O potencial dos vinhos elaborados com a uva Cabernet Franc
Quando se comenta sobre vinhos brasileiros, é quase unanimidade falar nos espumantes e no seu destaque dentro da indústria vitícola do país, com rótulos de alto nível e reconhecimento internacional. Já para vinhos tranquilos, a Merlot aparece como grande estrela, sendo por muitos considerada a variedade emblemática do Brasil. No entanto, entre os vinhos brasileiros, há uma variedade que vem ressurgindo e despertado interesse entre enófilos e especialistas, a Cabernet Franc.
A uva ‘Cabernet Franc’ é uma variedade de V. vinifera L. de antiga existência na França, com origem na região de Bordeaux, onde atualmente é a terceira maior variedade em extensão de vinhedos. Juntamente com a Cabernet Sauvignon e a Merlot, forma o famoso corte bordalês, celebrizado na região que lhe cedeu o nome. Além disso, produz excelentes vinhos varietais, principalmente no Vale do Loire, onde é a principal uva tinta cultivada.
Além da França, a Cabernet Franc pode ser encontrada em regiões com clima tropical, como Tanzânia e Indonésia, e outros países com produções menores, tipo Paquistão e Turquia. Também é cultivada em países como Canadá, EUA, Chile e Argentina.
No Brasil, essa variedade foi introduzida no Rio Grande do Sul através da Estação Agronômica de Porto Alegre na primeira metade do século XX, onde foi difundida para os municípios da Serra Gaúcha. No entanto, seu cultivo somente se expandiu a partir dos anos 70, atingindo na safra de 1985 o maior volume de produção, com 10,3 milhões de quilos.
A grande difusão desta cepa nas décadas de 70 e 80 fez com que a Cabernet Franc fosse a base dos vinhos finos tintos brasileiros nesse período. Porém, mais tarde, acabou sendo relegada a segundo plano e gradualmente substituída pela Cabernet Sauvignon e pela Merlot e até poucos anos atrás, chegou a ser vendida pelo preço de uva comum.
Mas qual foi o motivo para ter ocorrido essa redução no seu cultivo? A principal causa para a erradicação dos vinhedos de Cabernet Franc nos anos 90 foi à qualidade dos clones que foram introduzidos no país. Houve muitos problemas fitossanitários (viroses), e os vinhedos começaram a produzir menos e com menor qualidade. Como pode-se observar onde em 1985 produzia-se mais de 10 mil toneladas da uva Cabernet Franc e em 2000, esse número havia caído para 2,5 mil toneladas.
Nos últimos anos, novos clones, de melhor qualidade e sanidade, foram reintroduzidos com segurança no Brasil e a Cabernet Franc começou a ganhar destaque novamente. Atualmente uma série de Vinícolas, principalmente no Rio Grande do Sul, estão produzindo excelentes rótulos varietais de Cabernet Franc, sendo considerado por muitos, como um dos melhores vinhos tintos elaborados no Brasil. Como exemplo, destaca-se o vinho tinto Cabernet Franc da Vinícola Valmarino, que recebeu o prêmio de melhor vinho tinto no Concurso Top Ten da Expovinis 2015, na categoria melhor vinho tinto nacional. Além desse vinho, destacam-se outras vinícolas que estão produzindo excelentes vinhos Cabernet Franc, como a Luiz Argenta, Casa Valduga, Aurora e Don Giovanni.
A Cabernet Franc apresenta uma grande versatilidade de usos, os vinhos elaborados com essa variedade geralmente não têm cor muito intensa, possuem corpo leve a médio, bom frescor e boa textura. Taninos macios, médios e sedosos. Possui aromas pronunciados, frutado, com notas de framboesa, cereja, morango e groselha, além disso, pode apresentar notas de violeta, mineral, pimenta e toques vegetais. Com o amadurecimento pode adquirir notas mais complexas. Devido a suas características, a Cabernet Franc é usada principalmente em cortes com outras uvas, para incluir sabor e textura ao vinho. Porém pode-se também elaborar vinhos leves, menos tânicos do que outras cepas tintas, para serem consumidos jovens. No entanto, a reputação de vinhos jovens não deve obscurecer o fato de que existem vinhos encorpados feitos de Cabernet Franc que são capazes de envelhecimento ao longo de muitos anos.
