Coluna do Prates para a 2ª feira, dia 6 de Agosto de 2018.
Li tudo o que podia sobre uma mulher, brasileira, jovem, mãe, bonita, mas… estulta. Ela quis, imagino, ter uma vida melhor e para isso atreveu-se a entrar com os filhos de modo clandestino nos Estados Unidos, logo aonde… Foi presa, ela para um lado, filhos para outro. Não ouvi falar em nenhum momento sobre o marido… Onde andará o marido? Estranho, uma mulher jovem, bonita, filhos ainda pequenos e… tentando numa louca aventura não sei exatamente o quê… Afinal, como brasileira, o que ela poderia ter lá fora que não tivesse bem melhor por aqui? Sim, eu sei, mais das vezes, as viagens humanas são fugas de si mesmo, a pessoa foge, antes de tudo, delas mesmas. Belas viagens, aparentemente lazer, viver… não passam de despistes de uma fuga interior, de um incêndio não debelado na alma…
Acompanhando a história dessa jovem mulher brasileira, fiquei pensando na proposta budista do “aqui e agora”, a história de que só podemos ser felizes aqui e neste momento, impossível ser feliz “amanhã” e em outro lugar. – Ah, quando eu estiver lá… Esse quando e esse lá são distâncias de mim mesmo, do meu agora. Esse tipo de fuga, fuga de si mesmo, nunca dá bom resultado; só uma pessoa muito estulta para não saber que não podemos fugir de nós mesmos. E nem vou considerar que fora da nossa terra seremos sempre estrangeiros, intrusos, fujões, covardes existenciais, o que for. Claro que esse “catecismo” só vale para os fujões, os que estão tentando deixar para trás o que levam dentro de si mesmos.
Mania de muita gente não dar valor ao que tem hoje, seus bens mais imediatos e insubstituíveis, o cheiro da sua terra, as raízes mais fundas da nossa origem e alma, o aqui e agora da nossa vida, enfim. Há pessoas que só admitem a felicidade no lá e então; lá, em outro lugar, e então, em outro momento. Impossível fechar essa conta. Ou vivemos a felicidade aqui e agora ou não a viveremos. Felicidade – quem não sabe? – não pode depender de onde estamos e quando estamos; felicidade depende de uma consciência de paz e adequação, e essa paz e adequação não podem depender de tempo e lugar. Ou aqui e agora ou nada feito. – E aí, mamãe brasileira, aprendeste que o melhor lugar é o aqui e agora neste Brasil?
MAGIA
O ser humano é muito estranho. Sabemos que a cada piscar de olhos estamos a um piscar de olhos a menos do fim da vida… Ainda assim, vivemos suspirando pelo amanhã, por um futuro qualquer, desconsiderando que o amanhã será um dia a menos de vida. De fato, parece mesmo que há no ser humano um imenso desejo de morte, um instinto de morte, um desejo de voltar ao nada. Suspirar pelo amanhã é suspirar pela morte mais cedo…
VIAJANTE
Li a história dela nos jornais. Casada por meio século, presa às lides domésticas, cuidando da casa, filhos, netos e… marido, é claro. O marido morreu e… ela agora não para em casa, vive viajando. Por que não viajou antes, mais jovem, com marido vivo? Interesse essa questão. Conheço multidões de mulheres que escaparam para a vida depois de viúvas. Casamento é mesmo “soga” para a maioria das mulheres.
FALTA DIZER
Desapegar-se de anseios pelo futuro e por outros lugares é de fato sabedoria, como prega o budismo. Aqui e agora, eis a vida. Tudo o mais é esperança, utopias ou loucuras. Os sábios sabem disso, os estultos vivem esperando pelo amanhã e espiando um horizonte que só existe na fantasia.