Tanto esforço e nada
Dia destes faleceu um grande jornalista/escritor brasileiro, um sujeito especial, boníssimo, culto, irônico e pessimista… Esse qualificativo, pessimista, era o que dele muitos amigos diziam. Fiquei pensando. E não pude deixar de dar razão ao falecido.
Faz muito tempo que discutimos a vida, todos nós, do grande rebanho humano, fazemos isso. Por desatenta que seja a pessoa, no íntimo ela sente que nasceu para o Nada… A vida é um formidável nada a dar um passo a cada dia para o Nada final, aquele que nos assusta do berço até… até ao último suspiro. A consciência do fim traz-nos a consciência das inutilidades da vida, faça o que você fizer, você um dia… Vamos mudar de rumo na conversa…
O jornalista/escritor falecido tinha uma cabeça formidável, mas era, no dizer de todos os que o liam, ouviam e com ele privavam, um pessimista. Engraçado isso, todas as pessoas cultas, de grande saber que conheci e conheço não são otimistas de almanaque, daqueles afeitos ao positivismo das esquinas. E toda vez que falo disso, lembro do Eclesiastes, meu livro favorito na Bíblia.
No Eclesiastes você “ouve”: – “Pois quanto maior a sabedoria, maior o sofrimento; e quanto maior o conhecimento, maior o desgosto. Porque na grande sabedoria há grande pesar; e aquele que cresce em saber, cresce em dor”. Mais ou menos isso.
Qual a conclusão dessa verdade, verdade que foi organizada e passada adiante por humanos? Antes de tudo, criar medo nas pessoas, medo do saber… E a consequência mais imediata desse medo é a ignorância que favorece o escravagismo e o desconhecimento das leis do trabalho e da vida, por exemplo. Só que, por outro lado, de fato, saber muito cria-nos desilusões, ficamos mais perto das verdades do Nada. Afinal, para que tantas lutas, por que tantos conflitos, ciúmes, ambições, esforços, renúncias, sacrifícios? Para que tudo isso se o final “da ópera” é conhecido ou intuído pelo ser humano?
Vem dessa verdade o desencanto das pessoas mais cultas, como foi o caso do jornalista/escritor recentemente falecido e de todos os outros, iguais a ele, ricos em conhecimentos e plenos de angústias e sofrimentos… Melhor é não saber? Sem dúvida. Todavia, o preço da ignorância é talvez muito mais aflitivo que o saber que nos leva ao sofrimento diante da grande verdade do Nada final da vida… Melhor é saber? Você decide.