Sair por aí
Não tenho culpa, ela está aqui de novo, tocando na minha campainha. Quem? A felicidade. Abri o jornal e a manchete saltou-me às retinas: – “Finlândia lidera ranking mundial de felicidade”. É o resultado deste ano da pesquisa feita pelo Relatório Mundial da Felicidade, da Organização das Nações Unidas. E toda vez que vejo essa manchete, sobre povos felizes lá ao longe, muito longe “daqui”, fico inquieto. Diachos, o que esses caras fazem para serem assim tão felizes? Fui ler o relatório.
A primeira questão é que o pessoal por lá não se endivida, os chamados hábitos de consumo chamativos são vistos como falta de educação… Bem diferente, como se vê, do que acontece por aqui. Aqui o pessoal não tem onde cair morto, mas tem carro na garagem, faz viagens com “milhas dadas por empresas aéreas”, coisa de bregas sem classe, não deixa de comer fora e por nada abre mão do lazer de fim de semana, claro, tirando foto dos pratos sobre a mesa e postando nas redes sociais. Cruzes!
Outra coisa. Os finlandeses não veem no consumo qualquer escada para a felicidade, mas não abrem mão da vida comunitária com parentes, vizinhos e amigos. É hábito, rotina. Há forte apego social, o que diminui a solidão e os desassossegos da vida isolada. Claro, não esquecendo que os finlandeses têm uma previdência social “daquelas”… Ninguém fica na fila de madrugada, a assistência é assegurada a todos. Dá para respirar. Agora tem uma coisa…
Quem é que nos proíbe por aqui de termos uma boa vida social a partir de laços de amizade com pessoas de todo tipo, relacionamentos que não se escorem em exibicionismos e postagens em redes sociais? Quem é que nos proíbe de vivermos com o nosso salário sem fazer escaramuças para dissimular nossos ganhos e despistá-los com endividamentos? Quem é que nos proíbe de darmos de ombros para as falsas aparências e gritarmos para todo o bairro ouvir que não há churrasco melhor que o da laje? Sem a frescura do churrasco gourmet, uma besteira inventada por cabeças de porongo. Quem é que nos impede de sermos felizes em casa num fim de semana, sem precisar sair por aí para nos aliviarmos da cara da mulher ou do marido? Ser feliz, meus amigos, finlandeses, depende só de nós, e vocês descobriram isso, seus espertos.
DINHEIRO
Ouça esta de uma consultora financeira: – “Cá entre nós, não há amor que resista a problemas financeiros”. Bem discutível, doutora! A falta de dinheiro pode resultar de questões importantes, sérias, nesse caso, sem brigas entre o casal. Mas se a falta de dinheiro resultar de uma cabeça frouxa, ou de duas, a saída é criarem vergonha na cara ou partirem para outra… Entendeste? Sutil.
SERÁ?
Um humorista dizia na televisão que ricos e pobres são absolutamente iguais, a diferença entre eles está no dinheiro. Essa frase abre uma discussão. Conheço pobre que têm uma cabeça riquíssima e conheço ricos que não podem ver um pasto… Enriquecer a cabeça é fazer um investimento contra todas as crises, essa riqueza não tem quedas na frágil bolsa de valores morais que anda por aí. Já a riqueza do dinheiro pode voar…
FALTA DIZER
Sem fé num determinado medicamento, seu efeito será quase ou inteiramente nulo. O efervescente da “fé”, o colorido do comprimido, a simpatia e o otimismo do médico fazem o roteiro da cura. Sem esse roteiro, nada feito. Vale dizer, o que cura ou enferma uma pessoa é a sua cabeça… Sem discussão. Certo? Acho bom.