Quem é autoridade?
A vida em sociedade é um jogo, um jogo muito sujo. Não vou dizer que só os sujos têm chances de vitória, mas os que jogam limpo têm que dar a volta no quarteirão para chegar juntos… Claro que a vitória dos “sujos” se confunde com as lava-a-jatos da vida, para eles não importam os meios, importa o fim… Canalhas.
Estou dando estas voltas depois de ler um manual de comunicação, dicas e sugestões para o aperfeiçoamento da comunicação, instrumento decisivo para que tenhamos um pouco mais de chances no jogo do cotidiano. Mas também não vou dizer que os hábeis da comunicação são pessoas admiráveis, pelo contrário, muitíssimos deles jogam com o verbo para silenciar os mais recatados.
O que li no tal manual de comunicação dizia, a certa altura, que – “Respeite a hierarquia, mas como ser humano sinta-se de igual para igual”. Muito fácil dizer isso. Na minha longa jornada como jornalista, por todos os estúdios por que passei era sempre uma correria de gentilezas quando o entrevistado que chegava era um bota-suja da política ou uma autoridadezinha qualquer. Sempre disse, repito agora: para que alguém se alce à condição de autoridade precisa conjugar duas virtudes: alta competência no fazer o que faz e caráter asseado, virtuoso. Você conhece uma autoridade assim? Escreva para o Faustão…
Mas de nada adianta esse conselho do manual de comunicação, os que se sentem menores baixam os olhos diante de um rato autoridade. Claro que somos iguais, e quando as pessoas têm caráter asseado não há porque baixar os olhos para este ou para aquele.
Ninguém é melhor que ninguém? Não, ninguém, desde, já disse, que os caracteres (plural de caráter) sejam parecidos, isto é, bons. Ademais, um ricaço gravemente doente trocaria, por certo, sua riqueza pela saúde ostensiva de um pobretão. Há momentos na vida que nos baixa o santo da verdade, o “santo” da consciência de que nossos prepotentes títulos emprestados pela sociedade não têm qualquer valor quando estamos com a corda dos flagelos apertada no pescoço… Os sábios sempre souberam que tudo pode mudar de um momento para outro. E se é assim, nada de baixar os olhos para quem venha a estar, hipoteticamente, acima de nós. O que vemos por fora não vemos por dentro. Não respeito autoridades de poder delegado, me curvo, todavia, para as autoridades da decência existencial.