Os venenos de cada dia
É um rito. Por volta das 5:30 de todas as tardes preparo meu chimarrão, vou tomá-lo esperando pelo Tempo de Amar, minha novela imperdível. Mas… enquanto espero pelo Tempo de Amar, tomo meu chimarrão e giro entre Record e Band, vendo os programas policiais… Babaca! Hein? Babaca, já disse. Eu, eu mesmo em carne e osso.
Tomar chimarrão é um rito que envolve paz, descanso, pensar nos anjos e sonhar com os paraísos da vida, se não for assim, que o sujeito vá capinar. O chimarrão não pode ser misturado a sangue, estupros, homicídios e todo tipo de torpeza de que são capazes os bandidos. É o que vejo nas tevês… Argumento que vejo por necessidade profissional, afinal, um jornalista de opinião não pode ser um tapado a nada saber do que acontece. Ainda assim, a hora do chimarrão “devia” ser de paz, quase sagrada. Acabo fazendo da hora do chimarrão uma encrenca, um bufar de ódios contra bandidos a quem desejo a morte. Veneno puro.
E dia destes fiquei a pensar, nós nos envenenamos, querendo ou não, a todo momento, um veneno com reflexos diretos sobre o corpo físico, afinal, sem a cabeça pensante e os sentidos funcionando ninguém jamais adoecerá no corpo físico…
Nossos pensamentos, nossas palavras, nossos ouvidos, nossos olhos trazem para nós todo tipo de prazer ou dor. Muito mais dor que prazer. E vem dessa verdade a principal razão de o ser humano ter tantas dificuldades para ser feliz… Sempre haverá um veneno a nos fustigar, ou pelo pensamento ou pelos olhos ou chegando pelo ouvidos ou saindo pelas palavras… Difícil escapar.
Mas misturar o amargo/doce chimarrão com casos de polícia é burrice. Defendo-me dizendo que preciso estar informado. Tudo bem, seu estúpido, mas precisas ficar bem informado justamente na hora do chimarrão? O que faço muitos fazem parecido; bom, não vamos longe, americanos (bisbilhoteiros de todas as pesquisas) já não disseram que tem quem faça sexo com o celular ao lado do travesseiro? Que o sujeito mal terminado o “serviço” e já se gruda no celular… Esse é o ser humano. Buscamos os nossos venenos e depois gememos. Mas o pior de tudo é saber que há quem pense que esses estímulos que nos chegam pelos mais diversos sentidos são apenas estímulos, que não afetam as nossas tripas… A ignorância é mesmo mãe de todos os óbitos…
Já estou olhando para o relógio, a esperar pelas 5:30 da tarde…