Infelizmente
Vamos começar a nossa conversa, sem rodeios, certo? E para não perder tempo, algumas perguntas, posso? Obrigado. Diga-me, você é uma pessoa pontual, daquelas que saem de casa bem antes do horário para não correr o risco de chegar atrasada? Você cuida bem dos cabelos, os mantêm sempre penteados? Cuida das roupas, não vai para o trabalho como quem vai para as pitangas? Você é pessoa educada, respeita colegas como respeita os diretores? Não costuma faltar ao trabalho por qualquer gripezinha sua ou dos filhos? Você procura melhorar a sua condição operacional, buscando continuadamente mais qualificação? Preocupa-se com o sucesso da empresa e com as expectativas que jogam sobre você? Trabalha sem perguntar pelo pagamento de horas-extras quando a empresa lhe pede uma “ajuda”? Você anda na rua sabendo que sua imagem se confunde com a empresa que lhe paga o salário? Acho que chega. Você respondeu sim a todas as perguntas? Então, saiba que você anda mais ou menos sozinho pelos corredores da empresa… E segundo, arrume seu passaporte, no Brasil você só será reconhecida/o como bom trabalhador/a por acaso, o mais provável é que seja pessoa esquecida em todas as promoções possíveis em sua empresa. O comum é o reconhecimento e os aplausos para os medíocres, para os que pegam leve, mas fingem suar, molhar a camisa pela empresa. É regra no Brasil, e não é de hoje que é assim. Não vamos longe, olhe bem para os políticos por maioria no país, não são os melhores que costumam ganhar os votos, não são. Nas escolas, os melhores alunos são vítimas de bullying, enquanto os desordeiros ordinários são tratados com a pedagogia do amor. Infelizmente é assim, não vejo luz no horizonte da pátria, aliás, não era por outra razão, imagino, que o dramaturgo/jornalista Nelson Rodrigues costumava dizer que nós, brasileiros, vivemos a síndrome do vira-lata… Uma injustiça contra os pobrezinhos dos vira-latas, tão amorosos e inteligentes.
Durante seis anos trabalhei com a diplomacia americana no Consulado de Porto Alegre como repórter da Voz da América no Brasil, e com eles aprendi que medalha de “prata” se joga fora, prata é o primeiro lugar dos perdedores. Os americanos gostam e premiam a “meritocracia”. E nós? Se você for muito bom no trabalho, provavelmente não será notado ou será “esquecido”. Infelizmente.
HISTERIA
Não tome a palavra como agressiva, mas como escandalosa. Aliás, como narrador de futebol, eu fui um narrador histérico, e voltaria a sê-lo… O “Outubro rosa” foi uma histeria única, não critico, fico reprochando, isso sim, a hipócrita imprensa brasileira que não abriu até agora o mesmo espaço histérico para o novembro azul, dos homens. A mamografia é importante para as mulheres, e os exames preventivos de câncer de próstata não o são para os homens? Respondam!
VIDA
Olhando para trás, bah, que pena dos nossos avós, não tinham as molezas de hoje, nada de tecnologias, de facilidades de controles remotos… Pois é, mas eram mais felizes. Hoje, crianças de 3, 4 anos já têm smartphones na mão, são (falsamente) inteligentes, vivem ansiedades desconhecidas no passado e se acotovelam com as depressões. Tanto quanto os adultos. Dizer que a vida de hoje é melhor é não saber nada da vida…
FALTA DIZER
Os caras não tinham luz elétrica, tinham que ir dormir com as galinhas (cedo), não conheciam canetas azuis, escreviam com lápis, andavam a pé, o banho era frio, contudo, alinhavaram as maiores riquezas empresariais e puxaram as cortinas para as modernidades científicas de hoje… E os “inteligentes” são os mimimis de hoje?