Céu estrelado, brisa da noite, ruas vazias… silêncio rompido pelo som de passos. Caminha menina, caminha! Mais rápido agora, dobra o ritmo, não corre, finge que não percebeu a presença dele, só continua. Já sei! Pega o celular, finge que está falando com alguém. Um pai, um irmão, um namorado! Fala assim ó: “amor, já estou chegando à esquina, me espera ali, 30 segundinhos.” E caminha menina, caminha!
Ele desistiu agora? Estava te seguindo mesmo ou tu só ficaste com medo? Se já não ouves mais os passos, te acalma, respira! Quem sabe ele estava só indo pelo mesmo trajeto. Talvez o fato de ter acelerado o ritmo quando apressaste o teu seja só coincidência. É?
Segue minha voz agora, inspira pelo nariz, expira pela boca, vai acalmando as batidas do coração. Mas não para, por nada nesse mundo ouse parar! Caminha menina, rumo ao teu destino, caminha.
Então o quê? Você precisou ficar horas a mais no trabalho? Estava voltando da faculdade? Foi para a academia? Esteve em um jantar com amigos? Não importa, andando sozinha essa hora, tá querendo!
Querendo paz e a liberdade de ir e vir, eu sei! Mas se eles não param, tu caminhas. A direção é em frente, avante, por sobre muros e cercas, querem que tu pares. Não para.
Ainda assim, sou obrigada, pela feminina condição que nos une, a avisá-la que não importa quantas graduações, mestrados ou doutorados tenhas, ou sequer o fato de seres independente emocional e financeiramente, voltar para casa à noite, sozinha, a pé, de bicicleta, de ônibus ou de carro, ainda será um momento aterrador para toda e qualquer mulher.
“Oi gatinha, vem aqui vem”, “pra quê correr meu anjo, eu só quero conversar”, “eu não tô me esfregando em você não, sua louca”, “calma, você vai gostar do que tenho pra te mostrar”. Não importa o que digam, obriga teus pés, segue o ritmo mulher, coragem agora. Teu futuro te aguarda, caminha em direção a ele.
Faz um lar em teu próprio corpo, faz as pazes com a brisa, caminha até que não estranhem mais uma mulher a essa ou àquela hora, com essa ou aquela roupa, com esse ou aquele peso, de tênis ou de salto, sozinha ou acompanhada, dona de casa ou empresária, dessa ou daquela etnia. Caminha menina, pois assim caminhamos todas nós. Talvez não tão rápido quanto gostaríamos, talvez não a todos os lugares que almejamos, mas sabe menina, já chegamos longe! Então continua, caminha menina, caminha!