Voto de pobreza
Eu imagino a cena. Há alguns milhares de anos, alguns vadios, muito pobres, estavam “descansando” do nada-fazer debaixo de uma árvore. Como todos os inúteis desocupados, queixavam-se da sorte e falavam mal dos que moravam em palácios…
Foi aí que um deles, mordendo a língua de tanta raiva dos que dispunham de dinheiro, lavrou entre os dentes a frase idiota: – “Mais fácil será um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus…
Aliás, um dia um abobado me quis corrigir, tentou me explicar de outro modo essa frase do alicerce existencial dos fracassados. Coitado. A frase é tão transparente quanto um véu de noiva…
De lá para cá, os pobretões vivem a falar mal dos ricos, mas não se flagram que entram na fila da Mega-Sena querendo também ficar ricos. Não é uma formidável contradição? Ou talvez eles não queiram entrar no céu, talvez seja isso…
Há ricos e pobres honestos, admiráveis, há ricos e pobres safados, vigaristas. Agora uma coisa: imagine uma sociedade sem os ricos. Quem geraria empregos, quem contrataria domésticos e domésticas? Quem financiaria a ciência, quem patrocinaria eventos e tudo o mais? Quem faria, enfim, girar o dinheiro que, pouco ou um pouco mais, alimenta a mesa dos pobres? E que fique também muito claro: ninguém está impedido de estudar, de crer, de investir, de construir uma empresa e ficar rico. Não há constituição na sociedade livre, democrática, que impeça essa possiblidade a qualquer um. Vivo dizendo, um jovem pobre, ele ou ela, pode tirar o primeiro lugar no vestibular de Medicina da Universidade de São Paulo, o mais concorrido do país. Depende só da pessoa e da sua vontade. Aliás, ainda não disse por que estou neste assunto. É que dia destes a imprensa andou noticiando sobre o aumento no número de bilionários no Brasil e sobre o crescimento de suas fortunas. E isso provocou furor em muitos bolsos-furados…
Ninguém até hoje me proibiu de ficar rico, minha pobreza tem a minha assinatura e essa assinatura foi fixada no meu roteiro profissional no dia 29 de junho de 1960, quando assinei meu primeiro contrato profissional como locutor-narrador de futebol na Rádio Porto Alegre. Ali eu me comprometi com o “sacerdócio” do jornalismo e fiz, pois, o voto de pobreza… Pobre e feliz. Decisão pessoal. Nada contra os ricos. E tudo contra os maus, isso sim.