Quando era jovem, possuía uma ótima memória. Na época, ainda não tínhamos smartphones, então era comum ter que digitar o número do telefone para o qual desejávamos ligar (pasmem vocês, jovens). Me orgulhava o fato de que, dificilmente, precisava consultar a agenda telefônica ou o bloquinho, mantidos pelos meus pais na mesinha (pasmem novamente, a gente anotava o número de telefone das pessoas a mão).
Com o passar do tempo, minha capacidade cognitiva continuava bastante apurada, não precisava anotar horários de consultas, dias de prova, compromissos profissionais, uma revisada na matéria servia para ter como resultado uma boa nota, conciliar múltiplas tarefas era fácil e eu simplesmente não conseguia entender os esquecidos e atrapalhados de plantão. Mas a vida é cruel e na semana passada cheguei a um ponto sem retorno: fui trabalhar calçando o chinelo separado, “por euzinha mesma”, para ser utilizado nos serviços feitos do lado de fora de casa (quintal, grama, brita… Enfim, sujeira).
Por quê? Porque essa é a vida! Naquela manhã, precisava estender no varal as roupas que havia lavado durante a madrugada (só coloquei na máquina e fui dormir). Logo, calcei os chinelos “para fora”, estendi a roupa, tomei minha xícara de café e fui para o trabalho.
A realidade da depreciação cognitiva me atingiu ao estacionar o carro em frente ao jornal. Havia algo estranho. Meu cérebro entendeu a situação milésimos de segundos antes dos olhos registrarem a triste cena, eu estava de chinelo… Não de rasteirinha, nem com aqueles calçados cheios de enfeites, não, nada disso, era o chinelo de fazer serviço fora!
Que saudades da minha antiga organização mental. Acho que é chegado (passado) o momento de começar a fazer palavras cruzadas, jogo da memória, tomar vitamina B6, fazer uma novena de súplica… Não sei! Aliás, se você me viu de chinelo pela rua, não me julgue.
