Lá e cá
Ouvi uma mulher há pouco na televisão e lembrei de imediato de uma oração de São Francisco de Assis, aquela que diz: – “Senhor, dai-me forças para mudar o que pode ser mudado; resignação para aceitar o que não pode ser mudado… E sabedoria para distinguir uma coisa da outra”. Interessante.
A mulher que me fez lembrar dessa oração era uma dinamarquesa. Ela dava uma entrevista a um desses repórteres que andam pelo mundo ouvindo e contando sobre “coisas estranhas”. Uma dessas coisas estranhas, por exemplo, é a Dinamarca ser apontada em muitos estudos como o país de povo mais feliz do mundo. Como pode?
Arrisco uma resposta: a Dinamarca é um país pequeno, tudo nela é mais fácil. Já no Brasil somos muitos países dentro de um só, nunca vai dar certo, nunca…
Mas o que me chamou a atenção na entrevista da dinamarquesa foram alguns exemplos que ela deu. Um deles. Quando os pais saem para jantar, os filhos crianças ficam em casa, se forem com os pais ao restaurante terão que comer e ficar em outra sala, com toda segurança e tudo o mais, mas em outra sala. No espaço dos adultos, só adultos. E todos sabem disso e não há um único ignorante para berrar em sentido contrário. Será que as crianças lá também são demoníacas…?
Outra coisa. A dinamarquesa deu como exemplo a neve. Está nevando? Ninguém na Dinamarca fica na janela imprecando contra a neve: – “Ah, que neve desgraçada, não para nunca, que neve infeliz”! Não fazem isso também contra a chuva ou contra o calor, contra nada, enfim, que eles não possam mudar, bem como orava São Francisco. Aceitam o que não pode ser mudado e não se infelicitam.
Tudo muito diferente do nosso cotidiano. Nós temos o vezo de nos queixar de tudo, o que, aliás, foi dito por um diplomata chinês ao então presidente vermelho do Brasil: – “Vocês só reclamam”, disse ele. Com toda a razão.
Lutar pelo que podemos fazer, descansar diante do que não podemos e sabedoria para saber das diferenças, aí está um mantra da felicidade. Mas vá dizer isso aos broncos das esquinas (maioria estonteante dos brasileiros), vá.
E para terminar. Por aqui o que mais há é gente rangendo dentes contra o salário, sem querer admitir que o salário depende, em muitíssimo, da pessoa e não do empregador. Brasileiros…