Se Elsa, aquela da Disney, resolveu “Let it Go”, em Pomerode ela resolveu foi “Let it Freeze”. E olha, conseguiu. Não é só o chão que está gelado — é a alma. A minha, inclusive, está usando duas meias e um cachecol.
Acordei hoje com a sensação de que fui atropelada por um caminhão de vento polar. Estou no meio de mais uma daquelas gripes históricas, daquelas que entram para a biografia da gente. Me falta apenas registrar em cartório: surdez parcial no ouvido direito, uma dor de cabeça pulsante que bate ponto de hora em hora, e uma tosse que faz eco na vizinhança.
À noite meu quarto vira campo de batalha. De um lado, eu — embaixo de duas cobertas bem grossas, parecendo uma almôndega humana. Do outro, a gripe, que não tem rosto, mas tem presença. Uma presença arrogante, debochada. Ela já venceu meu sistema imunológico, minha paciência e até o gosto do meu chá, que agora é uma mistura indecifrável de gengibre, mel, alho, limão e desespero.
E o frio? Ah, o frio… O frio está fazendo cosplay de Alasca. Você espirra em Pomerode e o vapor do seu próprio nariz volta em forma de neve. O chuveiro virou um desafio olímpico. Entrar nele é enfrentar o abismo. Sair dele, então, só de armadura térmica.
Entre um espirro e outro, observo pela janela: a neblina cobre os morros com um véu melancólico antes do amanhecer, o vidro está embaçado e a rua parece ter sido abandonada por todos os seres de sangue quente. Há uma beleza nisso tudo, claro. Um certo charme. Mas confesso que estou com saudades de sentir meu nariz sem parecer que ele foi colocado num congelador.
Ainda assim, sigo firme. Não exatamente forte, mas coberta. A gripe vai passar. O frio, também. E, quem sabe, da próxima vez que Elsa vier visitar, ela traga um descongestionante nasal.