acontecer uma briga, tem que esquecer logo, não ficar um mês sem falar. Se passou, passou. Não adianta discutir mais, porque pior fica. Para morar junto tem que ter calma e ficar unidos, porque, se não ficarmos, não funciona”, pontua.

Família: Gabriel e a irmã Graciele junto ao caminhão do pai. Foto: Arquivo pessoal

Mesmo que Gabriel e Adilson tenham rotas diferentes de transporte de mercadorias e, consequentemente, tempos distintos de viagens, com regularidade estão em casa para passar tempo com a família. “Nós geralmente estamos juntos. Um fim de semana, em regra, eu não estou, mas o Gabriel e o pai estão todos os fins de semana em casa”, explica Adilson. “Eu gosto quando eles estão, tomam uma cerveja juntos, fazem um churrasco, uma brincadeira”, completa Haroldo.

O patriarca da família admite ainda que sente falta do filho e do neto quando estão trabalhando. “Às vezes, eles ficam uma semana fora, faz falta, porque quando eles viajam, não sabem quando voltam. Às vezes, nem dão notícia e ficamos preocupados”, conta. Mesmo após anos de estrada e conhecimentos adquiridos, ele segue instruindo os dois sobre diversas situações. “Eles não podem parar em qualquer lugar, mas isso eles sabem porque já tem experiência. Eu digo pra eles, se vocês estão cansados, encosta o caminhão e dorme, não continua com sono, nem que chegue um pouco atrasado, porque é muito perigoso na estrada.”

A partir do momento em que Gabriel adquiriu a carteira para dirigir caminhões até a aposentadoria do avô, infelizmente não houve a oportunidade dos três viajarem juntos na mesma rota. “Eu e o pai já conseguimos, volta e meia dá certo de ir para São Paulo ou até Criciúma, em Santa Catarina, daí cada um vai com seu caminhão. A companhia é ótima, quem é que pode viajar junto com o pai e fazer a mesma rota?”, questiona o mais novo.

Mas, segundo ele, é difícil fazer o “opa” sair de casa para ir junto nas viagens. Só houve uma vez em que a tentativa foi bem sucedida. “Foi em São Paulo, no ‘Posto 4 Irmãos’. Fomos eu o pai, um senhor que é caminhoneiro e mais um amigo, e levei eles para almoçar com os donos do posto. Foi ótimo, custou para ir, mas foi no final”, comenta Adilson.

Despedida: momento em que Haroldo precisou vender um dos seus primeiros caminhões. Foto: Arquivo pessoal 

Dos desafios impostos pela vida na estrada, relatam uma situação comum aos três: o momento em que o caminhão estraga em um local que não tem recursos, como estabelecimentos perto e linha telefônica. “Claro, apesar de que você encontra gente boa que ajuda, mas é a dificuldade, aí complica mesmo”, expõem. No entanto, todos os empecilhos valem quando recordam o lado bom de trabalhar como caminhoneiros: conhecer novas cidades e culturas.

Seja qual for o caminho seguido pelos filhos, uma coisa é certa: a união, amor e respeito para com os pais não muda. “Para o Dia dos Pais, desejo muita saúde para meu pai, muitos anos de vida ainda e muito tempo de todos nós juntos, porque isso é difícil achar, gerações juntas na mesma casa e, graças a Deus, está tudo certo por aqui”, finaliza Haroldo.

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