A falta de respeito na ponta da agulha

Descarte incorreto de seringas e agulhas expõe funcionários do Samae a grande perigo

Em menos de dez dias cerca de 500 seringas com agulhas foram encontradas pelos colaboradores do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) de Pomerode, que realizam a separação do lixo reciclável na usina de triagem da cidade. Muito além da quantidade assustadora, o descarte incorreto destes materiais causou marcas para dois colaboradores da autarquia que vão muito além de um simples ferimento.

Marcos Mohr, 39 anos e Magrit Mohr, 38, tiveram a mão picada por seringas que estavam desprotegidas dentro dos sacos de lixo reciclável. “Mesmo com a luva, a seringa entrou em minha mão. Estou tomando o coquetel de remédios, que é muito forte e estou sentindo diversas reações, como enjoo, dor no estômago e mal-estar. Além disso, existe a preocupação quanto às doenças que se estende para toda a família”, conta Marcos.

Magrit trabalha no Same há nove anos e, infelizmente, está acostumada aos efeitos que o coquetel de remédios causa, pois é a quarta vez em que foi ferida pela agulha de uma seringa. No entanto, existe um fator com o qual é impossível se acostumar: o medo. “E que medo a gente sente! Porque não sabemos o que tem dentro e podemos pegar qualquer coisa. Pode ter sido utilizada em gado, em gente, pode ter remédio, enfim, aqui vem de tudo. As seringas estão todas sujas, às vezes tem até bichinho dentro. Levamos para mostrar ao médico para ele decidir o que fazer. Mas até a realização dos exames e saber que está tudo certo, não temos o que fazer”.

Indignação 

Para o presidente do Samae, Ricardo Campestrini e o diretor de reciclagem, Jair de Oliveira, o sentimento é um só: indignação. Oliveira conta não ser comum aparecerem tantas seringas em um espaço tão curto de tempo. “Devido à negligência e falta de ética de alguns, tivemos acidentes recentes com dois servidores. É importante que se entenda que estas pessoas atingidas terão que tomar um coquetel de remédios por aproximadamente 30 dias e, além dos efeitos colaterais físicos, terão que lidar com o efeito psicológico”, pontua.

Quando acidentes desta natureza são registrados, a autarquia realiza a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e o colaborador é encaminhado ao hospital para que as providências sejam tomadas. “Nossa maior preocupação é sempre com a saúde do servidor”, ressalta Campestrini.

Para ele, a situação se traduz em falta de respeito ao próximo. “Onde foi utilizada esta seringa? O que tinha ali dentro? Qual o risco que estou correndo? Essas são as perguntas que ficam na cabeça de quem foi atingido por uma destas agulhas. Falta às pessoas a capacidade de se colocar no lugar do outro: se eu estivesse lá separando este material, gostaria de ser picado por uma agulha? Gostaria de encontrar absorventes e fraldas sujas no lixo reciclável sendo que deveriam estar no orgânico? É essa falta de respeito ao ser humano que nos deixa revoltados. É preciso ter a consciência de que há pessoas manuseando estes materiais e que podem se ferir”.

Destinação 

Para quem possuir agulhas e seringas em casa, é importante saber que este se trata de um material infectante, portanto não deve ser descartado nem no lixo comum e muito menos no reciclável. O correto é colocar as seringas dentro de uma garrafa pet, fechar e levar até o Posto de Saúde para que se dê o destino correto.

Quanto aos casos registrados nestes últimos dias, o Samae tomará providências para prevenir que mais acidentes ocorram. 

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